O que este conteúdo fez por você?
- Estudo exclusivo disponibilizado para o E-Investidor mostra qual é o perfil de quem mais aposta no Brasil e também que mais desiste
- Principal motivo para jovens apostarem é a busca por uma alternativa de renda, em um País com 5,2 milhões de jovens desempregados, dizem especiaistas
- Coordenadores do estudo alertam sobre os perigos das apostas e destacam a importância da educação financeira para quem quer tentar a sorte
A pauta sobre apostas online voltou à tona no ano de 2023. O assunto divide opiniões: de um lado, psicólogos alertam para a cautela com os jogos. Do outro, há quem tornou a aposta sua profissão, como mostramos nesta reportagem. Para entender quem são, afinal, esses apostadores, uma pesquisa inédita e exclusiva para o E-Investidor mostrou o perfil de quem se aventura no universo da sorte.
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O estudo “Futuro das Apostas Esportivas Online: onde estamos e para onde vamos”, realizada pela plataforma Futuros Possíveis, que busca entender sobre as tendências dos próximos anos, mostrou que jovens e pessoas pretas e pardas são a maioria no mundo das apostas, sendo que a população das classes sociais C, D e E buscam na prática uma alternativa de renda.
Segundo Angelica Mari, CEO e co-fundadora do Futuros Possíveis, existem muitas nuances a considerar para que essa população esteja apostando. A primeira delas, fatores sociais e estruturais, como mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), destacando que 5,2 milhões de jovens estão desempregados e, destes, 55% são pretos e pardos.
Pesquisa em números
Grupo racial
A pesquisa da Futuros Possíveis, feita também em parceria com a Opinion Box e em colaboração com a Afro Esporte, entrevistou, 1.581 pessoas a partir de 16 anos que moram no Brasil e praticam esportes, com o objetivo de entender se eles também estão envolvidos com apostas esportivas online.
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Dentre a amostra geral, 40% dos consultados que se reconhecem como pretos ou pardos responderam que já apostaram alguma vez na vida. Já entre os entrevistados que se reconhecem como brancos, 33% responderam que já praticaram a atividade. Sendo assim, o estudo observou que na comparação de cada grupo racial, a população preta e parda é a que mais aposta.
Faixa etária
A mesma metodologia foi aplicada para entender qual é a faixa etária de quem aposta. A amostra de entrevistados foi dividida em três outros grupos: de 16 a 29 anos, 30 a 49 anos e 50 anos ou mais. Quando questionados também se já tinham apostado, 39% do primeiro grupo já apostaram, enquanto o porcentual foi de 43% no segundo grupo e de 19% no último.
Contudo, apesar do resultado mostrar que a faixa etária de 30 a 49 anos tem a parcela dos que mais apostaram na vida, a pesquisa também se aprofundou em entender quem apostava frequentemente, ocasionalmente ou não apostava mais (já apostou, mas parou). Sendo assim, os números mostram outros resultados.
Para chegar neste novo universo, os pesquisadores perguntaram para a amostra geral de 1.581 pessoas quem já tinha feito apostas esportivas alguma vez na vida e quem nunca passou por essa experiência. Como resultado, 64% nunca experimentado a prática enquanto 36%, sim.
Do recorte de quem já apostou alguma vez na vida, 25% apostava com frequência, 43% apostava ocasionalmente e 32% “já fez apostas, mas pararam”. A partir desse resultado, o grupo que segue no mundo de apostas foi dividido novamente pelas mesmas faixas etárias.
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Como resultado, entre quem faz apostas frequentemente, a população de 16 a 29 anos lidera com 29%, seguida pela população 50 ou mais com 24% e pela população 30 a 49 anos, com 23%.
Objetivo com apostas
Ao tirar do recorte quem parou de apostar, a pesquisa constatou que 71% dos consultados que ainda apostam (seja frequentemente ou ocasionalmente) escolhem a atividade com o objetivo de ganhar dinheiro. Neste universo, 60% pertencentes às classes C, D e E afirmaram que o objetivo é o dinheiro, enquanto somente 11% da classe A e B deram a mesma resposta.
De acordo com a CEO da Futuros Possíveis, a busca de uma alternativa de renda por meio das apostas conversa com os dados que mostram que há 7 milhões de jovens brasileiros que não estudam nem trabalham – a chamada geração “nem nem”.
“Isso significa que temos um grande contingente de pessoas que não estão no mercado, e tampouco estão se qualificando para ele, e começam a contemplar alternativas para gerar alguma renda”, afirma, citando que esse público também é cotidianamente alimentado por influências digitais que ajudaram a intensificar as campanhas publicitárias de casas de apostas esportivas.
Apesar do objetivo principal ser ganhar dinheiro, apenas 1% dos entrevistados que ainda se envolveram com os jogos dizem que apostam mais de R$ 1 mil por mês. No geral, o brasileiro não deposita grandes valores em suas apostas. Os dados mostraram que 80% dos respondentes gastam até R$ 100 reais em suas empreitadas.
Recorte regional
Ao olhar para o recorde regional, a pesquisa revela que dentre a população que segue no mundo de apostas, as regiões Norte e Sul do País são as que mais utilizam o modelo de aposta online pontual, chegando a 48%. Já a região Nordeste se destaca com 32% respondendo que joga com frequência.
Quem são os que desistem?
Dentro do universo de quem já apostou em algum momento da vida, as mulheres representam a maior parcela de quem já desistiu (38%). Na sequência, apesar de comporem a maior parte dos apostadores, pessoas pretas e pardas também são as que mais saem do jogo (25%).
Já na análise regional, o Centro-Oeste foi a região que mais desistiu da prática, com 39%. Por outro lado, a região onde menos houve desistência das apostas foi o Nordeste, com 29%.
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Andreza Maia, a diretora de Produto (CPO) e co-fundadora da Futuros Possíveis, explica que a desistência das apostas online por parte dos entrevistados pretos ou pardos e mulheres também está relacionada a fatores estruturais, como a responsabilidade que mulheres negras têm pelo orçamento familiar.
Em relação às regiões, a pesquisa não investigou, de fato, os motivos que levaram às desistências das apostas online. No entanto, Marcelo Gripa, diretor de Operações (COO) e co-fundador da Futuros Possíveis, diz que os dados do Censo 2022 podem dar “algumas pistas”.
“A região Centro-Oeste tem a segunda menor taxa de desemprego do País: 7%, acima somente do Sul, com 5%, segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad Contínua), puxada por setores como o agro. Isso pode significar que, quanto maior a vulnerabilidade financeira causada por fatores como o desemprego, maior será a adesão às casas de apostas”, afirma.
Boom no mercado
Justamente pelo ingresso de diversos influenciadores, subcelebridades e jogadores de futebol, o mercado de apostas passou por um rápido crescimento nos últimos anos. A Copa do Mundo do Qatar no ano passado e o aumento das plataformas online de apostas à disposição também tiveram sua parcela de contribuição no aumento da demanda. De acordo com o estudo, em 2023, o Brasil chegou ao primeiro lugar do ranking de países que mais acessam sites de apostas.
Ao E-Investidor, a escola Dupla Aposta realizou um levantamento em veículos internacionais e nacionais do ramo e mostrou que há, no Brasil, aproximadamente 30 milhões de apostadores, que estão em mais de 400 casas de apostas operando em território brasileiro. Por ano, aproximadamente, essa indústria movimenta R$ 10 bilhões, com a estimativa de R$ 12 bilhões para final de 2023.
No dia 25 de julho deste ano, o governo federal publicou no Diário Oficial da União a Medida Provisória (MP) para regulamentar as apostas esportivas. Com a nova MP, a receita bruta das apostas estarão sujeitas a uma taxação de 18%, subtraídos os prêmios pagos aos apostadores, o chamado GGR (gross gaming revenue, na sigla em inglês, ou, em tradução livre, receita bruta de jogos).
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Para Mia Lopes, CEO do Afro Esporte, a regulamentação de apostas será extremamente favorável para o mercado como um todo, já que as regras preveem mecanismos de punições contra fraudes e geram receita com responsabilidade para o esporte.
Contudo, tanto Lopes, como Maia, da Futuros Possíveis, dizem que de nada adianta uma regulamentação se ela não for somada à educação financeira, principalmente para jovens da periferia. “Esta prática pode envolver não apenas riscos financeiros, mas também emocionais e sociais. É muito importante estabelecer limites, buscar informações e entender os possíveis desdobramentos pessoais, antes de se envolver”, finaliza Maia.