Comportamento

Maior aumento de riqueza do mundo marca ascensão do bilionário Adani

Saiba quem é o bilionário indiano que fez fortuna no setor de infraestrutura

Maior aumento de riqueza do mundo marca ascensão do bilionário Adani
O bilionário indiano Gautam Adani, fundador do Adani Group (Foto: Amit Dave/Reuters)
  • Gautam Adani emergiu como o rei da infraestrutura da Índia, com empreendimentos diversificados desde minas até aeroportos, centros de dados e defesa
  • Em menos de dois anos, Adani ganhou o controle de sete aeroportos e quase um quarto do tráfego aéreo da Índia
  • Depois de começar como negociante de commodities no final dos anos 1980, Adani agora é mais rico do que Jack Ma e é a segunda pessoa mais rica da Índia, com um patrimônio líquido de US$ 56 bilhões

(P R Sanjai, Rajesh Kumar Singh, Divya Patil/WP Bloomberg) – Depois de passar duas décadas construindo um império de negócios centrado no carvão, o bilionário indiano Gautam Adani está agora olhando para além do combustível fóssil para cimentar o futuro de seu grupo. Seus planos ambiciosos estão recebendo um impulso do primeiro-ministro Narendra Modi.

Adani emergiu como o rei da infraestrutura da Índia, com empreendimentos diversificados desde minas, portos e usinas de energia até aeroportos, centros de dados e defesa – setores que Modi considera cruciais para cumprir os objetivos econômicos da Índia. Os investidores estão recompensando a iniciativa, apostando que a estratégia do magnata de combinar seus interesses com o programa de desenvolvimento do governo terá resultados.

As seis unidades do grupo agregaram US$ 79 bilhões ao seu valor de mercado no ano passado, no auge da pandemia, encerrando os melhores 12 meses de sua história. É o maior número depois dos dois maiores impérios empresariais do país, o grupo Tata e a Reliance Industries Ltd., liderada por Mukesh Ambani. Nomes de primeira linha, como a gigante do petróleo francesa Total e a Warburg Pincus, investiram dinheiro nas empresas de Adani.

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Em menos de dois anos, Adani ganhou o controle de sete aeroportos e quase um quarto do tráfego aéreo da Índia. Ele revelou planos para aumentar sua capacidade de energia renovável quase oito vezes até 2025, posicionando-se para se beneficiar enquanto o governo debate ambiciosas metas climáticas que devem reduzir as emissões de gases de efeito estufa até meados do século.

Na semana passada, ele ganhou um contrato para co-desenvolver um terminal portuário no Sri Lanka, país vizinho que a Índia está cortejando para se contrapor à influência da China na região. A Adani Enterprises Ltd. assinou um pacto no mês passado com a EdgeConneX para desenvolver e operar data centers em toda a Índia.

“Adani tem sabedoria política e investe em projetos de infraestrutura mais razoáveis e de longo prazo”, amplamente vinculados às prioridades do governo, disse Tim Buckley, diretor de financiamento de energia para a Austrália e Sul da Ásia no Instituto de Economia em Energia e Análise Financeira, ou IEEFA, na sigla em inglês. “Enquanto a Índia sustentar um forte crescimento, o grupo provavelmente prosperará sob sua liderança e testemunhará um aumento no interesse dos investidores globais”.

O foco na infraestrutura da Índia constitui “o núcleo da nossa filosofia de ‘construção nacional’” e o grupo criou milhares de empregos e entregou um valor sem precedentes aos seus acionistas, disse Adani no JPMorgan India Summit em setembro. Um representante do grupo se recusou a fazer comentários para esta reportagem.

Depois de começar como negociante de commodities no final dos anos 1980, Adani agora é mais rico do que Jack Ma e é a segunda pessoa mais rica da Índia, com um patrimônio líquido de US$ 56 bilhões. Ele acrescentou US $ 50 bilhões à sua fortuna no ano passado, cerca de US$ 5 bilhões a mais do que Ambani, o homem mais rico da Ásia, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index. O patrimônio líquido de Adani cresceu mais do que o de qualquer outro bilionário neste ano.

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Adani ganhou destaque internacional quando venceu a concorrência para um projeto de carvão na Austrália em 2010. Desde então, ele vem sendo atacado por ativistas do clima, incluindo Greta Thunberg. Uma campanha “Stop Adani” feita por ambientalistas interrompeu o empreendimento, com pressão crescente sobre os credores para fecharem a torneira de crédito. Em uma entrevista de 2019 à Bloomberg News, Adani disse que os objetivos do projeto eram segurança energética para a Índia e empregos para os moradores locais.

Mas, em sua terra natal, Adani tem estado no centro de outra polêmica que ficou mais quente, especialmente depois que Modi se tornou primeiro-ministro em 2014. Os adversários do poderoso líder dizem que o sucesso de Adani se deve em grande parte à sua proximidade com Modi – uma alegação negada pelo magnata – e sua propensão a alinhar seus investimentos com os objetivos políticos de Modi.

Os críticos apontam para relatos de que o governo federal sob o comando de Modi relaxou as regras de licitação de aeroportos, ajudando o grupo de Adani a se qualificar, apesar de não ter demonstrado experiência anterior na administração do setor. Uma concorrência que o conglomerado venceu no estado de Kerala, no sul do país, enfrentou contestação no tribunal, com um ministro local caracterizando a oferta vencedora como “um ato de clientelismo descarado”.

O grupo Adani rejeitou essas alegações e disse que venceu por meio de um processo competitivo. Em um comunicado de 21 de janeiro, o governo disse que Adani foi o licitante com maior lance entre 86 inscritos e que o processo foi transparente. A Suprema Corte do país ainda está julgando a disputa. O representante do grupo Adani não quis comentar.

Assim como Modi, Adani nasceu no estado de Gujarat, no oeste da Índia. Cerca de duas décadas atrás, Adani apoiou publicamente Modi quando uma crise ameaçou encerrar a carreira do político em ascensão. Modi estava sob ataque de rivais e empresários que o acusavam de não ter conseguido evitar sangrentos distúrbios sectários em seu estado natal no ano de 2002. Adani criou um lobby da indústria regional e ajudou a lançar uma cúpula de investimento global semestral em Gujarat em 2003, a qual impulsionou as credenciais pró-negócios de Modi.

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“A conexão entre Modi e Adani remonta a 2003”, disse Nilanjan Mukhopadhyay, analista político que escreveu a biografia Narendra Modi: The Man, the Times. “A sorte de Adani certamente sofrerá um revés” sem Modi no poder. Se isso acontecer, ele começará a estabelecer laços estreitos com o novo partido governista, disse Mukhopadhyay.

Respondendo a seus oponentes, Modi disse em um discurso no parlamento no mês passado que o papel da empresa privada na economia é tão importante quanto o setor público e que os criadores de riqueza são uma necessidade. O representante de Adani não quis comentar.

O dinamismo dos mercados de crédito ajudou a alimentar a expansão de Adani. Em janeiro, a Adani Ports & Special Economic Zone vendeu um título de 10 anos em dólares a uma taxa de 3,10%, em comparação com 4,375% em junho de 2019. Na semana passada, a Adani Green Energy assinou um empréstimo de US $ 1,35 bilhão junto a 12 bancos, incluindo Standard Chartered Plc e Sumitomo Mitsui Banking Corp., um dos maiores empréstimos renováveis da Ásia.

Mesmo que o Credit Suisse Group tenha estimado que a dívida bruta do grupo saltou 29% para US $ 24 bilhões nos seis meses até setembro, em relação ao ano anterior, uma cisão e uma proteção patrimonial em 2015 proporcionou conforto aos credores.

A maior ameaça que Adani enfrenta é o carvão. As instituições financeiras de todo o mundo estão sofrendo cada vez mais pressão para evitar o financiamento de projetos de energia usando o mais sujo dos combustíveis fósseis. A Adani Enterprises é a maior importadora da Índia e também uma mineradora contratada para fornecer 101 milhões de toneladas anuais. Seus investimentos de mais de US $ 2 bilhões na Austrália estão enfrentando questionamentos e atrasos e podem representar um risco para qualquer uma das unidades que financiam o empreendimento.

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“Adani sabe que o carvão é um ativo perdido”, disse Buckley, do IEEFA.

Os novos empreendimentos de Adani vêm enfrentando muito menos resistência. Ele tem planos para fabricação em defesa, atendendo aos apelos de Modi para ajudar a reduzir a dependência de importações caras. E também está aumentando a produção de módulos e painéis solares, novamente sob a exortação de Modi para criar produtos “fabricados na Índia”. A investida em data centers segue a proposta de lei do governo que exige que os dados sejam armazenados localmente.

A tendência de Adani para atrair capital estrangeiro também está de acordo com as prioridades do governo Modi, que não tem um orçamento grande o suficiente para financiar suas prioridades de infraestrutura. Warburg investiu US $ 110 milhões na Adani Ports and Special Economic Zone este mês, enquanto a francesa Total elevou seu investimento total na Adani Green para US $ 2,5 bilhões.

“Dito isso, o Adani Group está fazendo tudo certo”, disse Chakri Lokapriya, diretor de investimentos da TCG Asset Management em Mumbai, cujo fundo recentemente vendeu suas participações em unidades Adani, mas está tentando recomprar. “Nos próximos anos, o grupo Adani terá participações de controle sobre pontos cruciais para infraestrutura, geração de energia e tecnologia da informação”.

(Tradução de Renato Prelorentzou)

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