Apesar de muitos brasileiros acharem que a valorização do dólar hoje não os afeta diretamente, a realidade é que a moeda norte-americana a preços mais altos tem um impacto na economia e na vida de toda a população, afirmam especialistas ouvidos pelo E-Investidor nesta terça-feira (2), quando o câmbio voltou a bater um novo recorde anual de R$ 5,66, alta de 0,12%.
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“Atrapalha desde a vida do investidor até a da dona de casa”, diz o mestre em economia da Faculdade Getulio Vargas (FGV), Caio Dias. Para ele, dólar valorizado reflete uma economia brasileira desequilibrada gerada por fatores tanto internos quanto externos. “Críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autoridade monetária do País [Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central] e dados econômicos dos Estados Unidos se transformam num grande problema que, pelo visto, não será resolvido tão cedo”, analisa.
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Essa desvalorização do real leva a uma perda de poder de compra em relação ao resto do mundo. “Não há como dizer ‘semana que vem isso melhora’ porque é imprevisível. A consequência disso é que o real se desvaloriza e ficamos mais pobres”, pontua Dias.
Para entender como a variação do dólar influencia a economia, é preciso adotar uma lógica simples: ganha mais quem recebe pagamentos em dólar e perde quem tem custos a pagar na moeda americana. Os impactos mais imediatos no bolso do consumidor, segundo o analista financeiro Bruno Dantas, aparecem nas viagens internacionais, já que o câmbio influencia tanto nos gastos em dólar quanto no preço das passagens e dos combustíveis.
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Se a alta persistir e se transformar em uma tendência permanente, diz ele, os efeitos podem ser mais abrangentes, como na inflação de alimentos, vestuário e nos custos para as empresas.
Efeitos da disparada do dólar no seu bolso
O primeiro impacto da alta do dólar ocorre na pressão inflacionária. Muitas matérias-primas são importadas, como trigo, gás e gasolina, e a variação da moeda leva ao aumento do preço de produtos básicos como pão, macarrão e combustíveis.
Além disso, produtos produzidos no Brasil, como soja, carne, café, açúcar e milho, também têm seus preços influenciados pelo dólar. Quando a moeda americana está valorizada, fica mais vantajoso para o produtor exportar, diminuindo a quantidade desses itens na economia doméstica e, consequentemente, em um aumento de preços no mercado interno.
Com o aumento dos preços dos importados, os produtores locais aproveitam para ajustar suas margens de lucro. O aumento dos custos na economia é repassado ao consumidor, que enfrenta inflação e perda de poder de compra. Indústrias que vendem produtos importados ou dependem de matérias-primas importadas, como a indústria química, farmacêutica, revenda de carros importados, perfumes, chocolates e vinhos, são prejudicadas. “Depende da capacidade delas de repassar a alta dos custos ao consumidor”, explica o analista financeiro, Bruno Dantas.
Companhias que fizeram dívidas em dólar para comprar equipamentos ou insumos e não possuem proteção cambial (hedge) enfrentam grandes problemas, segundo Dantas. Há prejuízo também para brasileiros que usam o cartão de crédito no exterior: além do custo de 6,38% de Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), o aumento do dólar encarece ainda mais os gastos, razão pela qual especialistas recomendam usar o cartão de crédito fora do Brasil apenas para emergências.
Quais são os impactos para os investidores?
- Desvalorização de ativos locais
Para aqueles que possuem ativos denominados em reais, a alta do dólar pode significar uma desvalorização desses investimentos. A Bolsa de Valores brasileira, por exemplo, pode sofrer quedas à medida que investidores estrangeiros retiram capital do País em busca da segurança dos ativos dolarizados.
- Aumento dos custos de proteção
Investidores que buscam proteção contra a volatilidade cambial podem recorrer a instrumentos de hedge, uma estratégia de investimentos que tem o objetivo de proteger o valor de um ativo, como contratos futuros de dólar. No entanto, esses mecanismos têm um custo, que tende a aumentar conforme o dólar se valoriza. Esse aumento nos custos de proteção pode reduzir a rentabilidade líquida dos investimentos.
- Redução do poder de compra internacional
Aqueles que investem em ações ou fundos no exterior veem seu poder de compra reduzido quando precisam converter reais em dólares. Isso pode limitar a diversificação internacional de portfólios, um componente importante para a mitigação de riscos.
O que os consumidores perdem com a alta do dólar?
- Inflação e preços elevados
A disparada do dólar impacta diretamente o preço de produtos importados, que ficam mais caros para os consumidores brasileiros. Itens como eletrônicos, vestuário e até alimentos sofrem aumento de preço, pressionando a inflação. Isso diminui o poder de compra da população e eleva o custo de vida.
- Aumento dos custos de viagem ao exterior
Para aqueles que planejam viagens internacionais, a alta do dólar pode ser um golpe duro. Passagens aéreas, hospedagens e despesas no exterior ficam mais caras, tornando as viagens menos acessíveis.
- Encarecimento de produtos e serviços com componentes importados
Muitos produtos fabricados no Brasil utilizam componentes importados. Com a valorização do dólar, os custos de produção aumentam e a alta costuma ser repassada ao consumidor final. Isso afeta desde automóveis até medicamentos, impactando o orçamento familiar.
Como se dar bem com a alta do dólar
Para investidores:
- Diversificação: manter um portfólio diversificado que inclua ativos atrelados ao dólar pode ajudar a balancear as perdas;
- Hedge cambial: utilizar instrumentos de proteção cambial pode minimizar os impactos da volatilidade do dólar;
- Acompanhamento econômico: ficar atento às políticas monetárias do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e às tendências do mercado global para antecipar movimentos.
Para consumidores:
- Planejamento financeiro: ajustar o orçamento para evitar dívidas em dólar e se proteger contra a inflação;
- Compra antecipada: adquirir produtos importados ou planejar viagens com antecedência pode garantir preços melhores;
- Substituição por produtos nacionais: optar por produtos fabricados no Brasil pode ser uma estratégia para driblar os altos custos dos importados.