- Por alguns meses já, os criptoaficcionados têm comentado a respeito da ascensão da “comunidade NFTs”, ou tokens não fungíveis, um tipo de colecionável digital que combina o apelo do enriquecimento rápido das criptomoedas à exclusividade de um título de clube de campo.
- Os NFTs mais valiosos - incluindo a coluna que vendi como NFT este ano por mais de US$ 500 mil - atraem compradores pela mesma razão que as pinturas da Renascença: porque são únicos.
- “Explico para minha família e amigos que tem gente que compra roupa na Supreme, tem gente que compra um Rolex”, disse-me em entrevista Clayton Patterson, de 23 anos, um dos fundadores dos Pudgy Penguins. “Há muitas maneiras de contar pra todo mundo que você é podre de rico, mas muitas dessas coisas podem ser falsificadas. O NFT não dá pra falsificar.”
(Kevin Roose, The New York Times) – No início desta semana sofri um ataque de pinguins. Não de pinguins reais, imagine. Eram Pudgy Penguins – um bando de contas de Twitter que usam desenhos de pinguins como avatares, que desabou em cima de mim com mensagens como “Bem-vindo ao club pengu!” e “Curta a muvuca!”.
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Conforme os comentários se acumulavam, eu via pinguins de óculos escuros e pinguins de sombreros, pinguins com gravatas-borboleta e pinguins com moicanos. As dezenas de pinguins viraram milhares; logo, minha timeline estava repleta de intrusos com corpinhos bulbosos e bicos, todos me felicitando por ter me juntado a eles.
O que eu havia feito para merecer tamanhas boas-vindas? Bom, alguns minutos antes, eu tinha comprado meu próprio Pudgy Penguin, o que me marcou como proprietário de um dos mais estranhos e novos símbolos de status na internet.
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Por alguns meses já, os criptoaficcionados têm comentado a respeito da ascensão da “comunidade NFTs”, ou tokens não fungíveis, um tipo de colecionável digital que combina o apelo do enriquecimento rápido das criptomoedas à exclusividade de um título de clube de campo.
Se você sabe algo a respeito de NFTs, provavelmente sabe que eles são objetos digitais únicos – tokens criptográficos hospedados na blockchain Ethereum, que equivalem a um ativo digital, tal como um clip de melhores momentos da NBA ou uma obra de arte digital. Os NFTs mais valiosos – incluindo a coluna que vendi como NFT este ano por mais de US$ 500 mil – atraem compradores pela mesma razão que as pinturas da Renascença: porque são únicos.
Comunidades de NFTs, em contraste, são projetos em grupo. Elas são lançadas como conjuntos de imagens ligadas tematicamente que podem ser negociadas. Comprar um NFT comunitário normalmente nos dá alguns privilégios, incluindo assinaturas a servidores de Discord ou acesso a algum canal privado de Telegram, onde podemos conversar com outros proprietários (a maior regalia, porém, é poder mudar a foto de perfil no Twitter para o NFT, tonando-se parte da turma).
“Explico para minha família e amigos que tem gente que compra roupa na Supreme, tem gente que compra um Rolex”, disse-me em entrevista Clayton Patterson, de 23 anos, um dos fundadores dos Pudgy Penguins. “Há muitas maneiras de contar pra todo mundo que você é podre de rico, mas muitas dessas coisas podem ser falsificadas. O NFT não dá pra falsificar.”
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Patterson, que usa o pseudônimo on-line de “mrtubby”, é um estudante de ciência da computação da Universidade da Flórida Central. Ele inaugurou os Pudgy Penguins juntamente com três colegas de classe, durante o verão, após ver outras comunidades de NFTs decolarem. Eles escolheram pinguins como tema porque as aves parecem acessíveis e amigáveis – e concordaram em usar um algoritmo para gerar 8.888 pinguins únicos, com diferentes combinações de vestuários, expressões faciais e acessórios.
“Havia um imenso potencial de meme em pinguins gordinhos, então decidimos entrar na onda”, afirmou Patterson.
A primeira comunidade de NFTs foi a CryptoPunks, uma série de 10 mil personagens pixalizados que começaram a ser vendidos em 2017. Eles se tornaram um luxuoso símbolo de status, com imagens vendidas por milhões de dólares, e abriram caminho para outras comunidades de NFTs, incluindo a Bored Ape Yacht Club, um grupo de 10 mil cartuns de primatas que atualmente são vendidos por até US$ 45 mil cada.
Patterson e os cofundadores dos Pudgy Penguins esperam que a comunidade acabe ascendendo ao panteão dos NFTs. A primeira coleção esgotou em 20 minutos, e o equivalente a mais de US$ 25 milhões em pinguins já foram negociados, de acordo com o site NFT Stats, que reúne informações a respeito de vendas de NFTs.
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No início desta semana, era possível comprar um pinguim por alguns milhares de dólares, mas pinguins com elementos raros, como fundos coloridos ou medalhas de ouro no pescoço, podem alcançar preços muito maiores. O mais caro foi o Pudgy Penguin #6873, que foi vendido por US$ 469 mil.
Mandei mensagem pro Patterson perguntando se ele sabia me aconselhar a respeito de como conseguir comprar um Pudgy Penguin sem estourar minha conta bancária. (Infelizmente, a política de gastos do New York Times não cobre JPEGs de aves). “Peraí, acho que te consigo algo”, respondeu ele.
Minutos depois, dois Pudgy Penguins – #3166 e #5763 – apareceram na minha carteira de criptomoedas. Um dos pinguins usa um gorro do-rag e óculos escuros; o outro, um boné de beisebol com o desenho de um iglu e uma jaqueta que parece de aviador. Foi um presente, afirmou Patterson, em agradecimento pela minha disposição em aprender a respeito da comunidade. (Já que eticamente não posso aceitar presentes de fontes, devolverei meus Pudgy Penguins a Patterson depois da publicação desta coluna).
Vários donos de Pudgy Penguins me contaram que, ao mesmo tempo que esperam lucrar se o preço dos pinguins continuar aumentando, eles os consideram principalmente uma oportunidade social. A comunidade Pudgy Penguins afirma que há mais de 4 mil donos de pinguins atualmente, e o servidor Discord do grupo, que para se juntar não é necessário ter um pinguim, é um frenesi hiperativo de memes de pinguins, celebrações de novas compras e trocas de estratégias a respeito de como convencer criptocelebridades a se juntar ao clube. (O grupo se deu bem na terça-feira (17), quando Alexis Ohanian, um dos fundadores do Reddit, ostentou no Twitter seu Pudgy Penguin recém-adquirido).
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“A galera da comunidade é demais”, afirmou Christopher Aumuller, de 29 anos, dono de Pudgy Penguins que vive no Queens. “A maioria só fica de boa, compartilhando memes de pinguins.”
Tiffany Zhong, empreendedora de criptomoedas e investidora, afirmou que parte da atratividade dos pinguins vem do fato de que outros NFTs populares ficaram caros demais.
“O consumidor médio foi excluído pela valorização desses projetos”, afirmou ela. “E então, as pessoas que tentam entrar nesse mundo ficam se perguntando, ‘Qual será o próximo grande projeto para eu conseguir entrar?’.”
Aos não iniciados, os Pudgy Penguins podem parecer fundamentalmente sem sentido – e, de algumas maneiras, são mesmo. Mas eu não apostaria contra eles pela mesma razão que não apostaria contra o contínuo apelo das marcas azuis de verificação no Twitter e os antiquados nomes de usuário no Instagram.
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Humanos são criaturas em busca de status, como lobos que sempre procuram novas maneiras de elevar-se na hierarquia da matilha. A primeira iteração da internet tendia a homogeneizar distinções de status – ou pelo menos tornava mais difícil essa definição, “Na internet, ninguém sabe que você é apenas um cachorro”, dizia o provérbio; mas algumas tecnologias, incluindo de NFTs, permitiram sinalizações mais óbvias de status.
Os NFTs são brinquedos de gente rica? Um desperdício de dinheiro que poderia ser mais bem gasto em outras coisas? Sem dúvida. Mas o mesmo pode ser dito de carros esportivos e bolsas de grife.
Há algo moralmente indefensável a respeito de pessoas que compram e vendem colecionáveis de blockchain por várias vezes o valor do salário médio anual dos americanos? Provavelmente sim, mas essas pessoas não estão prejudicando ninguém. (Veja desta maneira: uma das coisas menos nocivas que posso imaginar é um grupo de jovens, homens em sua maioria e extremamente tecnológicos, usando seu tempo livre para negociar imagens com cartuns de pinguins).
A pior coisa que poderíamos dizer a respeito das comunidades de NFTs é que elas estimulam pessoas a gastar fortunas em nome do direito de se gabar digitalmente e que otários acabarão, inevitavelmente, ficando com algo sem valor quando essa bolha estourar. Mas duvido que muitos fãs sejam dissuadidos com esses argumentos.
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Eu disse a Zhong, a criptoempreendedora, que ainda estava confuso a respeito do atrativo dos Pudgy Penguins, que não parecem fazer nada além de chamar atenção.
“Essa é metade da resposta”, afirmou ela. “Ninguém sabe direito o que está acontecendo, mas tudo é muito divertido.”
Tradução: Agusto Calil