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Comportamento

CEO brasileira quer provar que investir em diversidade gera lucro

Para Luana Ozemela, da DIMA Consultoria, discussão ainda está ligada ao risco reputacional, não à mudança real

CEO brasileira quer provar que investir em diversidade gera lucro
Ozemela é CEO da DIMA Consultoria, que tenta aproximar empresas e investidores do Brasil e do Catar. Foto: Divulgação
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  • Tema cada vez mais presente no mercado, a pauta ESG está mais ligada à visibilidade das empresas do que mudanças reais no sistema financeiro, explica Luana Ozemela, da DIMA Consultoria
  • Ozemela lidera o o Roots Funding, um fundo de US $30 milhões de private equity voltado para investimento em empresas criadas por negros, mulheres, LGBTQIA+ e indígenas

“Não é filantropia”, afirma Luana Ozemela, CEO da DIMA Consultoria, doutora em economia e professora pesquisadora de gênero e políticas públicas da universidade Hamad Bin Khalifa, da Fundação do Qatar. Em entrevista ao Canal Um Brasil da FecomercioSP, como parte da série UM BRASIL e BRASA EuroLeads, a empresária e ativista fala sobre ESG e o espaço que criou para mostrar ao mercado que investir em diversidade não dá só visibilidade e impacto social, mas gera lucro.

“Eu não falo em aumentar a representatividade. Eu falo em capitalizar nas diferenças que essa diversidade traz. A diversidade racial e toda a diversidade de experiências e pensamentos que aquela pessoa traz para dentro da empresa, e o que isso pode impactar em desempenho financeiro”, afirma.

Tema cada vez mais presente no mercado, a pauta de ESG – sustentabilidade, social e governança – está mais ligada à visibilidade das empresas do que mudanças reais no sistema financeiro, explica Ozemela. “A discussão precisa uniformizar as interpretações da sigla ESG, abraçando principalmente no pilar S, o tema social, de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento”, afirma.

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Na visão de Ozemela, o sistema financeiro já avançou muito nas questões de sustentabilidade, no entanto, apesar dessa discussão estar mais presente, ainda não é uma prioridade. “Eu não diria que o sistema financeiro está atrasado, porque, para estar atrasado, primeiro é preciso tomar a decisão de fazer algo. E, na minha visão, o sistema financeiro ainda faz algo pelo tema somente por causa do risco reputacional”, pontua.

Um relatório recente da London Stock Exchange mostrou que mais de 90% dos investidores no mercado financeiro não aceitariam reduzir o retorno financeiro da empresa em troca de gerar impacto social. O que move o investidor no sistema financeiro é o risco e não o potencial que diversidade e equidade tem de gerar retorno nas carteiras.

“O lado bom é que as empresas estão começando a enxergar e aceitar que existe uma diferença, mas ainda não entendem e nem conseguem traduzir de forma concreta o que essa diferença poderia estar impactando no seu desempenho”, diz a CEO.

Roots funding

Nascida em uma família de ativistas e militante do movimento negro na juventude, Ozemela diz não lembrar em quando não pensou no tema do empoderamento econômico da população negra – para ela, um dos principais pilares para promover a mobilidade social e eliminar as desigualdades raciais estruturais do País.

A empresária passou sete anos no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), liderando empréstimos para que bancos públicos pudessem criar fundos de investimentos para indígenas. Decepcionada por não ter recebido nesse período uma solicitação de financiamento voltada ao desenvolvimento da população negra, Ozumela passou a se aproximar mais da iniciativa privada.

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Em 2015, à frente do Inova Capital, o Programa de Apoio a Empreendedores Afro-Brasileiros do BID, a empresária começou a perceber que o mercado também não estava preparado para a diversidade racial. Havia dificuldade de enxergar o potencial dos empreendimentos feitos por pessoas negras, os gestores não queriam promover fundos específicos para essa população e não haviam investidores negros nos pitchs. O resultado: Ozemela lançou o programa, mas não foi possível lançar o fundo.

“No imaginário do setor financeiro, as pessoas negras estavam vendendo cocada na beira da praia, não à frente de empresas de tecnologia. O programa que era para lançar o fundo com a iniciativa privada, se tornou um programa para desmistificar esse viés”, conta.

Quatro anos depois, a economista e CEO decidiu ir atrás dos parceiros certos e construir esse fundo por conta própria. Assim nasceu o Roots Funding, um fundo de US$ 30 milhões de private equity voltado para investimento em empresas criadas por negros, mulheres, LGBTQIA+ e indígenas.

“Foi um processo longo, hoje estamos no período de capitalização. Queremos ter um efeito demonstrativo para o mercado financeiro. Mostrar que é possível ter rentabilidade investindo em empreendedores diversos”, afirma Ozemela.

Relação com o Catar

Ozemela também é CEO e fundadora da DIMA, uma consultoria de investimentos internacionais baseada no Catar. Única mulher brasileira registrada no Qatar Financial Centre, o centro financeiro de Doha, Ozemela enxerga o negócio como uma ponte entre iniciativas de empresas brasileiras e latino-americanas com o país árabe.

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“O Catar busca empresas dispostas a levar seus recursos financeiros para dentro do país, para criar empregos. E nós nos demos conta que havia aí uma oportunidade de levar empresas para o Catar, de aumentar essa reciprocidade”, explica. Para a CEO, a relação diplomática entre os países se enfraqueceu, apesar de o Brasil não ter saído do radar do país, que investe em empresas brasileiras e tem participações ativas em licitações do bloco petrolífero. E é esse espaço que a DIMA trabalha para reduzir, visto que os dois países já são parceiros comerciais.

Dados do Comex Stat, o portal de estatística de comércio exterior do governo federal, mostram que, em 2021, o Brasil exportou US$ 284,3 milhões para o país árabe, em produtos como carnes de aves e bovina, alumina e motores e máquinas não elétricas. Do outro lado, importou do Catar fertilizantes, óleos combustíveis de petróleo, e alumínio, totalizando uma negociação de US$ 789,3 milhões.

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