Amazon reforça pressão para legalizar maconha nos EUA

(Cristiano Lima e Aaron Schaffer, The Washington Post) – A Amazon está direcionando sua influência em Washington para conquistar o apoio de democratas e republicanos para uma causa difícil: a legalização da maconha. A empresa endossou a legislação da republicana Nancy Mace para acabar com a proibição federal da maconha, como informado pela Forbes; um projeto de lei sobre a temática liderado pela primeira vez por alguém do Partido Republicano.

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Ao fazer isso, a empresa está se voltando para uma campanha inesperada que, se bem-sucedida, poderá facilitar a expansão da mão de obra da gigante do comércio eletrônico, que continua com um grande aumento de contratações.

A gigante da tecnologia demonstrou pela primeira vez seu apoio às iniciativas pela legalização no ano passado e, desde então, fez lobby público e privado para outras propostas lideradas pelos democratas que, como a de Nancy, tirariam a maconha da lista de substâncias controladas pelo governo federal. (Jeff Bezos, o fundador da Amazon, é o proprietário do Washington Post.)

Agora, a gigante da tecnologia está mais uma vez mostrando seu poder político para mobilizar apoio aos legisladores por trás da causa, que, segundo a Amazon, poderia ampliar seu número de candidatos a vagas de emprego, ajudando a diminuir as exigências de testes de drogas e auxiliando na retenção de funcionários.

“Esta não é uma questão com a qual a Amazon normalmente se envolveria”, disse Brian Huseman, vice-presidente de políticas públicas da Amazon, durante uma entrevista na terça-feira. A legalização da maconha também poderia abrir as portas para um novo mercado lucrativo para a empresa. Mas Huseman disse que a Amazon não está interessada em vender maconha. “Não há planos para vender cannabis e essa não é razão de estarmos fazendo isso ou nos envolvendo neste debate”, afirmou.

Na verdade, disse ele, o foco na pressão pela legislação é para tirar da frente impedimentos de contratação, que a Amazon descobriu impactarem de modo desproporcional pessoas não brancas. “Percebemos que isso era um obstáculo à nossa capacidade de contratar funcionários”, disse ele.

Isso inclui dar apoio a dois projetos de lei liderados separadamente pelo líder da maioria no Senado, Chuck Schumer,  e pelo deputado Jerry Nadler, ambos democratas, que eliminariam também alguns crimes relacionados à maconha, além de acabar com a proibição federal. A gigante da tecnologia também convocou seus lobistas para trabalharem em ambos os projetos de lei no segundo semestre de 2021, de acordo com os registros divulgados e verificados pelo Washington Post.

No entanto, o mais recente endosso da Amazon chama atenção particularmente por conta de quem defende o projeto: Nancy,  antiga funcionária de campanha do ex-presidente Donald Trump, que agora está defendendo que a legalização da maconha é algo para o bem dos negócios, favorável aos estados e contra a intervenção excessiva do governo na vida dos cidadãos.

Em uma entrevista diferente na terça-feira, Nancy disse que é crucial ter o reconhecimento das pequenas e grandes empresas “das consequências das proibições da cannabis (…) e do prejuízo de o governo federal atrapalhar a lei estadual e esses tipos de reformas”.

E ela disse que o apoio da Amazon é bastante útil. “Ter a Amazon se posicionando assim tão cedo dá a esse tipo de reforma um grande impulso para seguir em frente”, afirmou.

O argumento de Nancy pode repercutir com outros republicanos que se preocupam com a economia, principalmente com empresas importantes como a Amazon apoiando a iniciativa.

E é uma ideia que a Amazon poderia agora defender diretamente aos colegas de Nancy.

“Estamos conversando com pessoas de ambos os partidos, inclusive republicanos, sobre por que achamos que isso é a coisa certa a se fazer, sobretudo do ponto de vista de um grande empregador e o que isso significa para nossos negócios e nossos funcionários,  e para a expansão da base de funcionários”, disse Huseman.

Nem todos os defensores da legalização estão convencidos de que a Amazon é uma aliada de verdade, nem de que ela não venderá maconha no futuro. “Estou profundamente cética de que o lobby da Amazon não seja nada além de uma movimentação visando o próprio interesse para monopolizar mais um mercado, possivelmente impedindo a participação de empreendedores negros e latinos em uma nova indústria”, disse a senadora democrata Elizabeth Warren, crítica ferrenha da empresa que pediu a dissolução da gigante da tecnologia.

Mas tanto Nancy quanto Huseman disseram que esperam incentivar o apoio de ambos os partidos.

“Uma razão pela qual estamos particularmente empolgados com o projeto de lei da deputada Nancy é que ele mostra que há apoio bipartidário para essa questão, e achamos que esse é um tema a respeito do qual ambos os partidos podem chegar a um acordo”, disse Huseman.

Nancy concorda com ele. “Não há como fazermos esse tipo de legislação em nível federal se não tivermos republicanos e democratas unidos e trabalhando juntos nisso, se não tivermos empresas, tanto grandes como pequenas, se unindo e trabalhando nisso”, disse ela.

Eles esperam encorajar outras empresas a seguirem o exemplo da Amazon também.

“Esperamos e pensamos que outros grandes empregadores neste país devem seguir o mesmo caminho que estamos seguindo, que eles também devem usar seus recursos para fazer lobby pela legalização e fim da proibição federal”, disse Huseman. “É a coisa certa a se fazer.”

O apoio da Amazon vem acompanhado de um risco político, já que há uma forte oposição de alguns republicanos à pressão pela legalização.

Em novembro, o presidente do Partido Republicano da Carolina do Sul criticou o projeto de lei de Nancy dizendo que “o Partido Republicano da Carolina do Sul é categoricamente contra qualquer iniciativa para legalizar e descriminalizar o uso de substâncias controladas; e isso inclui esse projeto de lei”. Nancy foi eleita pela Carolina do Sul.

Mas a perspectiva de retaliação não está fazendo a Amazon mudar de ideia.

“Achamos realmente que esta política é a estratégia certa, é positiva para o país, é apropriada para nossos funcionários, é favorável para os trabalhadores; então vamos pressionar e trabalhar pelo que consideramos como boas políticas, e essa é uma delas”, disse Huseman.

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