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Comportamento

Três novos rostos para ajudar a comandar a Fundação Gates

Pela primeira vez, entidade será administrada por um conselho com pessoas sem os sobrenomes Gates ou Buffett

Três novos rostos para ajudar a comandar a Fundação Gates
Bill e Melinda Gates na França, em 2017. Foto: REUTERS/Kamil Zihnioglu
  • Pela primeira vez, a Fundação Bill e Melinda Gates será administrada por um conselho que inclui pessoas sem os sobrenomes Gates e Buffett
  • A questão é se elas terão o poder de mudar algo ou, até mesmo, se vão querer fazer isso

(Nicholas Kulish, The New York Times) – Pela primeira vez, a Fundação Bill e Melinda Gates será administrada por um conselho que inclui pessoas sem os sobrenomes Gates ou Buffett. A questão é se elas terão o poder de mudar algo ou, até mesmo, se vão querer fazer isso.

A fundação nomeou a diretora da Escola de Economia e Ciência Política de Londres (LSE, na sigla em inglês), um filantropo bilionário e o fundador de uma empresa de consultoria de gestão sem fins lucrativos para se juntarem a Bill Gates e Melinda French Gates no recém-criado conselho de direção que supervisionará a instituição de caridade.

A criação do conselho foi anunciada no ano passado como uma medida necessária depois de Gates e Melinda decidirem se divorciar e de Warren Buffett deixar a terceira cadeira da administração da maior instituição de caridade dos Estados Unidos.

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A criação do conselho “representa um reconhecimento explícito de Bill e Melinda, principalmente após o divórcio, de que a fundação ganhará com a chegada de vozes fortes e independentes para ajudar a moldar nossa governança”, disse Mark Suzman, CEO da Fundação Gates, em um comunicado. Suzman também fará parte do conselho, que terá o total de seis integrantes.

O novo conselho é uma medida simbólica significativa, que muitos especialistas em filantropia solicitaram ao longo da existência da fundação, mas, na prática, talvez implique em poucas mudanças. As decisões ainda exigem o apoio de Gates e Melinda, o que basicamente dá a eles o poder de veto. O novo conselho também não terá controle sobre o dinheiro destinado a doações, que é mantido em um fundo separado.

A Fundação Bill e Melinda Gates doou mais de US$ 60 bilhões ao longo de seus 21 anos, para áreas como saúde pública global e agricultura. Recentemente, disponibilizou mais de US$ 2 bilhões para o combate à pandemia de covid-19. A fundação desembolsou US$ 6,7 bilhões em 2021, o maior valor em um único ano.

Depois de uma década e meia de relativa estabilidade, a mudança no comando da Fundação Gates veio rápida e inesperadamente. Primeiro, o pai de Bill Gates, que também atuava na chefia da fundação, morreu em 2020. Então, o casal anunciou na primavera passada que iria se divorciar. E, pouco tempo depois, Buffett disse que deixaria o cargo após quase 15 anos nele.

Sob pressão para falar publicamente como o divórcio talvez afete a governança de uma organização com quase 1.800 funcionários que administram verbas em 134 países, Suzman anunciou em julho que grandes mudanças ocorreriam na fundação, inclusive a entrada de novos integrantes no conselho.

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A fundação prometeu novos rostos, mas, talvez previsivelmente, não escolheu pessoas completamente novas no universo dos Gates. Suzman se recusou a comentar se outros nomes de destaque teriam sido convidados, mas optaram por não participar do conselho.

Alguns observadores se perguntaram se um membro da família Obama poderia fazer parte dele, por exemplo. “Pessoas com profundo conhecimento técnico em um campo específico e alguma exposição e envolvimento de longa data com a fundação são critérios-chave”, disse Suzman.

Um novo integrante do conselho, Thomas J. Tierney, é copresidente da empresa de consultoria de gestão sem fins lucrativos Bridgespan Group, que assessorou a Fundação Gates e muitas outras organizações sem fins lucrativos e filantropos importantes, entre eles a bilionária MacKenzie Scott.

A diretora da LSE, Nemat Shafik, conhecida como Minouche, também trabalhou com a Fundação Gates em diferentes cargos ao longo de muitos anos no governo e em conhecidas organizações não-governamentais. Ela já trabalhou no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional, no Bank of England e na agência de desenvolvimento da Grã-Bretanha.

Outro novo integrante do conselho é Strive Masiyiwa, bilionário filantropo das telecomunicações que também faz parte da iniciativa chamada “Giving Pledge”, criada por Gates, Melinda e Buffett como uma promessa pública de doar mais da metade de suas fortunas. Ele já faz parte há um bom tempo do conselho da Fundação Rockefeller e foi presidente da Aliança para Revolução Verde na África (AGRA, na sigla em inglês), apoiada por Gates.

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Masiyiwa está trabalhando atualmente como enviado especial da União Africana para o combate da covid-19 e vem tentando intermediar um maior acesso a vacinas para o continente. Em sua atuação, ele já criticou algumas vezes o Covax, sistema global de imunização no qual a Fundação Gates teve um papel importante para ajudar a tornar realidade.

A fundação estava atrás de “vozes independentes genuinamente fortes, dispostas a dar conselhos francos em particular e talvez, às vezes, em público, como alguns dados por Strive”, disse Suzman em entrevista.

Melinda disse estar “animada para trabalhar com eles para impulsionar o progresso em algumas das questões mais importantes enfrentadas pelo mundo hoje”.

O conselho pode incluir até nove integrantes, com o objetivo de aumentar sua representação de gênero, geografia e conhecimento do tema em discussão, disse Suzman.

“Sabemos há muito tempo que [a Fundação] Gates é influenciada por outros filantropos ricos e pelo pensamento dos bancos de desenvolvimento, então a inclusão de novos membros com esses currículos sugere mais do mesmo”, disse Sophie Harman, professora de política internacional da Universidade Queen Mary, de Londres, que já escreveu a respeito da fundação no passado.

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“Basicamente, não vejo ninguém entre aqueles chegando ao conselho que discorde da visão de Bill.”

O fato de o conselho não ter nove integrantes desde já talvez reflita a dificuldade de adicionar pessoas em um momento relativamente tenso para a fundação. O trabalho que há alguns anos poderia parecer ótimo, agora significaria trabalhar com os copresidentes divorciados enquanto eles descobrem como vão se entender.

Muitos observadores ficaram surpresos com o anúncio no verão passado de que Melinda terá que deixar a fundação caso ela ou Gates decidam que não podem trabalhar juntos após dois anos. Gates também enfrentou uma série de vazamentos sobre seu comportamento com funcionárias da Microsoft, que ele cofundou, e suas relações anteriores com o financista acusado e condenado por abuso sexual Jeffrey Epstein. Não houve relatos de assédio sexual ou comportamento inadequado de Gates com as mulheres que trabalham na fundação, disse Suzman.

Haverá muito material para observadores na ala esquerda da fundação. Ativistas progressistas têm feito críticas por ela enfatizar soluções de mercado, sobretudo em seu apoio aos direitos de propriedade intelectual para empresas farmacêuticas, e por trabalhar com problemas que afetam o mundo em desenvolvimento principalmente por meio de grandes instituições com sede na Europa e nos Estados Unidos.

A fundação conta com mais um empresário bilionário, com a chegada de Masiyiwa, e do antigo diretor-geral mundial da consultoria de gestão Bain & Co. com Tierney. Minouche, uma baronesa, é membro da Câmara dos Lordes e a única mulher entre os quatro novos integrantes do conselho, apesar de um recente esforço significativo da fundação para a igualdade de gênero no mundo.

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No entanto, nunca houve muita chance de que ativistas de base fossem convidados para vagas de conselho. Para aqueles que procuram pequenos sinais de mudança na organização, Masiyiwa nasceu no Zimbábue e Minouche no Egito. Suzman, que é da África do Sul, disse que a fundação estava interessada em ter um membro do conselho da Ásia.

Nenhum ex-executivo da Microsoft foi chamado para o conselho, apesar de dois antigos CEOs da fundação terem vindo da empresa de software (assim como Melinda e, é claro, Gates).

Há outros sinais de uma ligeira flexibilização do controle dos fundadores. Suzman escreveu a carta anual da organização em 2022, um documento que Gates e Melinda assinaram em anos anteriores. A carta – vista como a articulação mais importante de por que e como a fundação estava gastando dinheiro – já foi um motivo de discórdia no casamento deles. Melinda escreveu sobre a luta para impedir que Gates escrevesse a carta sozinho em seu livro de 2019, “O momento de voar”. Dessa vez, nenhum dos dois escreveu o documento.

Parentes dos atuais integrantes estão proibidos de participar do conselho, com uma brecha para “um filho do casamento entre Bill Gates e Melinda French Gates”, segundo os novos princípios que regem a diretoria. Isso sugere que um dos três filhos dos Gates, com idades entre 19 e 25 anos, talvez um dia faça parte do grupo. A mais velha, Jennifer Gates, casou-se recentemente e é estudante de medicina na Escola de Medicina Icahn, no Hospital Mount Sinai, em Nova York.

Os membros do conselho terão mandatos de três anos, com um limite de dois mandatos. O trabalho não é remunerado. O conselho se reunirá três vezes por ano, aprovará o orçamento anual e avaliará o desempenho e a remuneração do CEO da fundação.

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Na entrevista, Suzman reconheceu o contexto pessoal dessas grandes mudanças: o divórcio. “Sem dúvida eles não estão tendo o mesmo tipo de discussões privadas em casa que costumavam ter, mas a estrutura formal da fundação e nossa tomada de decisão estão funcionando de forma muito eficiente”, disse ele.

Mas eles ainda são os copresidentes, disse Suzman, enfatizando o que não mudou: “Quero ser categórico: continuamos a ser uma fundação familiar.” // TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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