Comportamento

Grandes bancos querem mais mulheres líderes no mercado financeiro

Instituições financeiras se unem em curso que pretende incluí-las em áreas econômicas

Grandes bancos querem mais mulheres líderes no mercado financeiro
Sylvia Coutinho, CEO do UBS, é a primeira mulher a presidir um banco estrangeiro no Brasil. (Foto: Divulgação)
  • O Dn’A Women (Develop and Achieve Women) é um curso gratuito de desenvolvimento pessoal e profissional a mulheres estudantes criado em parceria entre os bancos Goldman Sachs, BNP Paribas, Deutsche Bank e Grupo UBS no Brasil
  • Com o objetivo de incentivar a diversidade, equidade e liderança das mulheres no mercado financeiro, a quarta edição do programa está com as inscrições abertas
  • Sylvia Coutinho, presidente do UBS no Brasil, é um dos nomes de peso a quem as alunas do projeto podem recorrer durante a trajetória de crescimento no mercado de trabalho

Quando começou a faculdade de economia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 2018, Mayara Menconi queria trabalhar na área de consultoria. Na época, parecia um sonho inalcançável ocupar um cargo no mercado financeiro, ainda mais o posto de analista da mesa comercial de câmbio e renda fixa do Goldman Sachs, um dos maiores bancos e gestores de investimentos do mundo. Ela chegou lá.

Menconi, 23, fez parte da primeira turma do Dn’A Women (Develop and Achieve Women), um curso gratuito de desenvolvimento pessoal e profissional para mulheres estudantes criado em parceria entre os bancos Goldman Sachs, BNP Paribas, Deutsche Bank e Grupo UBS no Brasil com o objetivo de incentivar a diversidade, equidade e liderança das mulheres no mercado financeiro.

Nas aulas, ela aprendeu a lidar com o mercado financeiro, finanças pessoais, comunicação, liderança e autoconhecimento. Isso permitiu que a jovem driblasse a chamada “síndrome de impostora” e fosse atrás da carreira que sonhava construir. “Lembro da primeira vez que falei com meus mentores do programa sobre a mesa de operações. Cogitei nem colocar isso como uma opção, porque era muito difícil de entrar. Mas, quando cheguei com esse discurso de não ser boa o suficiente, o Dn’A inteiro estava lá para me mostrar o que eu podia fazer e me dar essa dose de coragem de ir atrás do que eu queria”, conta.

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Menconi participou da edição de 2019 do programa e, em 2020, conquistou uma vaga de estágio no Goldman Sachs. Depois subiu para o cargo de trainee até que em março deste ano foi efetivada como analista da mesa de operações do banco. Tudo isso, diz, graças ao apoio que recebeu das colegas e mentoras que conheceu no Dn’A.

“O Dn’A fez muita diferença na minha vida e eu sei que se eu não tivesse mulheres fortes me incentivando e me ajudando não teria chegado até aqui”, diz ela.

Em um mercado de trabalho ainda dominado por homens, o objetivo do programa é preparar mais mulheres para postos de liderança e assim aproximar cada vez mais o mundo financeiro da equidade de gênero.

E quem veio antes quer trazer mais gente para este barco. No Goldman Sachs, Menconi entrou para o comitê de mulheres da instituição, uma forma de retribuir e repassar os aprendizados e apoio que recebeu.

A quarta edição do Dn’A está com as inscrições abertas até 7 de julho por meio do site: https://vagas.ciadetalentos.com.br/hotsite/dnawomen2022. Há 60 vagas disponíveis.

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Para participar do processo seletivo é necessário ser mulher cis ou transgênero, morar no estado de São Paulo, ter nível intermediário de inglês e estar cursando qualquer universidade com a graduação prevista entre o final de 2024 e 2025.

“Temos que contribuir para que mulheres vejam o mercado financeiro como uma opção real e promissora desde o início das suas carreiras”, diz Sylvia Coutinho, CEO do UBS no Brasil.

No Dn’A desde a primeira edição do programa, Sylvia Brasil Coutinho, presidente do UBS no Brasil, é um dos nomes de peso a quem as alunas do projeto podem recorrer durante a trajetória de crescimento no mercado de trabalho.

Coutinho é a primeira mulher a presidir um banco estrangeiro no Brasil e, antes de se juntar ao UBS em 2013, passou 29 anos em cargos de liderança em outras instituições.

No Dn’A, ela tem a missão de preparar e ajudar mais mulheres a romperem o ‘tabu’ de que o mercado financeiro é um lugar masculino.

Ao E-Investidor, Coutinho falou sobre a importância das iniciativas que promovem a equidade de gênero no mercado.

E-Investidor – Por que ainda vemos poucas mulheres em cargos de liderança no mercado financeiro? O que falta para que mais mulheres possam ocupar este lugar?

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Sylvia Coutinho – Ainda há muito tabu e preconceito de que o mercado financeiro não é lugar para mulheres. Por ser um setor muito competitivo e ainda dominado pelos homens, há uma visão equivocada de que não podemos crescer, pessoal e profissionalmente, nesse ambiente.

Infelizmente, muitas deixam de escolher esse caminho como alternativa de trabalho, o que acaba reduzindo as chances e oportunidades de crescimento para que as mulheres cheguem às posições de comando.

É importantíssimo que quebremos esse paradigma e que desde o início da carreira tenhamos igualdade (ou neutralidade) de gênero para que ao longo de todos os patamares profissionais, inclusive nos cargos de liderança, continuemos com essa equidade.

Sabemos que esse é um processo demorado, mas iniciativas como o Dn’A Women querem e podem acelerar esse processo, e ajudam a desmistificar alguns destes tabus sobre o mercado financeiro.

Sabemos que a diversidade não é apenas uma bandeira dentro das empresas, mas também uma estratégia para melhores resultados. De que forma a diversidade ajuda o desempenho das empresas?

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Coutinho – Realmente vai muito além de uma bandeira. Pensamos e trazemos inclusão e diversidade em tudo o que fazemos dentro do banco UBS, por exemplo. É comprovado por diversos estudos que uma equipe com diversidade de ideias, perfis, vivências, e habilidades é mais produtiva e gera melhores resultados.

Equipes diversas tendem a buscar soluções inovadoras, desenvolver melhor conexão e trazer novos olhares. Ampliar a diversidade dentro do banco UBS, e do mercado financeiro, é uma estratégia vencedora que trará frutos às empresas e para a sociedade.

Posso falar isso com toda a certeza, já que sou a primeira mulher a presidir um banco estrangeiro no Brasil e me orgulho de ter um comitê executivo formado por 50% de mulheres.

Qual é a missão do Dn’A Women?

Coutinho – Capacitar e qualificar estudantes universitárias mulheres cisgênero e transgênero para apoiar e promover o desenvolvimento de suas carreiras e conhecimentos básicos sobre o mercado financeiro. Acredito firmemente que, para maior equidade ou neutralidade de gênero em cargos mais elevados no futuro, temos que contribuir para que elas vejam o mercado financeiro como uma opção real e promissora desde o início das suas carreiras.

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O Dn’A Women também é aberto para mulheres transgênero, que, assim como as mulheres negras, tem ainda menos espaço no universo financeiro. O que pode ser feito para ampliar essa inclusão?

Coutinho – O programa é aberto a todas as pessoas que se identificam como sendo do gênero feminino. Ampliar espaço para mulheres trans e mulheres negras é igualmente fundamental, agregando ainda mais à diversidade, mas ainda precisamos fazer mais esforços para que os caminhos se abram.

Essa jornada vai desde a nossa responsabilidade em nos prepararmos como gestores, mantendo um constante preparo para quebrarmos nossos vieses inconscientes, assim como ações afirmativas, como parceria com núcleos de colocação profissional focada em pessoas trans e ou negras.

É preciso destacar que essa é também uma iniciativa ligada à pauta ESG, um tema que precisa permear todas as camadas da sociedade. No UBS, este assunto tem ocupado um lugar de total relevância.

Além da parte financeira, o curso é focado nas soft-skills, habilidades comportamentais como autoconhecimento e oratória. Qual a importância do desenvolvimento comportamental no mercado de trabalho atualmente?

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Coutinho – Inteligência emocional e desenvolvimento comportamental já eram importantes e, com a vivência da pandemia nos últimos anos, se tornaram ainda mais. O mercado de trabalho vive em constante evolução, temos múltiplas gerações convivendo simultaneamente e com a pandemia passamos por momentos de extrema instabilidade, na qual mudanças drásticas na forma de trabalho aconteceram muito rápido.

Estar preparada com soft-skills é fundamental para lidar com mudanças, pessoas, e garantir um ambiente inclusivo a todos e todas.

Se pudesse dar um conselho para mulheres mais jovens que sonham em seguir carreira no mundo financeiro, qual seria?

Coutinho – Venham! É um mercado que trará desafios, aprendizagem e um ambiente de conquistas e sucesso para todas as que buscarem uma carreira aqui!

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