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Comportamento

Investimento e emoção: estudo mostra como o psicológico afeta seu bolso

Estudo aponta que as pessoas não são sempre racionais ao investir e podem estar perdendo dinheiro por isso

Investimento e emoção: estudo mostra como o psicológico afeta seu bolso
Vieses comportamentais podem impactar na construção de carteiras (Foto: AdobeStock)
O que este conteúdo fez por você?
  • Entenda a diferença entre os investidores comportamentais e investidores racionais
  • Veja dicas de estratégias para controle emocional na hora de montar uma carteira de investimentos

Os chamados “investidores comportamentais” têm uma tendência a se deixar a levar por vieses equivocados, como o excesso de emoções, que afetam a construção de sua carteira de investimentos. Por conta disso, tendem a ter desempenho pior do que os investidores racionais, mesmo que sejam mais bem-sucedidos em termos absolutos.

É o que aponta um estudo da associação CFA Society Brazil e enviado com exclusividade ao E-Investidor. Elaborado pelos especialistas em Finanças, Claudio Barbedo e Gustavo Rezende, a pesquisa foi lançada num webinar intitulado “Impacto de vieses comportamentais na construção de carteiras”, nesta quinta-feira (9), às 18h30.

De acordo com as análises, os investidores como esse perfil de comportamento são conhecidos por escolher ações de empresas mais expostas na mídia, com as quais se sintam emocionalmente conectados. Eles também são mais propensos a escolher fundos de alto custo e trocar entre classes de ativos de forma agressiva, sem considerar os custos envolvidos ou o histórico do gestor.

“O critério de escolha de um investidor que se deixe influenciar pela emoção é escolher apenas ativos com grande perspectiva de valorização no futuro, ainda que a probabilidade desse movimento seja baixíssima”, afirmam os especialistas. “O indivíduo com mais informação e menos influência de vieses escolheria um ativo que tem maior perspectiva de valorização ao longo do tempo.”

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Além disso, há uma propensão a investir em fundos com base no desempenho recente em vez de considerar retornos passados ou performance histórica superior. E estão inclinados a resgatar seus investimentos com frequência, escolhendo momentos inadequados para entrar e sair do mercado.

Como otimizar a sua carteira de investimentos?

O estudo apresenta um conceito psicológico chamado “heurística da representatividade” descrito pelos economistas comportamentais Daniel Kahneman e Amos Tversky. Ele se refere à tendência das pessoas em fazer julgamentos com base em semelhanças superficiais entre eventos ou situações, em vez de considerar informações estatísticas mais relevantes. Este seria o perfil do investidor comportamental.

Já os racionais são caracterizados pela teoria tradicional, do economista e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1990, Harry Markowitz, que preconiza a formação de carteiras visando maximizar o retorno esperado com o menor risco possível. Seu modelo é utilizado para construir carteiras diversificadas, considerando o equilíbrio entre risco e retorno esperado.

Para isso, o primeiro passo é a construção de cenários com suas respectivas probabilidades. Por exemplo, verificando qual será a proporção de crescimento (forte, brando ou recessão) no próximo ano, e pela precificação do retorno de cada ativo em cada cenário.

Em seguida, a carteira deve ser montada com os ativos líquidos listados na B3 (a Bolsa de valores) por meio da estimativa de retornos esperados, desvios-padrões, covariâncias e o cálculo da função quadrática de cada ativo. Por fim, definir o objetivo, ou seja, maximizar a utilidade desses investimentos. Os especialistas afirmam que esse procedimento gera o mesmo resultado de uma maximização dos dividendos esperados.

Essa carteira tende a ser composta por ativos com maior expectativa de retorno e apresentar a melhor relação de retorno-risco.

Veja algumas estratégias de controle emocional para investidores

A inteligência emocional é essencial para o sucesso profissional, segundo o estudo. As emoções, muitas vezes intuitivas, visam à preservação da vida, não à otimização financeira. Experiências mostram como as emoções influenciam as decisões, mesmo quando irracionalmente.

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Barbedo e Vieira mencionam um experimento realizado com três grupos de voluntários em laboratório. O primeiro grupo consistia em indivíduos com condições neurais que os privavam da sensação de medo. O segundo era formado por sujeitos com danos cerebrais não associados ao medo, enquanto o terceiro era composto por voluntários sem nenhuma condição neurológica.

Todos os participantes receberam inicialmente US$ 20 e concordaram em participar de um jogo de cara ou coroa, no qual podiam apostar ou abster-se em cada rodada. Se acertassem o lado da moeda voltado para cima, ganhariam US$ 2,50, mas se errassem, perderiam US$ 1,00.

Ao final do jogo, tinham a opção de manter o valor acumulado. Os resultados indicaram que o conjunto com lesões associadas ao medo participou em 84% das rodadas, enquanto o grupo com outras lesões participou em 61%, e o grupo sem lesões, em 63%. Ademais, os participantes com lesões relacionadas ao medo continuaram a apostar em 85% das rodadas após sofrerem uma perda, ao passo que aqueles sem lesões apostaram apenas em 47% das vezes.

Apesar da estratégia racional sugerir a participação em todas as rodadas, as emoções, raciocínios e heurísticas tiveram um impacto significativo sobre os apostadores sem lesões. Pensando nisso, o estudo da CFA Society Brazil levanta algumas dicas para auxiliar no comportamento de um bom investidor.

1. Reflita cuidadosamente sobre as informações

A ‘heurística da representatividade’ indica que as pessoas têm uma tendência a julgar eventos com base em estereótipos. Por exemplo, ao avaliar uma ação de um banco, um investidor pode presumir que não é necessário pesquisar o histórico da empresa, pois todas as ações de bancos listadas em bolsa têm apresentado bom desempenho.

Isso ilustra diretamente a influência da representatividade, que é moldada pelas características típicas das ações do setor, mas, no entanto, não oferece proteção ao investidor em relação às condições específicas daquela empresa em particular.

2. Evite associar felicidade com materialidade

Após um período, pessoas que ganham na loteria podem enfrentar o que psicólogos chamam de “adaptação hedônica”. Esse termo descreve como ao se acostumarem a um novo padrão de vida, as pessoas passam a considerá-lo normal e, eventualmente, chato.

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A transição radical na qualidade de vida decorrente da riqueza resulta em uma felicidade que, essencialmente, é temporária. Portanto, associar emoções com os bens podem não permitir uma boa noção da realidade.

3. Evite oscilar entre excesso de autoconfiança e autocríticas

Enquanto investidores profissionais elaboram estratégias consistentes, os amadores podem flutuar entre momentos de entusiasmo e desânimo. É útil compartimentalizar seus projetos de vida, estabelecendo objetivos diversos e trabalhando simultaneamente neles. Nada é mais danoso do que alimentar expectativas negativas.

4. Não defina expectativas irrealistas

Evite estabelecer expectativas irrealisticamente altas para seu desempenho financeiro e não confie em promessas miraculosas vindas de livros ou de pessoas. Investidores profissionais nos mercados internacionais, que lidam com volumes substanciais de capital, empenham-se para entregar retornos reais, ou seja, acima da inflação, geralmente pouco superiores a 2% ao ano, mesmo quando enfrentam riscos associados a projetos em países com classificação de crédito questionável.

É crucial compreender que, ao planejar a acumulação de recursos para objetivos específicos, como aposentadoria, viagens ou compra de imóveis, a acumulação financeira resulta não apenas dos rendimentos dos investimentos, mas principalmente da disciplina de uma poupança consistente. Isso requer persistência em resistir aos impulsos de consumo imediato em favor de benefícios futuros mais significativos.

5. Não é preciso provar seu valor através do mercado financeiro

Investidores conscientes compreendem que seu valor não reside apenas em prever os movimentos do mercado, mas, principalmente, nas relações familiares, amizades e nas pequenas alegrias cotidianas. Podemos controlar nossas reações, mas não o mercado em si.

É sensato aguardar a calmaria, permanecer em contato com profissionais do mercado e, enquanto isso, desfrutar de viagens e atividades gratificantes.