- Essa faixa etária é responsável por 54,29% de todo o capital aplicado por pessoas físicas, o equivalente a R$ 274,1 bilhões.
- Os 60+ também possuem perfis mais agressivos. Cerca de 60,81% deles estão dentro da classificação arrojada, ou seja, aceitam correr riscos maiores para obter retornos mais atraentes
- Quando o assunto é ocupação, a maioria dos ‘investidores prateados’ é aposentada (24%) e uma segunda parcela grande é empresária ou autônoma (14%)
A ‘geração prateada’ tem um grande peso no mercado de investimentos. Segundo dados da B3, até abril deste ano 563 mil investidores com mais de 56 anos estavam na Bolsa, representando pouco mais de 15% do total de CPFs cadastrados. Essa faixa etária, entretanto, é responsável por 54,29% de todo o capital aplicado por pessoas físicas, o equivalente a R$ 274,1 bilhões.
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A importância deste público fica ainda mais evidente em um recorte realizado pela iHUB Investimentos, com clientes de 60 anos ou mais – considerados ‘idosos’ pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o levantamento, os investidores mais velhos são, normalmente, qualificados. Isso significa que eles têm R$ 1 milhão ou mais de patrimônio em aplicações financeiras.
Os 60+ também possuem perfis mais agressivos. Cerca de 61% deles estão dentro da classificação arrojada, ou seja, aceitam correr riscos maiores para obter retornos mais atraentes. Outros 34,23% têm perfil moderado e apenas 4,25% são conservadores. No total, foram ouvidos 427 investidores durante todo o ano de 2020.
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Pedro Dabela, de 66 anos é um ‘novato’ na Bolsa, apesar de muito experiente nos negócios. Ele já esbanja sucesso com a despachante de veículos que fundou há 42 anos. Depois de ter o primeiro contato com o mercado de capitais em meados de 2019, Dabela busca rentabilizar ao máximo o patrimônio acumulado durante toda a vida.
“Meu filho começou a investir primeiro na Bolsa. Depois começou a me mostrar as oportunidades do mercado de investimentos, me falar sobre as companhias que dão resultados, os fundos imobiliários e etc”, afirma Dabela. “Como eu estava com dinheiro sobrando, passei a aplicar aos poucos e fui tomando gosto.”
No início, o empresário perdeu dinheiro com operações de curto prazo, que naturalmente possuem risco mais elevado. “Aplicava de manhã e quando era de tarde, já sacava. Percebi que estava perdendo muito e, como tudo na minha vida sempre foi aprendizado, agora aplico pensando no longo prazo”, explica Dabela, que mora em Manaus e é cliente da iHUB.
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Ações como Taesa, Fleury, Itausa, Vale, Weg, Banco do Brasil e Petrobras fazem parte da carteira do empresário. Nesses quase três anos de B3, as orientações feitas por profissionais também foram decisivas para o sucesso dele.
“O meu pensamento como investidor é ser agressivo, eu não sou o tipo de pessoa que fica com medo. Os valores das ações caíram na pandemia, não recuperei todo o capital ainda, mas a cada dia os ativos se recuperam mais”, explica Dabela. “Eu sou muito persistente, começamos a pesquisar e estudar mais as boas empresas, que dão bons rendimentos não só para mim, mas para o Brasil.”
Sócio-fundador da iHUB, Paulo Cunha explica que é mito pensar que idosos não se adaptam à tecnologia e que estão presos a hábitos ultrapassados em relação ao dinheiro, como o famoso ‘guardar dinheiro embaixo do colchão’. “A classe considerada terceira idade quebrou o tabu de que somente os jovens adultos podem investir na bolsa de valores. Além disso, essa realidade demonstra o quanto a educação financeira é importante durante toda a vida”, diz.
A maioria dos ‘investidores prateados’ é aposentada (24%) e uma segunda parcela grande é empresária ou autônoma (14%). Administradores correspondem a 6,39% e o restante (55,61%) exerce carreiras variadas como engenheiros, diretores de empresas, funcionários públicos, advogados, entre outras profissões. “Estamos falando de pessoas que foram bem-sucedidas que conseguiram um patrimônio relevante durante a vida e que agora estão investindo”, explica Cunha. “Entre os nossos clientes, temos um perfil mais qualificado que a média nacional.”
Investidoras de peso
No cenário geral de pessoas físicas na Bolsa, as mulheres ainda representam apenas 27,34% dos investidores – a porcentagem mais alta obtida pelas investidoras, considerando todas as idades. Dentro da faixa dos 56+, utilizada pela B3, esse número sobe um pouco. As contas femininas representam 32% do total.
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Já no levantamento da iHUB com os clientes 60+, esse quadro aparece muito mais equilibrado. Os homens correspondem a 54,79% dos investidores mais idosos, enquanto as mulheres são 45,21% desse público. “São mulheres com um perfil mais qualificado, ou seja, um pouco diferente dos novos investidores que entraram na bolsa. São executivas, aposentadas, gente que tem dinheiro e já investia”, explica Cunha. “Normalmente quem tem mais de 60 anos também tem mais experiência no mercado e investe com ações há mais tempo.”
Com 66 anos de idade, Laura Silva (nome fictício), jornalista e empresária do ramo da comunicação, ilustra bem esse cenário. A profissional começou a investir na Bolsa de Valores em meio à hiperinflação dos anos 90 e sentiu na pele as dificuldades de aplicar dinheiro em uma economia totalmente desestabilizada.
Para a investidora, os primeiros contatos com o mercado financeiro também foram mais difíceis. “No início, era dinheiro por dinheiro. Investíamos em títulos de inflação, então dependíamos da inflação crescer para ganharmos, o que era uma coisa suicida. Basicamente, quanto pior o País ficasse, melhor para aquele investimento”, explica. “Então vi que precisava investir no crescimento do Brasil, que precisava investir em ações, ajudar as empresas a se desenvolverem.”
Há três décadas, Silva ainda era uma empresária pequena. Passou, então, a investir tudo o que sobrava de dinheiro em ações. “Eu pensava que tinha que fazer isso para o meu futuro. E hoje está muito melhor, não temos mais a inflação descontrolada. O Brasil era um país em que ninguém acreditava há 15 anos atrás”, afirma.
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A jornalista também pode se considerar uma das mulheres pioneiras na Bolsa. Em meados dos anos 90, Silva fazia parte de um grupo ainda pequeno, de menos de 20 mil investidoras da Bovespa. “Não é que existiam poucas investidoras. Não existiam mulheres trabalhando. E apesar de eu ter pai, ter marido, eu sempre quis ir muito pelo meu nariz”, explica Silva. “Hoje me sinto uma investidora bem-sucedida e soube também priorizar as coisas. Não tive a roupa mais cara, mas investi em vida, em viagens.”