Viúvas mais ricas do mundo administram US$ 365 bilhões, segundo o Índice Bloomberg de Bilionários. Foto: Adobe Stock
As mulheres estão no centro da chamada “Grande Transferência de Riqueza” (ou “The Great Wealth Transfer”, em inglês), fenômeno gradual que representa uma mudança de capital entre gerações e deve mexer com o mercado financeiro. Segundo o Índice Bloomberg de Bilionários, entre as 500 pessoas mais ricas do mundo, mais de uma dúzia de esposas se tornaram bilionárias após a morte de seus cônjuges.
Hoje, essas mulheres administram fortunas volumosas, totalizando US$ 365 bilhões – um valor quase três vezes maior do que em 2016, de acordo com o indicador. Elas receberam o que se conhece como herança lateral, proveniente de seus casamentos. Entre os exemplos, está Julia Koch, que herdou junto com seus filhos uma participação de 42% nas Indústrias Koch, após a morte do marido, David Koch, em 2019, aos 79 anos. Atualmente, a família possui um patrimônio estimado em US$ 79,3 bilhões.
Outro caso é o de Iris Fontbona, viúva de Andrónico Luksic, empresário que construiu uma fortuna em mineração e bebidas antes de morrer de câncer em 2005. Atualmente, Fontbona e seus filhos controlam a Antofagasta Plc, dona de minas de cobre no Chile e com ações negociadas na Bolsa de Valores de Londres.
Já Miriam Adelson, uma das grandes apoiadoras do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é viúva de Sheldon Adelson – ex-CEO e presidente da rede de cassinos Las Vegas Sands – e herdou o controle da companhia após a morte do marido em 2021, aos 87 anos. As ações da empresa são negociadas na Bolsa de Nova York.
Esses são apenas alguns exemplos de uma tendência estrutural, apontam os pesquisadores. Um estudo do Bank of America Institute, divulgado neste ano, estima que cerca de US$ 124 trilhões em riqueza serão transferidos nos Estados Unidos até 2048. Desse total, aproximadamente US$ 54 trilhões devem ser repassados a cônjuges sobreviventes, com 95% dessa fatia indo para mulheres. Outros US$ 47 trilhões devem ser herdados por figuras femininas das gerações mais jovens.
O estudo também aponta avanços na redução da desigualdade de gênero nos EUA. Segundo dados internos do Bank of America, a diferença no crescimento da renda anual mediana entre homens e mulheres caiu para cerca de 4% no fim de 2024, ante 6,5% em 2022.
O aumento dos salários, aliado à “Grande Transferência de Riqueza”, coloca as mulheres em posição de se tornarem as principais impulsionadoras do crescimento econômico mundial, na visão do banco. “As mulheres estão prestes a controlar mais riqueza do que nunca e a forma como elas decidirão administrar e investir esse dinheiro tende a ter um impacto profundo e duradouro na economia global”, destaca.
Ainda assim, um estudo do UBS revelou que a maioria das mulheres não se sente preparada para administrar esses níveis inéditos de patrimônio. O levantamento entrevistou 2 mil investidoras americanas com pelo menos US$ 1 milhão em ativos, entre 1º de novembro e 29 de dezembro de 2024.
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Quase 75% das participantes acreditam que enfrentarão algum tipo de desafio no processo sucessório. Além disso, 43% nunca viram o testamento dos pais e cerca de um terço não sabe onde os bens estão localizados, como serão divididos ou se existe um plano formalizado.
Entre aquelas que já receberam heranças dos pais, quase um terço nunca teve conversas prévias sobre a transferência e quatro em cada dez receberam os bens sem nenhum planejamento sucessório ou patrimonial definido. Essa falta de diálogo fez com que 80% das herdeiras enfrentassem dificuldades para lidar com o processo. Mais da metade descobriu “surpresas financeiras” durante a transferência: muitas ficaram impressionadas com o valor dos impostos ou com o tempo que levaram para receber a herança.
As viúvas relataram problemas semelhantes: 83% encontraram dificuldades ao assumir sozinhas o controle do patrimônio familiar. Assim como no caso das herdeiras de pais falecidos, muitas não tinham um plano sucessório estabelecido com o parceiro, e uma em cada quatro afirmou não saber onde estavam todos os bens do marido antes do falecimento.
Entre as mulheres que já passaram por esse processo, há um consenso sobre o que poderia ter facilitado a experiência e o que recomendam para quem ainda vai herdar: entender o tamanho e a estrutura do patrimônio com antecedência, planejar os impostos e manter conversas abertas sobre expectativas financeiras com quem irá transferir os bens.