- Na terça-feira (1), a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida dos EUA de “AAA” para “AA+”
- Isto significa que há um entendimento de que a maior economia do mundo tem, hoje, maiores dificuldades para honrar suas obrigações financeiras
- A notícia estressou os mercados na manhã desta quarta-feira (2), mas não deve ter repercussões a longo prazo
Na terça-feira (1), a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida dos EUA de “AAA” (melhor avaliação de crédito da escala) para “AA+” (qualidade de crédito muito alta), com perspectiva estável.
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Isto significa que há um entendimento de que a maior economia do mundo tem, hoje, maiores dificuldades para honrar suas obrigações financeiras. Ou seja, um risco de inadimplência maior.
A Fitch afirma que o rebaixamento dos ratings reflete a deterioração fiscal esperada para os próximos três anos, além de uma “piora contínua” dos padrões de governanças nas últimas duas décadas e risco de recessão.
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Em junho, o Senado dos EUA aprovou uma lei que suspende o teto de endividamento do país, de US$ 31,4 trilhões, até 2025. O objetivo era evitar um calote inédito do governo americano, que poderia ficar sem recursos até mesmo para realizar os pagamentos dos títulos públicos.
“Esperamos que o déficit do governo geral (GG) suba para 6,3% do PIB em 2023, ante 3,7% em 2022, refletindo receitas federais ciclicamente mais fracas, novas iniciativas de gastos e uma carga de juros mais alta”, diz a agência, em nota.
Como resultado deste downgrade, os mercados abriram esta quarta-feira (2) embalados a um aumento da aversão a risco. O Índice VIX, conhecido como “Índice do Medo”, subia 14% nesta manhã. Até às 12h46, os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq também apresentavam quedas de 1,15%, 0,64% e 2%, respectivamente. O Ibovespa também registrava desvalorizações de 0,77%, seguindo os pares na Ásia e Europa.
“Os mercados globais abrem em queda moderada, mas sincronizada, processando o rebaixamento. A notícia serve de gatilho para uma realização de ganhos depois do rali dos últimos meses. Os papéis de tecnologia são os mais suscetíveis a uma correção maior porque lideram na alta”, afirma Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset.
Surpreende, mas nem tanto
Apesar do maior estresse dos mercados com a notícia do rebaixamento da dívida americana, os especialistas apontam que os efeitos devem se limitar ao curto prazo.
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Mathias, da Kilima Asset, não vê razões para que essa mudança de rating tenha repercussões importantes ou permanentes sobre os mercados.
Isto porque os argumentos utilizados pela Fitch para o downgrade, como deterioração fiscal e risco de recessão, já estavam no “preço” dos mercados. “O CDS (Credit Default Swap – seguro contra default que mede a percepção de risco) dos EUA não foi afetado, está estável em 35 pontos, mesmo nível do início do ano”, diz Mathias.
O investidor brasileiro, em especial, não deve ter motivos para se preocupar. Segundo ele, a mudança de rating nos EUA terá pouquíssimo efeito sobre a taxa de câmbio no Brasil. Isto significa que não é esperado uma mudança brusca na relação entre o dólar e o real.
“É uma notícia que tende a sair do cenário até o final da semana. Ficará como um ‘ruidozinho’, sem grande consequência”, afirma Mathias. “O dólar deve continuar em tendência de queda frente ao real, em direção a R$ 4,60, e a bolsa em tendência de alta, em direção a 130 mil pontos até o fim do ano.”
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, compartilha desta visão. Ele ressalta que a decisão da Fitch não reflete um evento isolado, mas uma sucessão de fatores que não novos para o mercado. Também não é a primeira vez que uma agência de rating rebaixa a classificação de crédito dos EUA. Em 2011, a Standard & Poor’s fez o mesmo, após um impasse sobre o teto da dívida americana.
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“A Fitch baseia sua decisão em projeções acerca do gasto e crescimento americano, a dificuldade na redução estrutural do mesmo, e pontua o risco de recessão ao final de 2024. No principal ponto, a questão fiscal, o entendimento atual é que sim, esse é um tema crucial, mas que deve ser endereçado pelo novo governo em 2025”, afirma Alves.
Marcelo Cabral, CEO da Stratton Capital, também não vê um impacto significativo no médio prazo. Para o especialista, assim como em 2011, esse rebaixamento deve ser “ignorado” pelos mercados – apesar de gerar um movimento de realização de lucros nas bolsas.
“Os resultados e o guidance das empresas vão determinar muito mais a direção do mercado que esta atualização na classificação”, diz Cabral, que aponta para efeitos bastante limitados no câmbio brasileiro. “Se o rebaixamento criar um cenário de incerteza com relação ao dólar, o real poderá se fortalecer. No entanto, o comportamento da taxa de cambio esta sendo determinado pelo diferencial de juros entra Brasil e Estados Unidos e essa dinâmica não deve ser afetada.”
No ano, o dólar cede 8,84% em relação ao real, aos R$ 4,81.
Nota do Brasil
O rebaixamento da dívida americana vem uma semana após o Brasil ter a nota elevada de “BB-” para “BB” pelo Fitch. A agência cita um desempenho acima do esperado para a economia brasileira e fez elogios à política monetária, conduzida pelo Banco Central.
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Entenda mais sobre os impactos da revisão da nota do país nesta matéria.