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Esta semana vimos COEs – Certificados de Operações Estruturadas – apresentarem perdas de até 93% do seu valor. Isto é, quem investiu R$ 100 ficou com R$ 7,00. Não quero discutir a qualidade desse tipo de produto, isso já foi bastante explorado por dois professores da FGV, Fernando Chague e Bruno Giovanetti (procure estudos deles sobre esse e outros assuntos na internet, são muito bons). Quero aqui discutir um tema que é pouco explorado: a assimetria de informações no mercado financeiro.
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Mas vamos começar com um exemplo mais simples: você vai comprar um carro usado. Se não for o carro de um familiar ou amigo, você sabe muito pouco sobre ele. Quem conhece o carro é o vendedor. Há uma enorme assimetria de informações nessa operação. Você leva um funileiro, um mecânico e mais alguém que entenda de carros para minimizar essa assimetria e ver se o carro tem algum problema.
Da mesma forma, quando vai comprar uma casa, leva um amigo engenheiro ou arquiteto para avaliar o estado do imóvel. Você está minimizando a assimetria de informações. Você não confia no vendedor, e faz muito bem.
E quanto aos seus investimentos? Você procura minimizar a assimetria de informações? Duvido.
Comecei o artigo falando de COEs. O que eles são? Uma combinação de ativos, incluindo aí derivativos, em geral opções. E você sabe avaliar uma opção? Quase certo que não, já que para isso você precisaria conhecer uma coisa chamada cálculo estocástico, que é o degrau de cálculo acima do integral/diferencial que os engenheiros aprendem na faculdade. Muito pouca gente sabe avaliar uma opção, e essas pessoas estão do lado que vende o COE. Assimetria de informações imensa, e quase impossível de ser minimizada.
Mas há outros produtos com alta assimetria, como os futuros, as opções exóticas e outras operações estruturadas, que combinam vários derivativos num mesmo pacote.
A assimetria também existe na informação corporativa. Em geral um investidor pessoa física não tem acesso a sistemas de informação financeira, como profissionais têm. Afinal esses sistemas não são baratos.
Aí uma forma de minimizar a assimetria é investir em fundos de investimentos, que no Brasil são muito transparentes. E muito regulados, obrigando o gestor a fornecer um conjunto grande de informações ao investidor. Aliás, o site da CVM traz muita informação sobre eles. Esses fundos fazem o trabalho de garimpar informações por você. E há muita informação facilmente acessível sobre a qualidade de fundos de investimentos no Brasil.
A pergunta que fica é: por que você se protege tanto quando vai comprar um carro usado ou um imóvel e não faz o mesmo toda vez que faz um investimento? Talvez porque o sistema financeiro se apresente como tecnicamente confiável e sofisticado, criando uma ilusão de segurança. Mas a realidade é que, quanto mais sofisticado é o produto, maior tende a ser a assimetria de informações.
Você quer minimizar a assimetria? Em primeiro lugar comece estudando muito. Muito mesmo. Em segundo lugar, quando for investir em algo, pergunte muito, procure explorar todos os detalhes. Em produtos sofisticados você terá uma surpresa: em geral quem está vendendo também não conhece os detalhes. Em terceiro lugar o mais fácil: procure investir naquilo que conhece e que sabe que não oferece riscos que não estão totalmente claros.
Use e abuse da tecnologia. Faça perguntas sobre o produto que lhe é oferecido a um sistema de inteligência artificial. Detalhe: jamais busque aconselhamento para investimentos num sistema desses, ele não foi feito para isso. Mas pode ajudar muito a entender a complexidade dos produtos.
Investimentos são um mundo complexo. Não são o único, outras áreas também têm suas complexidades. E essas complexidades trazem assimetria de informações. Cabe a nós investidores reduzi-las ou evitá-las. Reduzi-la através do conhecimento, evitá-la buscando produtos menos complexos. Isso vai impedir muitos problemas.
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