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Comportamento

Home office freia ascensão de mulheres millennials no mercado financeiro

Sem o contato próximo, jovens têm mais dificuldade em romper barreiras no masculino mundo das finanças

Home office freia ascensão de mulheres millennials no mercado financeiro
A estátua da "Fearless Girl", um dos poucos símbolos femininos do masculino mundo de Wall Street e de todo o mercado financeiro. (Brendan McDermid/ Reuters)
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  • Mulheres ocupam menos de um terço dos empregos no mercado financeiro norte-americano
  • Com o home office, elas têm maior dificuldade de quebrar o preconceito ainda forte em Wall Street
  • Redes de contato entre colegas é forma de reduzir o prejuízo à ascensão profissional

(The Washington Post/ Bloomberg) – Para uma geração de mulheres que trabalha no mercado financeiro, as aspirações de progresso profissional podem depender da possibilidade de voltar ao escritório ou à mesa de operações.

Ambika Church, uma millennial de 24 anos, é exemplo vivo desse dilema. Vendedora de produtos de renda fixa na TD Securities, ela sabe que a interação pessoal com colegas e superiores hierárquicos é crucial para acumular as habilidades necessárias se quiser galgar uma carreira complexa e até hoje dominada por homens. Com apenas dois anos de vida profissional nas costas, Ambika voltou para a casa dos pais, em Seattle, depois de deixar Nova York em abril por causa da pandemia.

“A gente para de absorver o clima ao nosso redor, em que todos estão sempre resolvendo problemas e, por consequência, nos ensinando”, diz ela. “São lições informais que aprendemos ao observar outros vendedores falarem com seus clientes, com o pessoal da mesa e solucionarem situações complexas. Ainda estou descobrindo quais são minhas habilidades e como vou me transformar na vendedora que desejo ser”.

Mulheres ocupam menos de um terço dos cargos em áreas do setor financeiro

Em algumas áreas do setor financeiro, as mulheres não ocupam nem um terço dos cargos. Agora, em face de um período prolongado de trabalho remoto, a situação pode ficar ainda pior para as jovens que acabam de entrar no mercado – sobretudo porque isso reduz as ocasiões para fazer novos contatos e superar preconceitos. Lisa Kaplowitz, diretora do Centro para Mulheres nos Negócios da Rutgers Business School, afirma que a interação pessoal é fundamental para atrair aliados profissionais capazes de ajudar as jovens executivas a prosperar. Isso é particularmente decisivo nos bancos, onde os postos de chefia são tradicionalmente ocupados por homens.

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“Na falta de momentos de convívio direto com chefes e gestores, as mulheres têm menos oportunidade de comprovar sua inteligência e rapidez de raciocínio”, prossegue Kaplowitz, que exerceu altos cargos em empresas importantes e trabalhou como analista em Wall Street. “Mesmo quando estão sentadas na sala junto com colegas do sexo masculino, as mulheres sempre sentiram menos autoconfiança na hora de se fazer ouvir. Este é um relato que ouço de muitas profissionais, e isso só piora quando as reuniões passam a ser realizadas por Zoom”.

É evidente que os primeiros anos de carreira são determinantes tanto para mulheres quanto para homens. Mas há muito tempo as mulheres enfrentam uma série de obstáculos para avançar, e qualquer contratempo adicional no início da carreira de uma jovem pode ser ainda mais danoso.

De acordo com o U.S. Bureau of Labor Statistics, que coleta dados do mercado de trabalho americano, em 2019 as mulheres representavam 30% de todos os profissionais de vendas nas áreas de títulos, commodities e serviços financeiros. Já entre os analistas, elas ocupavam 34% das cadeiras. Uma pesquisa da consultoria Morningstar mostrou que a porcentagem de mulheres que administram os trilhões estacionados na indústria de gestão de ativos permaneceu estagnada nas últimas duas décadas: pouco mais de 1 a cada 10 profissionais da área.

Trabalho remoto aumenta o desafio das mulheres de conciliar trabalho e família

Do ponto de vista histórico, as mulheres sempre enfrentaram ventos contrários no meio de suas carreiras, no momento em que os filhos entram em cena. Com frequência, são elas que sacrificam a vida profissional – ao menos nas famílias heterossexuais em que os dois parceiros estão empregados. Além disso, o censo americano revela que a remuneração das mulheres nos Estados Unidos equivale a 80% do que é pago aos homens.

Com esse pano de fundo, o trabalho remoto se torna uma espécie de prova prática da teoria sobre mulheres em início de carreira. Vale ressaltar que, no atual contexto, muitas provavelmente estão carregando um fardo ainda maior quando consideradas as responsabilidades domésticas e o cuidado com os filhos.

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Um estudo conduzido em maio por pesquisadoras do Centro para Mulheres nos Negócios e do Centro sobre Mulheres e Trabalho, da Rutgers Business School, mostrou que a porcentagem de homens que dedica pelo menos 5 horas por dia a cuidar das crianças quase dobrou em relação ao nível anterior à pandemia: subiu de 15% para 29%. Para as mulheres, essa porcentagem foi de 23% a 37%.

De acordo com Megan Starr, diretora de impacto do Carlyle Group, a dependência cada vez maior de reuniões por vídeo traz a reboque o risco não-intencional de reforçar ideias pré-concebidas sobre gênero e raça no mundo do trabalho. O Carlyle tem um programa chamado “Better Decisions”, ou decisões melhores, cujo objetivo é criar ferramentas para que as pessoas tomem consciência dessas ideias pré-concebidas – que com frequência se manifestam sem nem mesmo serem percebidas.

“Na era do Zoom, reconhecer a existência do problema é ainda mais importante”, disse Megan num webinar organizado pela Bloomberg News no início de julho. “O relacionamento profissional por videoconferência pode trazer consequências negativas involuntárias e reforçar uma série de tendências de comportamento”.

Para atenuar a distância, rede de contatos entre colegas

Em Wall Street, alguns funcionários já começam a voltar ao escritório. A maioria dos empregadores, porém, mantém quase toda a equipe em casa, sem previsão imediata de retorno – sobretudo em estados onde o número de infectados vem atingindo picos.

Algumas companhias têm organizando encontros para que seus contratados – sobretudo as mulheres – criem uma rede de contatos com colegas. No final de junho, por exemplo, o grupo “Women in ETFs”, que reúne mais de duas mil profissionais do setor de Exchange Traded Funds, realizou um evento por Zoom sobre “a comunicação no mundo remoto”.

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O problema é que o mundo virtual tem limitações. Cathy Gibson, diretora da mesa de operações do Royal London Asset Management, diz que a empresa redobrou a atenção para tipos de estresse mais difíceis de identificar, provavelmente associados ao contexto de home office.

“É claro que a comunicação por Zoom ou FaceTime ajuda”, afirma ela. “Mas não substitui o contato pessoal na hora de sentir se alguém está tenso ou ansioso. Neste momento, mais do que nunca, precisamos estar alertas ao cuidado uns com os outros”.

Ambika Church, da TD, prefere ser otimista e se considerar uma pessoa de sorte: como já tinha dois anos de estrada antes da pandemia, teve tempo para encontrar mentores na sua profissão. Mas a rotina de trabalho no escritório faz falta, mesmo que alguns aspectos do cotidiano (como compartilhar inteligência de mercado com os colegas) não representem um problema no ambiente remoto.

“Nosso setor está colhendo lições importantes nesse período – todos os setores estão”, afirma a jovem vendedora. “No mundo ideal, teríamos uma mistura das duas possibilidades. Ficar em casa tem vantagens, mas algumas coisas a gente só aprende quando está no escritório”.

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(Tradução: Beatriz Velloso)

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