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O que esperar do Ibovespa, dólar, renda fixa e cripto no 2º semestre?

Saiba o que os analistas projetam para os investimentos na segunda metade de 2024

O que esperar do Ibovespa, dólar, renda fixa e cripto no 2º semestre?
Saiba qual a análise para o mercado no segundo semestre (Foto: chompoo em Adobe Stock)
O que este conteúdo fez por você?
  • O Ibovespa fechou o segundo semestre de 2024 com uma queda relevante. Por outro lado, dólar e as taxas prefixadas dos títulos públicos escalaram no período
  • Todo essa situação -- desfavorável -- acontece na esteira de frustrações de expectativas, tanto em relação ao mercado externo quanto o interno
  • Para o segundo semestre, os mesmos assuntos devem continuar em pauta: o início do corte de juros nos EUA e a situação fiscal no Brasil. Um terceiro fator são as eleições presidenciais americanas

O Ibovespa fechou o primeiro semestre de 2024 com uma queda de 7,66%, aos 123,9 mil pontos. Por outro lado, o dólar avançou 15% no período, para a máxima de R$ 5,58. As taxas prefixadas do Tesouro IPCA+, título público atrelado à inflação, também subiram para o patamar de 6,4% – um nível de remuneração visto geralmente em períodos de estresse econômico.

Em relação ao investimento estrangeiro, o fluxo estava negativo em R$ 39,4 bilhões até a última quarta-feira (26), dado mais recente. Todo essa situação — desfavorável — acontece na esteira de frustrações de expectativas, tanto em relação ao mercado externo quanto o interno.

No início do ano, os investidores esperavam que os Estados Unidos começassem a cortar juros. Com isso, a renda fixa americana passaria a render menos, o que aumentaria a atratividade da renda variável global. Contudo, a previsão não se concretizou.

“Começamos com sete cortes previstos pelo mercado na taxa de juros dos EUA em 2024. Agora, o consenso é apenas um”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “Então a situação deteriorou muito e afastou a liquidez para economias emergentes.”

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Já no mercado interno, a revisão das metas fiscais estabelecidas no arcabouço fiscal desagradou os investidores, que agora esperam gastos maiores do governo. Segundo Cruz, o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concordar em aumentar impostos em diversas frentes, mas rejeitar as propostas de corte de gastos, gerou preocupação e reprecificação dos ativos. Isto porque, em tese, a falta de compromisso fiscal gera inflação mais alta no futuro e, consequentemente, juros mais altos para “controlar” a alta dos preços na economia.

Logo, este é um dos motivos que fez o rendimento do Tesouro IPCA+ chegar a 6,3%. “O mercado se convenceu de que nada será feito (em termos de cortes de gastos) e isso vai pesando no dólar, na curva de juros, na Bolsa”, afirma Cruz. Essa também é a visão de Luis Otávio Leite, trader de renda variável do Grupo SWM, que acrescenta as incertezas provocadas também pelo fim do mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, no final deste ano.

“No cenário local, a fragilidade do arcabouço fiscal, descumprimentos das metas fiscais e dúvidas no que diz respeito a condução da política monetária a partir de 2025, foram fatores que corroboraram para uma desancoragem das expectativas e consequentemente abertura significativa na curva de juros”, afirma Leite.

Real e Ibovespa na berlinda

Para o segundo semestre, Cruz, da RB, vê os mesmos assuntos em pauta: o início do corte de juros nos EUA e a situação fiscal no Brasil. Na visão dele, mesmo que a condução das contas públicas continue gerando receios no cenário doméstico, um eventual corte nas taxas dos fed funds (fundos federais americanos) já destravaria algum valor no Ibovespa e ajudaria a segurar a aceleração do dólar frente ao real.

O estrategista da RB acredita que o Ibov deve chegar a dezembro no patamar de 130 mil pontos, praticamente o mesmo nível do início do ano. “Acredito que até o final de 2024 a gente tenha o início de ciclo de cortes de juros americanos e, quando esse início ficar bem claro, deve ter um apetite a risco maior aqui dentro também”, diz Cruz.

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Ele também espera uma surpresa positiva em relação à nova diretoria que deve assumir o Banco Central americano em 2025. “Acho que vai ser uma condição bem mais tranquila do que se espera”, afirma. Por último, as eleições presidenciais americanas são um terceiro fator a fazer preço. Em um cenário de vitória do republicano Donald Trump, por exemplo, é esperado uma desvalorização ainda maior do dólar.

“Trump entende que isso (desvalorização do dólar) tem que ser feito para estimular a exportação do país”, ressalta Cruz.

Leite, trader do Grupo SWM, tem uma perspectiva parecida. Contudo, ele vê o momento oportuno para alocação na renda variável, frente aos preços descontados. “Apesar da baixa performance do mercado, as empresas, em geral, continuam entregando resultados consistentes em suas últimas divulgações de resultado. As margens estão voltando à normalidade, principalmente em razão de uma menor despesa financeira”, diz o estrategista-chefe da RB.

A Ágora Investimentos também vê oportunidades na renda variável. Contudo, como no curto prazo os gatilhos para levar a uma virada do Ibovespa ainda são pouco claros, a casa continua bastante seletiva na escolha dos ativos. A preferência é por boas pagadoras de dividendos e nomes de maior qualidade.

“Seguimos priorizando ações de empresas ligadas a commodities e setor financeiro, considerando uma dinâmica mais saudável de resultados e a maior liquidez dos nomes, mas também gostamos de ações com características de bond proxy – ou seja, ativos que em algum grau se assemelham aos investimentos em renda fixa (algo encontrado em empresas que possuem maior previsibilidade nos resultados, por exemplo)”, afirma a Ágora, em relatório de estratégias para julho.

Renda fixa: cenário favorável, por enquanto

Hoje, o consenso é de que as taxas dos títulos atrelados à inflação são grandes oportunidades, em função da remuneração “rara” do IPCA+6%. Entretanto, até quando as taxas prefixadas permanecerão elevadas é incerto. De acordo com Maria Luísa Nepomuceno, analista de renda fixa da Nord Research, a trajetória dos rendimentos no Tesouro Direto, por exemplo, dependerão principalmente das discussões fiscais no Brasil.

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Se as perspectivas continuarem de maiores gastos públicos, com dados de atividade e inflação mais elevados do que o esperado pelo Banco Central no Brasil, a tendência é de que as taxas de títulos híbridos (IPCA+) e prefixados continuem pressionadas. E, claro, o cenário externo também impacta essa conta.
“O início de corte de juros nos EUA também é uma fonte de retirada de pressão sobre a nossa curva de juros. Esse é um ponto que pode ajudar a reduzir as taxas do Tesouro Direto no segundo semestre, assim como uma discussão que leve para ajuste fiscal no Brasil”, diz Nepomuceno, da Nord.

Embora o IPCA+6% esteja no foco, Cruz, da RB Investimentos, chama a atenção para produtos de renda fixa isentos de imposto de renda (IR). No início do ano, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu restringir a emissão de títulos com isenção, como Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCAs) e Certificados de Recebíveis Imobiliário e do Agronegócio (CRIs e CRAs).

A restrição ocorre pela constatação de que esses instrumentos privados de captação estavam sendo usados por empresas que não estavam relacionadas aos setores-alvo, ou seja, imobiliário e agronegócio. Com a “limpeza nas emissões”, o caminho ficará mais livre para players novos e potencialmente interessantes, segundo Cruz.

“A nova oferta pode trazer empresas que por vezes são muito consolidadas, organizadas, mas que simplesmente não acessavam o mercado de capitais por falta de interesse dos bancos”, diz o estrategista da RB.

E os criptoativos?

O mercado tradicional sofreu nesta primeira metade do ano, mas o mercado cripto foi bem. O bitcoin e o ethereum, por exemplo, acumularam altas de 63% e 67% no período.

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Julio Andreoni, especialista em criptomoedas do Bitybank, afirma que um dos fatores que mais impactaram esses ativos no primeiro semestre foi a aprovação dos ETFs (fundos de índice) de bitcoin, em fevereiro deste ano, e dos ETFs de ethereum, em maio.

Isto possibilitou que institucionais entrassem nesse segmento, como a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. “Deu para perceber que havia uma demanda reprimida muito grande. Não é a toa que poucos tempo depois da aprovação dos ETFs de bitcoin, por exemplo, o bitcoin bateu sua máxima histórica de US$ 63 mil”, diz Julio Andreoni, especialista em criptomoedas do Bitybank.

O “halving”, evento programado que cortar a emissão de bitcoins pela metade, também jogou os preços para cima e deve continuar beneficiando a criptomoeda. Outros temas que impulsionaram o mercado cripto foi o apelo à inteligência artificial, que favoreceu os tokens ligados a IA.

“Outro tema importante nesse primeiro semestre foram os Real World Assets (RWAs), tokens relacionados a ativos reais. Então, toda essa parte de tokenização de títulos públicos, commodities, dívidas, crédito, cada vez está ficando mais forte. A própria BlackRock criou um fundo tokenizado”, diz Andreoni.

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Para o segundo semestre, a expectativa ainda é positiva, mas é importante ficar atento ao cenário macroeconômico – que também impacta o bitcoin e as demais criptomoedas. O especialista explica que a frustração das expectativas para os cortes de juros nos EUA também pesou sobre as criptos neste início do ano.

“Se, por ventura, os dados econômicos de emprego e inflação forem favoráveis a corte de juros nos EUA, isso será super positivo no mercado cripto”, afirma Andreoni. “E todo mundo está de olho aberto às eleições americanas – há um consenso no mercado de que se Trump ganhar, ele vai ajudar ainda mais o mercado cripto. Ele já se disse muito mais aberto a inovações e liberdade.”

Por último, é esperado que a aprovação dos ETFs de ethereum também traga mais institucionais para essa cripto no segundo semestre, assim como está ocorrendo com o bitcoin. “Tudo indica que as negociações desse ETF devem começar na semana que vem, e isso fortalece ainda mais o mercado”, diz o especialista da Bitybank.

Essa também é a visão de Renato Duarte, especialista em investimentos do Grupo Fractal. “A aprovação dos ETFs traz um grande fluxo de entrada para os ativos, quebrando barreiras de entrada para investidores que não estão familiarizados com criptomoedas ou que não estão preparados para fazer a custódia dos ativos”, afirma.

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“Esse movimento democratiza o investimento em criptomoedas, facilitando a exposição tanto para investidores individuais quanto para grandes empresas e, principalmente, fundos de investimento, como os fundos de pensão”, ressalta Duarte.

Já Valter Rebelo, analista de criptoativos da Empiricus Research, vê principalmente as altcoins “bem fundamentadas” performando bem no segundo semestre. “Com uma melhora macroeconômica, aumento de liquidez, eu acredito que a gente vai ver novas máximas ainda esse ano. Lógico, isso depende muito do que o Banco Central americano vai fazer e como será a formação de expectativas até lá”, diz. “O que vai definir tudo isso, no fim da história, é o tanto que os bancos centrais estão dispostos a aumentar liquidez nos mercados. Continuo bem otimista com o mercado até 2025.”

 

 

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