Comportamento

Como os carros elétricos estão mudando o universo automotivo nos EUA

Montadoras e governos estão determinando metas para a participação no futuro mercado de veículos elétricos

Como os carros elétricos estão mudando o universo automotivo nos EUA
Carro elétrico da Tesla. Foto: REUTERS/Kim Kyung-Hoon
  • 50% de todos os veículos novos vendidos nos Estados Unidos em 2030 devem ser elétricos
  • No entanto, há uma diferença entre produzir e vender algumas centenas de milhares de unidades por ano e produzir e vender até 10 milhões de unidades por ano, que é a meta para 2030

(Conor Sen, WP Bloomberg) – Uma das maiores disputas econômicas em décadas está começando a tomar forma. Uma enxurrada de decisões de investimentos de vários bilhões de dólares das principais montadoras junto com o crescimento nas vendas de bens de consumo faz com que 2021 pareça o ponto de inflexão para a adoção de veículos elétricos.

E enquanto as montadoras de automóveis e governos estão determinando metas para a participação no futuro mercado de veículos elétricos – até 50% de todos os veículos novos vendidos nos Estados Unidos em 2030 – o lugar onde todos eles serão produzidos permanece uma questão em aberto. Para os estados do sudeste e do sudoeste, trata-se de uma oportunidade de tirar o controle da indústria automobilística de sua histórica casa no Meio-Oeste.

À medida que os veículos elétricos conseguiram alguns por cento de participação de mercado, o modelo da Tesla Inc. definiu o rumo: modernizar uma antiga fábrica de automóveis (a fábrica da Tesla em Fremont, Califórnia, pertencia originalmente a General Motors Co.) e se concentrar em aperfeiçoar um punhado de produtos inovadores até se ter algo que os consumidores queiram comprar. A Rivian Automotive Inc., que está produzindo caminhões elétricos em uma antiga unidade da Mitsubishi Corp. em Normal, Illinois, adotou uma estratégia semelhante.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

No entanto, há uma diferença entre produzir e vender algumas centenas de milhares de unidades por ano e produzir e vender até 10 milhões de unidades por ano, que é a meta para 2030.

Esta é a próxima fase de expansão que está em curso agora. E o que estamos vendo é que os novos planos anunciados parecem diferentes dos que surgiram antes. A Tesla abriu caminho com sua Gigafactory, produtora de baterias, perto de Reno, Nevada, e sua unidade de produção que está sendo construída perto de Austin, Texas. Mais uma vez, seus concorrentes parecem estar seguindo o mesmo caminho.

O grande anúncio recente que está causando burburinho pelo setor é a parceria entre a Ford Motor Co. e a SK Innovation Inc., da Coréia do Sul, para construir fábricas de montagem de baterias e veículos no Kentucky e no Tennesse no valor de US $ 11,4 bilhões, o maior investimento na história da Ford. Se as montadoras de automóveis esperam atender à demanda prevista de veículos elétricos em 2025 ou 2026, elas precisam agir agora para terem tempo de construir a capacidade de que precisarão no futuro. Essas decisões basicamente prendem as montadoras em um futuro eletrizante; como disse meu colega da Bloomberg, Nathaniel Bullard, as despesas de capital são o destino.

Para as cidades e estados que esperam ganhar esses anúncios de instalações, um conjunto de características para o sucesso está começando a se formar.

Primeiro, ofereça um local industrial enorme e pronto para escavações perto das principais rodovias – as duas instalações da Tesla em Nevada e no Texas têm entre 1000 e 1214 hectares, ou quase um quinto do tamanho de Manhattan. Já as planejadas para a Ford, nos arredores de Memphis, serão ainda maiores, com quase 1500 hectares.

Publicidade

Depois, aumente o número de incentivos financeiros. O Tennessee ofereceu incríveis US$ 500 milhões em isenções fiscais para atrair a Ford e a SK – o valor final vai ser baseado no número de empregos criados. O estado americano é um estudo de caso particularmente interessante devido à presença da concessionária de energia elétrica Tennessee Valley Authority, que ofereceu incentivos e melhorias no fornecimento de energia por conta própria. As fábricas de baterias usam cinco vezes mais eletricidade do que as fábricas de montagem comuns, tornando a capacidade de oferecer energia barata e confiável para usuários industriais uma vantagem competitiva.

Parte do pensamento das lideranças estaduais a respeito dos incentivos é que se trata de uma chance única para o estado se tornar para os veículos elétricos o que Michigan foi para aqueles movidos a gasolina: um centro de produção que cria dezenas de milhares de empregos para a classe média, o que leva a uma onda secundária de crescimento à medida que cadeias de suprimentos são construídas nas proximidades.

As grandes montadoras estão na vantagem e são capazes de colocar estados como Nevada, Arizona, Texas, Kentucky, Tennessee, Geórgia e Carolina do Sul uns contra os outros para aumentar os benefícios.

Outro fator na disputa é se os estados têm sindicatos ou não. No passado, as montadoras se instalaram em estados que não exigiam sindicalizações, como o Alabama e a Carolina do Sul, para evitar ter de lidar com sindicatos.

O que é singular na transição para o veículo elétrico é a oportunidade de transferir a grande maioria da produção de estados com sindicatos para não aqueles que não exigem a sindicalização em um curto período de tempo. E isso levanta a questão de se a visão econômica do presidente Joe Biden – um renascimento da economia verde no Meio-oeste impulsionado por trabalhadores sindicalizados – irá se chocar com a dura realidade de que os estados do sul podem oferecer incentivos que os do Meio-oeste não conseguem.

Publicidade

Grandes lotes de terra prontos para escavações e perto de rodovias, eletricidade barata e confiável, centenas de milhões de dólares em incentivos fiscais e, talvez, mão de obra não sindicalizada; os estados capazes de oferecer todos esses itens parecem ter pinta de vencedores em um mundo de veículos elétricos. Aqueles que não podem, devem se perguntar o que isso significa para o futuro deles.

– – –

Conor Sen é colunista da Bloomberg Opinion e fundador da Peachtree Creek Investments. Ele escreveu para o Atlantic e Business Insider e vive em Atlanta.

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos