O que este conteúdo fez por você?
- Em vez de falar “onde” investir separando por classe de ativo, esse ano acredito que o Brasil como um todo é um mar de oportunidade para quase todas as classes de investimentos
- Como investir, em termos percentuais do seu patrimônio, cabe a você decidir de acordo com os riscos, apetite por retorno e principalmente, de acordo com seu perfil de investidor
Este é meu primeiro artigo. Você está começando a me conhecer e provavelmente já deve estar pensando “que cara louco, comprar Brasil com toda essa crise?”
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Se for para começar aqui, falar o básico e seguir a linha que todos falam, não precisaria ter o meu espaço, como também quem não arrisca não petisca. O que estamos passando hoje é uma combinação de fatores que deixa o nosso País como um dos mais atrativos para o ano que vem, praticamente em todas as classes de ativos.
Gosto sempre de analisar a economia e o cenário para investimentos desenhando um “T” em uma folha de caderno. Do lado esquerdo preencho o título da coluna com “Riscos” e o lado direito como “Triggers positivos”. Resumidamente, estou separando o que eu sei que tem de risco no mercado hoje, e que já está no preço, e o que pode acontecer de positivo que pode levar o cenário para o campo do neutro para otimista.
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Em época de fim de ano três coisas são certas: maratona de “Esqueceram de Mim”, políticos entrando em recesso de meses e artigos como “Onde e como investir para o próximo ano”.
Em vez de falar “onde” investir separando por classe de ativo, acredito que o Brasil como um todo é um mar de oportunidade para quase todas as classes de investimentos. Sendo assim, vamos falar de cenário macro e os pontos positivos para cada classe. Como investir, em termos percentuais do seu patrimônio, cabe a você decidir de acordo com os riscos, apetite por retorno e principalmente, de acordo com seu perfil de investidor.
O que colocar na coluna de “riscos”?
Inflação em alta
Provavelmente vamos fechar o ano com uma inflação de quase 12% no ano. O relatório Focus (pesquisa do BC feito com diversos players de mercado) já começa a apontar para uma inflação crescente e acima de 5% em 2022, de acordo com a pesquisa divulgada dia 13 de dezembro. E você já sabe: inflação alta é igual a menor poder de compra para a população.
Crescimento fraco
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O PIB para 2022 também começa a passar por revisão e para 2022 se aproxima de 0% de “crescimento”, se é que podemos considerar isso um crescimento. A soma dos fatores juros altos + inflação (menor poder de compra) diminui o ritmo dos investimentos e do consumo das famílias. Ou seja, a combinação “perfeita” para a queda na atividade econômica como um todo.
Aqui vale destacar que, conforme a expectativa pelo PIB vai caindo, o ajuste também é feito na expectativa de crescimento/resultado das empresas como um todo, gerando um efeito dominó de revisão de projeções – e aqui podemos incluir o próprio Ibovespa como exemplo.
Crise fiscal
Enxugar e correr para manter (ou reduzir) a dívida/PIB que está próxima dos 85% ou deixar correr e ver no que vai dar, voltando à velha economia de juros altos, inflação alta e crescimento pequeno? Caminhamos para uma situação em que a alta de juros é prejudicial para a própria dívida brasileira que paga mais juros ao mesmo tempo em que a receita diminui por conta de atividade econômica pior e menos impostos.
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Eleições 2022
Como deixar de lado o mais importante evento para o Brasil a cada quatro anos? E não, não é a Copa do Mundo! Estamos longe ainda das eleições e como sempre é muito difícil prever o resultado, mas uma coisa é certa: teremos volatilidade no mercado local (juros, câmbio e bolsa) além de um resultado mais extremista, direita ou esquerda.
As propostas divulgadas ao longo do ano e o acompanhamento das intenções de votos serão muito importantes para traçar os próximos quatro ou oito anos, dependendo de quem for eleito.
Expectativa e preço
Vamos numa linha diferente e esquecer os pontos positivos que podemos ter para 2022. Sim, vamos pegar aquela parte da coluna e riscar, esquecer que podemos ver reformas passando, inflação mais baixa, recuperação econômica acima do esperado e outros – o que quero mostrar é que isso não importa ao justificar que o Brasil é o melhor investimento para o brasileiro em 2022.
Tem uma frase que gosto muito: “O mercado antecipa tudo, mas também erra”. Tudo o que listei é o que já sabemos e que já está no preço do mercado em praticamente todas as classes de investimentos.
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Ou seja, tudo que sabemos e esperamos já está no preço. Ou você acha que só você está de olho nesses riscos para 2022?
Fazendo um comparativo contrário à especulações de bolha, mas usando para parte de riscos, há a icônica frase do ex-presidente americano John Kennedy sobre a hora de vender ações, que no nosso caso pode ser como avaliar os riscos de mercado: “Quando até o engraxate recomenda comprar ações, está na hora de vender”.
Ou seja, tudo está no preço. De novo, “o mercado antecipa tudo, mas também erra”. O risco que temos a mais para 2022 está exatamente nessa parte. Errar um pouco pra mais ou menos, ok, mas o que não sabemos é a surpresa, aquilo que não está no preço de ninguém. Por isso, independentemente de investir em apenas um mercado como o Brasil, a diversificação em classes de ativos é essencial.
Antes de tudo, a diversificação
É sempre crucial considerarmos a diversificação na hora de construir e cuidar da nossa carteira e o clichê não coloque todos os ovos na mesma cesta” deve ser um mantra de todo investidor. Por dois motivos: diversificação te proporciona ter muito upside e menor downside.
Em outras palavras, você aumenta as suas chances de se dar bem em diversos cenários enquanto também se protege e diminui suas chances de se dar mal em diversos cenários.
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Concordo e assino embaixo desse comentário da Bettina Rudolph que sempre bate na tecla de investir, diversificar e o mais importante, saber o que você está fazendo.
E ela continua: “Se quisermos ser um pouco mais técnicos aqui, não apenas diversifique a sua carteira mas também busque investimentos que caminham em direções opostas, o que chamamos de “covariância negativa”. É como um guarda-chuvas e um traje de banho: você não vai usar os dois ao mesmo tempo, mas deve sair de casa com os dois para estar preparado e se dar bem em qualquer cenário.”
Além de mitigar os riscos na sua carteira, diversificar traz uma possibilidade de quando uma classe de ativo subir muito, ajustar e aproveitar a baixa em outra. Ou seja, você fica posicionado em diversas frentes e pode trabalhar com os % alocados ao longo do ano, em vez de estar totalmente preso, sem nenhuma flexibilidade, em apenas uma classe de ativo.
E como investir? Ou por que investir em cada uma das classes abaixo?
Renda fixa
Voltamos a ser quase o maior exportador de juros do mundo, nosso melhor produto. E dando um tapa na cara das matérias do começo do ano, a renda fixa não morreu.
A questão fiscal negativa obriga o governo a subir juros para conseguir dinheiro ao mesmo tempo que o BC precisa agir via política monetária para conter a inflação.
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Enquanto há uma expectativa para juros de 12% a.a. no ano que vem, é possível encontrar hoje títulos pré- fixados pagando desde agora 13% a.a. – muito acima do CDI e acima do tão esperado 1% ao mês que vive na cabeça do brasileiro.
Fundos imobiliários
Enquanto a maioria das matérias traz mensagens para ficar fora de fundos imobiliários, vou na linha contrária. Em parte, eu concordo quando olhamos a questão dos dividendos dos fundos imobiliários que rodam em uma média de 8% a.a. líquido, fica um pouco desinteressante quando comparado à renda fixa, que quase não tem risco.
A oportunidade dessa classe está além dos dividendos e sim em fundos imobiliários que hoje estão com preços em bolsa menor do que seu próprio valor patrimonial e ainda pagando altos dividendos.
Já que exposição em fundos imobiliários não é para curto prazo, aqui há uma possibilidade de ganhar na valorização da cota quando se voltar à preços justos patrimoniais e também nos dividendos mensais.
Ações
Um dos assuntos que mais gosto é a classe de investimentos mais descontada entre todas. Como reforça o JP Morgan, em relatório, as ações já incorporam todas as notícias ruins e as valuations estão em níveis abaixo das médias históricas.
Na semana passada estive com o João Braga, analista e sócio da Encore Asset, e um dos principais nomes do mercado financeiro, conversamos sobre o Ibovespa.
“O que a gente consegue olhar pra trás, abordar, fazer conta, encostar, ver é o valuation! Ver o preço que o mercado está atribuindo às empresas e ao Ibovespa. O índice raramente esteve nesse preço atual. Usando o Preço/Lucro como métrica, usando 12 meses pra frente (já considerando uma quase recessão), está abaixo de 8 anos, número absoluto pior que em época de Covid (2020) e recessão do segundo governo da Dilma).
Ele está falando sobre um dos principais indicadores usados para avaliar se ações e índices estão baratos ou caros. O P/L médio do Ibovespa gira em torno de 10,6 anos – ou seja – 10 anos para recuperar o capital investido considerando apenas o lucro das empresas.
Estamos em um momento tão ímpar que hoje o índice está negociando em 7,6 anos – um “desconto” de quase 30% em relação à média histórica de 15 anos em 11,2x.
Se olharmos algumas ações ainda podemos achar casos como o Itaú que é exemplo dado pelo Joao Braga; “mundo conhece, gringo gosta, empresa sólida e tal…desde 2004 o valuation usando a métrica do PL só vi esse preço em 4 x, sendo a quarta vez o preço atual.”
O mais engraçado, e talvez a melhor lição para quem se posicionar, foi como terminou nossa conversa: “compre, medite e espere”.
A Brasil Capital fez um levantamento da performance do Ibovespa em crises. Na média, o retorno do índice Ibovespa no primeiro um ano após a crise foi de 129%, enquanto 2 anos após a crise essa média sobe para 208%!
Fundos internacionais hedgeados
A última classe de ativos é uma que talvez não esteja no radar da maioria dos investidores.
Investimento no exterior, através de veículos brasileiros e com hedge contra a proteção cambial pode não ser algo usual para a maioria dos investidores, mas hoje com plataformas abertas e taxa de juros real alta, é uma classe que precisamos ficar de olho.
Vamos esquecer onde o fundo internacional vai investir, esse não é o ponto aqui. A ideia é mostrar que você pode diversificar, e ganhar por conta do cenário atual pessimista já conhecido por nós, independente do que acontecer lá fora.
Temos que começar já respondendo sua primeira dúvida – “Por que hedgeado?” – Segundo o head de Alocação da Criteria Investimentos, Caio Schettino: “os fundos hedgeados (sem exposição cambial) tendem a ajustar para o carrego na moeda que tem exposição. Logo, quanto maior a diferença entre o CDI frente a Libor e FFR, maior será o ajuste em reais. Atualmente, o carrego dos fundos internacionais hedgeados gira entre 8-9%a.a. – se já temos este valor garantido com tendência de aumentar, faz sentido incorrermos risco cambial?”
Hoje a diferença entre as taxas de juros estão próximas a 9% sendo 9,25% a Selic atual contra 0,25% (aproximado) da FFR (FED Federal Rates – juros americanos). Para 2022 a expectativa é que essa diferença aumente já que temos projetado algo próximo a 12% para Selic e no máximo 0,75% para a FFR – aumentando a diferença atual de 9% para 11,25% – um aumento de 25% no spread.
E qual é o melhor ativo?
Paciência. A paciência mais o tempo traz ótimos resultados para o investidor que procura oportunidades e tem perfil para alocar, sabendo que pode errar o fundo do poço mas que desde que entrou, a relação preço x valor estava barata.
A paciência também é um investimento e remunera muito bem se souber aproveitar as oportunidades.
Para mais conteúdos, me segue lá no instagram @vmiziara.