IA e dinheiro caminham lado a lado? 65% dos brasileiros querem a tecnologia para sugerir investimentos
Pesquisa inédita mostra que 45% dos brasileiros não sabem quanto o parceiro ganha e que a maioria quer usar a tecnologia para tomar decisões financeiras mais conscientes
Itaú e Consumoteca revelam como o brasileiro lida com o dinheiro na era da inteligência artificial (Foto: Adobe Stock)
Durante um evento exclusivo no Museu de Arte de são Paulo (Masp), nesta quarta-feira (22), o Itaú Unibanco e a Consumoteca apresentaram uma pesquisa inédita sobre como o brasileiro enxerga e lida com o dinheiro. O estudo, realizado com mais de 5 mil entrevistados, revela mudanças profundas no comportamento financeiro e nas expectativas em torno da tecnologia e da inteligência artificial (IA): 65% dos entrevistados gostaria que a IA estivesse no lugar da sugestão, como um “copiloto”.
Para o antropólogo Michel Alcoforado, sócio-fundador da Consumoteca, esse resultado só é possível pois o Brasil viveu uma transformação única em relação à digitalização.
“Nos anos 2000, a digitalização do consumo e a ampliação do crédito aconteceram lado a lado, o que não se viu em outros países da América Latina. Isso mudou a percepção de confiança das pessoas e desmaterializou o dinheiro”.
João Araújo, diretor do Itaú Unibanco, reforçou essa ideia de mudança, mas sob a ótica do banco. Segundo ele, a instituição tem se dedicado há mais de uma década a ressignificar a relação das pessoas com o dinheiro, saindo de um modelo puramente transacional para uma lógica mais consultiva. “Queremos ser promotores de bem-estar financeiro.”
Não se trata apenas de acúmulo ou riqueza, mas da capacidade de tomar a melhor decisão financeira em cada momento da vida.
Alcoforado complementou que a digitalização não transformou apenas os sistemas econômicos, mas também os comportamentos. “O Pix é o marco principal da desmaterialização do dinheiro. O que antes passava por filas e boletos, agora cabe em um toque. Em 2023, houve 35 milhões de transações de R$ 0,01, muitas vezes usadas para flertar – o Pix virou linguagem, virou um jeito de conversar.”
Do ponto de vista do Itaú, essa digitalização abre espaço para uma nova etapa: a personalização. João Araújo destacou que o banco tem investido em IA para entregar experiências contextualizadas e simples, a partir de uma leitura em tempo real dos hábitos dos clientes. “Temos capacidade de personalizar comunicações e produtos para milhões de pessoas, com experiências que variam individualmente. O objetivo é oferecer soluções no momento exato em que o cliente precisa.”
A pesquisa apresentada pelo sócio-fundador da Consumoteca reforça essa demanda por apoio personalizado. Segundo os dados, 80% dos brasileiros querem aprender a administrar melhor o próprio dinheiro e 75% preferem segurança a correr riscos. Além disso, 65% gostariam que a IA atuasse como uma ferramenta de sugestão, não como uma entidade que toma decisões automáticas.
“O problema não é a tecnologia, mas como construímos um arranjo tecnológico que permita fazer o que antes não era possível”, diz o antopólogo.
Michel Alcoforato observou que a educação financeira se popularizou entre 2014 e 2019, impulsionada por conteúdos digitais e influenciadores. No entanto, a pandemia trouxe um novo sentimento.
“Entre 2020 e 2022, o dinheiro virou uma armadura emocional. As pessoas passaram a buscar controle, autonomia e um ‘copiloto’ para ajudá-las nas decisões financeiras”, diz.
Esse “copiloto”, para o Itaú, está se materializando em novas ferramentas dentro do aplicativo. Desde o controle de gastos e os cofrinhos digitais, até o modo protegido com biometria facial e o Pix com cartão.
O encontro mostrou que a convergência entre tecnologia e comportamento é o novo eixo da educação financeira no Brasil. Como sintetizou Michel Alcoforado: “Os brasileiros não têm medo da tecnologia. Eles só querem entender as regras e confiar que ela os ajudará a viver melhor – e não apenas a gastar melhor.”