Comportamento

Por que cresce a procura por leilão on-line de vinho?

Plataformas facilitam a venda de garrafas e consumidores descobrem as vantagens de comprar em leilões

Por que cresce a procura por leilão on-line de vinho?
Com os leilões online, apreciadores conseguem acesso a rótulos raros por preços mais acessíveis (Foto: Salvatore Leilões)
  • Com a pandemia, apreciadores de vinho tiveram que migrar o hobby para dentro de casa, e precisaram encontrar meios alternativos de acessar rótulos estrangeiros
  • Leilão se tornou uma possibilidade para apreciadores se desfazerem de rótulos que não os agradam mais e de encontrar garrafas raras e cobiçadas
  • Os preços dos vinhos nos leilões brasileiros seguem a cotação internacional dos valores praticados mercado secundário

Os leilões de vinho estão ganhando evidência no Brasil. Antes restritos quase que exclusivamente aos eventos para arrecadar recursos para entidades  beneficentes, eles vêm ganhando força em plataformas on-line.

No final de fevereiro, por exemplo, a Dedalo Leilões arrecadou R$ 1,5 milhão com um leilão que teve o borgonha Romanée Conti, safra 1992, vendido por R$ 75 mil como principal estrela.

No dia 9 de março, a Blombô realiza um leilão que tem como destaque uma caixa com seis garrafas da edição limitada para comemorar os 20 anos da italiana Bibi Graetz.

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Os vinhos são das safras de 2003, 2008, 2015, 2016, 2018 e 2019, com preço inicial de R$ 8,9 mil. A Salvatore Leilões, por sua vez, planeja um evento para os dias 28 e 29 de março com vinhos como o Château Petrus 1975, com lance inicial de R$ 20 mil; e Brunello de Montalcino Riserva Soldera 2004, por valor a partir de R$ 6 mil, entre outros lotes.

“O interesse pelos vinhos vem crescendo e deve se tornar o nosso principal produto leiloado”, afirma Pedro de Aguiar, dono da Dedalo, empresa focada em leiloar itens de colecionismo, como instrumentos de escrita, joias e relógios, na plataforma Superbid Exchange. Várias razões explicam o crescimento destes leilões on-line. Primeiro, o período da quarentena pela covid. “A pandemia trouxe um amadurecimento do mercado de leilões de vinho”, acredita Mauricio Salerno, sócio da Salvatore Leilões.

A pandemia leva ao leilão on-line

Restritos em casa, consumidores de vinho tiveram tempo para estudar mais sobre brancos e tintos, e vários acabaram chegando aos catálogos on-line e as plataformas de venda de garrafas.

Fizeram um ou dois lances e começaram a perder o medo de comprar vinhos por esta forma – no mercado internacional, os leilões, on-line ou presenciais, ocorrem com muita frequência. Nos Estados Unidos, por exemplo, a plataforma WineBid tem leilões diários. E os catálogos das inglesas Sotheby’s e Christie’s estão sempre com boas oportunidades em garrafas.

Sem as viagens internacionais neste período, estes consumidores viram no leilão uma possibilidade de abastecer sua adega também com rótulos não disponíveis no Brasil. Salerno acrescenta que, ao mesmo tempo, os mecanismos de controle para a entrada do vinho no Brasil foram se tornando mais rígidos, o que tem levado o consumidor a pensar duas vezes antes de colocar na mala uma garrafa de alto valor.

Por outro lado, os leilões também ficaram mais acessíveis. Em plataformas on-line, é possível dar o lance nos dias que antecedem o leilão, sem a necessidade de estar presente fisicamente no dia.

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Mas o empresário Fernando Belotto, que descobriu os leilões um pouco antes da pandemia, conta que a emoção acontece sempre nos três minutos antes do martelo bater virtualmente. Muitas vezes, ele se viu próximo de comprar um lote quando, segundos antes de fechar o lance, um outro internauta fazia um novo lance. “Há uma forte adrenalina”, diz ele. Pelas plataformas, explica Belotto, também é possível programar até quanto se quer gastar, evitando que a empolgação lhe leve a pagar mais pelos lotes.

Vinhos raros ou de safras antigas

A possibilidade de comprar vinhos raros ou de safras antigas é o principal atrativo dos leilões. “Quem procura o leilão, também procura oportunidade”, diz Lizandra Alvim, CEO da Blombô. No caso dos grandes rótulos, como os de Bordeaux, Borgonha ou de regiões nobres da Itália, por exemplo, as safras antigas significam vinhos que já estão prontos para serem consumidos, sem precisar passar anos envelhecendo na adega.

A procura pelos leilões também abriu um mercado para aqueles que querem se desfazer de algumas garrafas. A Blombô é um exemplo de leiloeiro que começou vendendo objetos de arte em 2017, e entrou nos vinhos porque vários clientes também queriam vender suas adegas ou parte delas.

As adegas particulares são o bem mais precioso para o leiloeiro. Primeiro porque os donos de vinho tendem a preservar muito bem as suas garrafas, o que nem sempre acontece em todas as importadoras de vinho e, menos ainda, nos casos de leilões realizados pela Receita Federal. “Em um destes leilões, já fui pegar vinho em um galpão sem climatização.

Paguei tão barato que mesmo que se alguns vinhos estivessem estragados teria valido a pena”, conta Belotto. Resultado: um champanhe Krug, da safra de 1995, foi um dos melhores que já tomou, mas o Château Pavie 1982 já tinha vivido dias melhores, lembra o empresário. Para participar dos leilões, ele organiza uma vaquinha com os amigos e juntos eles dão os lances nos leilões.

Adegas à venda

Estas adegas particulares vão à venda por algumas razões principais. Uma delas é o falecimento do proprietário, o que leva os herdeiros a precisarem se desfazer do bem.

Há também aqueles que compraram garrafas demais ao longo da vida e decidem vender algumas ou, ainda, aqueles que mudaram de paladar, deixando de gostar de um determinado estilo de vinho. “Há também aquelas caixas com 11 ou com 5 garrafas”, diz Aguiar. No caso, a pessoa comprou uma caixa fechada, de 12 ou de 6 vinhos iguais, e não gostou da garrafa que provou.

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Outro ponto a favor dos leilões é que as empresas também ficaram mais eficientes na seleção dos vinhos, mesmo não sendo possível dar 100% de certeza da qualidade do vinho – até uma garrafa que envelheceu nas caves das próprias vinícolas pode apresentar problemas.

A Dedalo e a Blombô contam com especialistas em vinho, que analisam as garrafas, atentos aos detalhes de sua evolução e definem se ela pode ou não ser vendida. “Se desconfio da garrafa por qualquer razão, eu tiro do leilão”, diz Luiz Gastão Bolonhês, consultor da Blombô. A figura deste especialista é mais valorizada no mercado brasileiro. “Nunca me preocupei com a conversação da garrafa nos leilões americanos”, conta o engenheiro brasileiro Felipe Bueno. Ele trabalha em Las Vegas, nos EUA, e entra semanalmente na WineBid, mas com lances que não chegam a US$ 100 a garrafa. Ele até já viu um vinho brasileiro na plataforma, o Storia 2005, da Casa Valduga. Chegou a dar, mas não levou o vinho.

Aguiar conta que uma vez ele recebeu, de dois clientes, duas garrafas do Barca Velha da safra de 1978, um dos tintos ícones de Portugal, com rótulos diferentes. Seu consultor, o especialista Jorge Lucki, ligou para a vinícola e foi informado que naquele ano, realmente, foram feitos dois rótulos diferentes.

Política de preços

Os preços dos vinhos nos leilões brasileiros seguem a cotação internacional dos valores praticados mercado secundário – em Londres, principalmente, este é um mercado ativo. E seus valores vão subindo com os lances. Mas a dica final vem de Bolonhês, da Blombô: “Se a esmola é demais, o santo desconfia”. O recado está dado.

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