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Colunista

De inflação para deflação: a crise nos EUA que derrubou o dólar (e pode avançar mais)

No início do ano, o mercado temia que as tarifas prometidas por Trump gerassem inflação nos EUA, prolongando juros altos

Donald Trump, eleito para um novo mandato nos EUA. (Imagem: Alan Santos /PR)
Donald Trump, eleito para um novo mandato nos EUA. (Imagem: Alan Santos /PR)

O mercado vive de narrativas e cheio de “engenheiros de obra feita”. É incrível que sempre há uma justificativa clara e que explica de forma quase que lógica o movimento, que já passou.

No início desse ano, li (e compartilhei no grupo do Whatsapp – clique aqui) mais de 25 relatórios feitos no Brasil e por bancos estrangeiros sobre os principais riscos para 2025 e em nenhum deles havia a palavra deflação.

Os principais riscos eram sobre assuntos atuais como inteligência artificial, guerra comercial, guerras geopolíticas e esperadas (como Taiwan), juros altos nos Estados Unidos e falta de liquidez nos mercados. Nenhum assunto praticamente novo e ninguém se arriscando a dizer que algum outro assunto poderia tomar os holofotes do mercado.

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Pois bem, o S&P500 já caiu mais do que 10% da máxima histórica e nas últimas semanas o fluxo vendedor parece estar sobrando em Wall Street e a justificativa da vez tem um novo nome: deflação.

Imagina você estar preocupado com a alta de algo e em questão de semanas, começar a se preocupar com a baixa dela. Exatamente o que aconteceu e que agora é o novo assunto por lá e no mundo todo.

No começo do ano, a expectativa e preocupação do mercado era de que as tarifas prometidas pelo Trump contra todos poderia causar um efeito inflacionário nos EUA que poderia levar a juros mais altos por mais tempo. Explico: o Trump colocaria taxas de importações sobre produtos de outros países. O preço do produto chegaria nos EUA mais caro e o americano continuaria comprando, elevando mais ainda os preços já que além de mais caro por conta das tarifas, também haveria uma queda na oferta já que alguns importadores parariam de importar tais produtos.

Agora, a narrativa mudou. Como o americano está vivendo faz tempo em um cenário de juros altos e as dívidas continuam subindo, a preocupação é de que o dinheiro que está sobrando não seria suficiente para continuar comprando produtos que possam estar mais caros por conta das novas tarifas.

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Vale lembrar que no último mês tivemos dados sobre os atrasos em parcelas de compras de carros, algo não visto faz muitos e muitos anos. Menos poder de compra e produtos mais caros levariam os americanos a deixarem de comprar, o que poderia levar a economia para uma atividade econômica menor e quem sabe, uma recessão.

Em poucas semanas o mercado foi de preocupação com a atividade econômica muito forte para um receio de que ela desacelere por causa dos produtos mais caros. Ou seja, foi de preocupação com inflação por conta de tarifas para o medo de deflação em que a demanda por produtos cairia a ponto que forçaria eventualmente os preços pra baixo.

O lado positivo disso foi que o mercado começou a prever, com quase 100% de apostas, que por causa de uma atividade econômica mais devagar o FED (Banco Central dos EUA) poderia se antecipar aos movimentos de queda de juros que agora são esperados pelo mercado em 3 quedas de 0,25%.

E o que isso tem a ver com o dólar?

Juros mais baixos nos EUA significa remunerar menos o título público americano e consequentemente, o dólar. Ter dólar na carteira começa a rentabilizar menos e isso pode fazer com que investidores vendam o dólar e partam para outros mercados, como Brasil com juros real nas alturas. (Fica esse assunto para uma live lá no grupo)

O DXY que é o índice dólar, basicamente uma cesta de moedas do dólar contra as principais moedas que faz negócio, caiu de 110 para 103 em poucos dias e isso mostrou que o dólar perdeu valor contra o mercado todo. Os grafistas começam a projetar que o DXY pode cair para perto de 100 – o que levaria aqui no Brasil o dólar para perto de R$5,60.

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Nas últimas semanas o dólar caiu aqui no Brasil de R$ 5,90 para R$ 5,70, enquanto o DXY caiu no mesmo prazo de 108 para 103 – a mesma queda em % que vimos aqui no dólar x real.

Agora, a pergunta que fica é: se houver uma crise mais forte nos EUA, uma recessão econômica que possa levar o mundo todo para um mergulho mais forte qual cenário é mais provável: o juro vai cair nos EUA e derrubar mais o dólar ou os investidores irão corrrer para o dólar em caso de crise já que a moeda norte-americana continua sendo o “porto seguro” nos investimentos?

Como disse um grande amigo meu do mercado, “Deus inventou o câmbio para fazer os economistas passarem vergonha”. Eu prefiro esperar acontecer para vir com qualquer justificativa aqui e sem passar vergonha.

Um abraço!

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