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Comportamento

A consultoria que os bilionários procuram quando querem doar dinheiro

MacKenzie Scott, ex-mulher do fundador da Amazon, Jeff Bezos, está entre os assessorados pela Bridgespan

A consultoria que os bilionários procuram quando querem doar dinheiro
MacKenzie Bezos durante premiação em Berlim, em 2018: doações sem impor condições de uso do dinheiro. (Jorg Carstensen/ AFP)
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  • MacKenzie Scott saiu da enorme sombra de seu ex-marido, Jeff Bezos, distribuindo bilhões de dólares em doações nos últimos dois anos
  • Em sua assessoria, estava uma equipe de consultores de uma empresa pouco conhecida fora dos círculos filantrópicos, o Grupo Bridgespan
  • A Bridgespan pode não ser um nome conhecido, mas seu alcance nos círculos filantrópicos é significativo. O grupo aconselha os maiores nomes da área, como a Fundação Bill e Melinda Gates, a Fundação Ford e a Fundação Rockefeller

(Nicholas Kulish,  The New York Times) – MacKenzie Scott saiu da enorme sombra de seu ex-marido, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, distribuindo bilhões de dólares em doações nos últimos dois anos para instituições de caridade, faculdades comunitárias, bancos de alimentos e organizações progressistas sem fins lucrativos lideradas por pessoas de cor.

Em sua assessoria, estava uma equipe de consultores de uma empresa pouco conhecida fora dos círculos filantrópicos, mas muito influente dentro deles, o grupo Bridgespan.

Separada da empresa de consultoria Bain & Company como uma organização sem fins lucrativos, a Bridgespan faz parte de uma série de grupos que surgiram no início dos anos 2000 quando uma nova onda de doações liderada por bilionários da tecnologia estava começando a crescer.

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Duas décadas depois, esses consultores que trabalham nos bastidores são mais importantes do que jamais foram.

MacKenzie Scott recuou um pouco em junho quando, entre os 286 grupos que receberam mais de US$ 2.7 bilhões em doações, estava uma série de organizações que são basicamente o encanamento e fiação do mundo sem fins lucrativos. Entre eles estavam o Center for Effective Philanthropy, o Charity Navigator e a própria Bridgespan, que disse que usaria sua expertise principalmente para realizar pesquisas destinadas a beneficiar o setor como um todo.

“Trabalhamos com as organizações sem fins lucrativos em tipos clássicos de questões estratégicas, obtendo clareza sobre o que estão tentando fazer, colocando seus recursos para trabalhar”, disse Imtiyaz Hussein, que atende por Taz e é um parceiro da Bridgespan que lidera a consultoria sem fins lucrativos do escritório do grupo. “Me foquei no cerne daquilo que tentamos fazer que é fornecer suporte de tomada de decisão para essas organizações.”

Os proponentes dizem que os consultores tornam a atividade mais eficaz. Os críticos questionam se os consultores, mesmo em organizações sem fins lucrativos com boas intenções, são a solução certa para o setor assistencial.

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“O kit de ferramentas da empresa de consultoria é basicamente triturar grandes quantidades de dados quantitativos e analisá-los. O que é ruim para entender é a vida humana”, disse Anand Giridharadas, autor de “Os vencedores levam tudo: a farsa de que a elite muda o mundo”, e que no início de sua carreira trabalhou para a consultoria McKinsey & Company. “Acho que essas pessoas, bem-intencionadas ou não, têm muita dificuldade em abrir mão da própria vocação, da sua vida, de sua visão de mundo e de suas estruturas básicas tão facilmente.”

A Bridgespan pode não ser um nome conhecido, mas seu alcance nos círculos filantrópicos é significativo. O grupo aconselha os maiores nomes da área: a Fundação Bill e Melinda Gates, a Fundação Ford e a Fundação Rockefeller no lado filantrópico e o YMCA dos EUA, o Exército da Salvação e até a produtora de programas infantis educacionais Sesame Workshop em seu setor sem fins lucrativos.

E para os doadores que procuram terceirizar as despesas gerais e, ao mesmo tempo, doar com responsabilidade, os consultores preenchem a lacuna entre a lista de presentes de Jack Dorsey e uma fundação completa com escritórios na Quinta Avenida.

“A Bridgespan ocupa um lugar único no cenário das organizações de serviços profissionais que atendem fundações e famílias com alto patrimônio líquido”, disse Darren Walker, presidente da Fundação Ford. Walker, que tem trabalhado na Bridgespan desde a época que trabalhou na Abyssinian Development Corporation, duas décadas atrás, disse que nenhuma empresa teve mais influência nos últimos 20 anos.

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A Bridgespan foi fundada no ano 2000 por três homens ligados à consultoria de gestão com fins lucrativos Bain & Company, incluindo o então sócio-gerente mundial, Thomas Tierney. Os fundadores receberam US$ 1.3 milhão da empresa de consultoria e US$ 5.5 milhões de um grupo de fundações para ver se uma organização sem fins lucrativos dedicada poderia fazer um trabalho melhor do que consultores com fins lucrativos que se interessam por trabalho voluntário sem remuneração.

A Bridgespan começou durante uma era de “filantropia de risco” e “filantrocapitalismo”. Em suma, os bilionários sabiam mais e iriam levar suas celebradas práticas analíticas ao mundo das organizações sem fins lucrativos. Uma safra inteira de grupos surgiu mais ou menos ao mesmo tempo, como o Rockefeller Philanthropy Advisors, o Center for Effective Philanthropy e da FSG Consultoria, entre eles (todos receberam financiamento da Sra. Scott em sua última rodada de doações).

A própria Bridgespan recebeu um presente da Sra. Scott. A declaração de impostos mais recente da Bridgespan para o ano de 2020 mostrou que as contribuições e subsídios saltaram para US$ 74.7 milhões comparados aos US$ 12.5 milhões no ano anterior, quase dobrando os ativos totais do grupo no final do ano passado. A Bridgespan disse que o aumento reflete uma campanha de capital por cinco anos com diversos doadores e não apenas a doação de Scott.

As atitudes em relação à filantropia bilionária mudaram após a Grande Recessão, com populistas à esquerda e à direita mais desconfiados dos ultra ricos. Mesmo assim, a consultoria de gestão para filantropos e organizações sem fins lucrativos continuou a prosperar. Em parte, isso ocorre porque o bolo continua crescendo.

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De 2000 a 2018, os ativos mantidos por fundações privadas mais do que dobraram, de acordo com o grupo de pesquisa Candid, de US$ 421 bilhões para US$ 950 bilhões. As doações totais triplicaram no mesmo período, o mais recente para o qual há dados completos disponíveis, subindo de US$ 23 bilhões para US$ 72 bilhões, que de acordo com a Candid também recebeu uma doação da Sra. Scott.

Em vez de estabelecer grandes fundações, muitos dos americanos mais ricos agora querem usar empresas de responsabilidade limitada (LLCs), como a Laurene Powell-Jobs, e fundos de doadores, que Scott usou para algumas de suas doações.

“A Bridgespan parece excepcionalmente capaz e bem-disposta a tirar vantagem da mudança de grandes fundações familiares para LLCs que não precisam de funcionários, mas continuam estão doando uma grande soma de dinheiro”, disse Rob Reich, codiretor do Centro de Filantropia e Sociedade Civil na Universidade de Stanford.

Grupos como a Bridgespan também podem preencher a lacuna e servir como equipe terceirizada para que novas fundações encontrem seu espaço.

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Em março, a recém-formada Asian American Foundation tinha apenas cinco funcionários em tempo integral. Depois da morte de oito pessoas em spas da área de Atlanta, seis de ascendência asiática, o grupo foi inundado com promessas e compromissos, incluindo milhões doados por proeminentes membros do conselho, incluindo Joseph Tsai, proprietário do Brooklyn Nets, e mais US$ 1 bilhão comprometido com sua causa por fundações, empresas e indivíduos em um período de oito semanas.

Os números sobre diversidade reportados pela Bridgespan mostram que dois terços da equipe do grupo são mulheres. Os brancos representam menos da metade do quadro geral, bem como menos da metade dos que ocupam cargos de liderança.

Tanto Walker quanto Jeff Bradach, um dos fundadores da Bridgespan, usaram a palavra “jornada” para descrever a adoção pelo grupo de diversidade e inclusão como princípios centrais do trabalho. Bradach, que foi sócio-gerente até outubro, quando deixou o cargo mais alto, ressaltou em uma entrevista que este ainda é um trabalho em andamento e que a Bridgespan cometeu erros no passado.

Embora evite discutir diretamente a política de doações de Scott, por empresa, Bradach rejeitou o conceito de que as organizações sem fins lucrativos poderiam trabalhar com a Bridgespan como uma forma de chamar a atenção dos grandes doadores que a empresa aconselha.

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Bradach disse que apenas 5% das organizações sem fins lucrativos para as quais os clientes filantrópicos da Bridgespan doaram também eram clientes da Bridgespan.

Nesses 5% dos casos, a política da Bridgespan é dizer ao doador que também ela representa a organização sem fins lucrativos. A noção entre as organizações sem fins lucrativos de que poderiam agradar a Bridgespan e depois receber grandes somas de Scott está equivocada, disse Bradach, e também revela um mal-entendido sobre a influência que a Bridgespan exerce sobre os doadores que buscam sua assessoria. “Não é”, disse ele, “uma caixinha de surpresas que as pessoas querem saber o que tem dentro”.

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

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