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- As firmas de private equity de hoje estão injetando capital em setores de rápido crescimento, como energia solar, captura de carbono e armazenamento de bateria.
- Os fundos de private equity que investem apenas em ativos de energia renovável levantaram cerca de US$ 52 bilhões no ano passado - um recorde, de acordo com a Preqin, uma provedora de dados.
(Benjamin Robertson, Melissa Karsh, Bloomberg) – A indústria de aquisições há muito é uma grande apoiadora de negócios com combustíveis fósseis. Agora está lançando novos fundos de ativos verdes a um ritmo recorde, na tentativa de atrair o dinheiro institucional que flui para investimentos amigáveis ao clima.
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As firmas de private equity de hoje – entre elas a maior gestora de ativos alternativos do mundo, a Blackstone Group Inc. – estão injetando capital em setores de rápido crescimento, como energia solar, captura de carbono e armazenamento de bateria. Parte da atração decorre da rápida adoção da energia eólica e solar à medida que aumenta a demanda pública por responsabilidade climática. É uma mudança na estratégia de investimento que vem depois de anos de idas e vindas para o setor de energias renováveis.
Especialmente nos últimos 18 meses, fatores ambientais, sociais e de governança também se tornaram uma preocupação muito mais forte para os investidores norte-americanos, disse Kelly DePonte, diretora-gerente da Probitas Partners, que ajuda a levantar dinheiro para fundos de private equity. Assim como os investidores europeus, eles estão começando a priorizar os chamados fatores ESG com seriedade. E para onde vai o dinheiro, também vai o private equity.
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Os investidores em private equity, assim como os fundos de pensão, “estão deixando de investir em petróleo e gás, independentemente dos retornos, em busca das metas de carbono neutro”, disse DePonte. “Embora ainda seja um movimento pequeno, está crescendo – e muitos desses pioneiros são grandes”.
Em dezembro, o New York State Common Retirement Fund, o terceiro maior fundo de pensão público dos Estados Unidos, comprometeu-se a atingir zero emissões de gases de efeito estufa em seus investimentos até 2040. O California State Teachers’ Retirement System, a segunda maior previdência pública do país, está planejando criar um portfólio sustentável para os mercados privados e investir entre US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões nos próximos dois anos. Já o Ontario Teachers’ Pension Plan no início deste ano se comprometeu a alcançar emissões líquidas zero em seu portfólio de investimentos em três décadas.
Os fundos de private equity que investem apenas em ativos de energia renovável levantaram cerca de US$ 52 bilhões no ano passado – um recorde, de acordo com a Preqin, uma provedora de dados. Além disso, o dinheiro arrecadado até agora neste ano para esses fundos está ultrapassando a arrecadação de recursos de combustíveis fósseis por um fator de cerca de 25.
“O movimento em direção ao investimento focado em ESG está começando a privar o fornecimento de capital para o setor de energia convencional”, disse Dave Lowery, chefe de insights de pesquisa da Preqin. Os fundos de energia renovável levantaram US$ 258 bilhões na década até 2020, representando cerca de um terço do setor de energia em geral, disse ele. Mas a parcela de fundos que vai para a energia renovável vem aumentando significativamente desde 2016 e está em cerca de 80% até agora em 2021, mostram os dados da Preqin.
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A Blackstone, que tem participações de longa data em empresas de combustível fóssil, está entre as que impulsionam os negócios que se concentram na transição para uma energia mais limpa, tanto em seu mercado de private equity quanto de crédito. Entre os investimentos mais notáveis se encontram a empresa de infraestrutura de energia Sabre Industries Inc., a fornecedora de armazenamento de energia Aypa Power, as empresas de energia solar Loanpal LLC e Altus Power America e a Therma Holdings, que fornece serviços de eficiência energética.
Outros players de private equity – escaldados pelo boom e queda do xisto e pelo colapso dos preços do petróleo com a chegada da covid – estão fazendo um movimento semelhante. A Warburg Pincus está se afastando dos investimentos em combustíveis fósseis; seu próximo fundo de aquisição global, em vez disso, investirá em energias renováveis e tecnologia de energia. A Riverstone Holdings, uma das maiores firmas de private equity com foco em energia do mundo, está aumentando sua exposição a formas mais sustentáveis de energia, informou a Bloomberg em março.
Da mesma forma, os investidores também reduziram seus compromissos com os fundos tradicionais de petróleo e gás devido aos baixos retornos do setor.
Os gestores de fundos agora estão percebendo que os investidores querem ver uma mudança para as energias renováveis, ou pelo menos uma estratégia para reduzir as emissões de ativos sujos, disse Will Jackson-Moore, diretor de Private Equity, Ativos Reais e Fundos de Investimento Soberanos da PwC. “Haverá uma quantidade significativa de dinheiro ganho e perdido na transição energética”, disse ele.
Fundos em energias convencionais não desaparecerão
Essa mudança faz parte de uma história maior sobre um setor financeiro que está constantemente reavaliando seus investimentos em setores que contribuem diretamente para as mudanças climáticas e outros problemas ambientais e sociais. Este ano, pela primeira vez, os bancos estão prestes a comprometer mais financiamento para projetos favoráveis ao clima do que aos produtores de petróleo, gás e carvão. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tentou colocar o clima no centro de sua agenda, assim como os legisladores da Europa, onde as regras de divulgação em torno das métricas de ESG estão definindo o ritmo global para a mudança.
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Isso não quer dizer que os investimentos dos fundos de private equity em energias convencionais desaparecerão. Os combustíveis fósseis continuarão sendo uma engrenagem vital na economia mundial nas próximas décadas. A KKR & Co. anunciou no início de junho planos para construir um veículo de aquisição de óleo de xisto com a combinação de dois exploradores pouco conhecidos de US$ 5,7 bilhões. A entidade combinada irá aspirar ativos de óleo de xisto excessivamente alavancados, informou a Bloomberg. E os preços do petróleo nos Estados Unidos estão melhores este ano, com o petróleo fechando acima de US$ 75 na semana passada pela primeira vez desde 2018.
Somando-se a isso, um gerente focado em energia disse que é difícil colocar dinheiro para trabalhar para gerar retornos semelhantes aos de private equity em renováveis, com alguns projetos ainda sem a escala que um investidor possa estar procurando. Cerca de uma década atrás, as energias renováveis provaram ser uma aposta ruim, com os fabricantes de painéis solares dos Estados Unidos e da Europa em particular entrando em colapso diante de uma enxurrada de importações chinesas baratas. Os grandes fracassos deixaram um estigma em torno das energias renováveis, disse outro gerente, enquanto outros acharam os projetos muito caros ou dependentes de subsídios do governo.
Ainda assim, os fundos voltados para energia renovável mais antigos conseguiram superar a performance dos fundos de energia convencional, embora a vantagem de desempenho pareça ter diminuído com o tempo, de acordo com dados compilados pela Preqin. Por exemplo, a média da taxa de retorno líquida para fundos de energia convencional que começaram a investir em 2010 indicou uma perda de 5,6% desde o início até março de 2021, ao passo que os fundos focados em renováveis do mesmo período ganharam 8%. Para a safra de 2018 desses fundos, segundo os dados significativos mais recentes disponíveis, os ganhos médios desde o início foram de 13% e 8%, respectivamente.
“Os fundos com foco nas energias renováveis fechados no período entre 2010 e 2018 conseguiram superar significativamente os fundos com foco na energia convencional”, disse Lowery. “Isso sugere que talvez tenha ficado mais difícil entregar um desempenho superior à medida que a classe de ativos cresceu em popularidade e tamanho, e os retornos parecem estar convergindo”.
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O private equity continua sendo um investidor significativo no setor de energia, concluindo US$ 261 bilhões em negócios desde 2017, cerca de 20% do total das transações, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os investimentos americanos em energia renovável por firmas de private equity chegaram a US$ 23 bilhões em 2020, o maior valor anual até hoje, de acordo com o American Investment Council.
Ao contrário de um proprietário de fundo mútuo, que normalmente detém uma pequena porcentagem em centenas de ações listadas publicamente, um fundo de aquisição pode impulsionar mudanças por meio do controle sobre a administração e os nomeados para o conselho. Isto é importante porque, com o capital geralmente bloqueado por uma década, tanto os gerentes quanto os investidores precisam considerar como as mudanças na regulamentação e no ambiente irão prejudicar os lucros operacionais e impactar o valor de qualquer ativo ao longo desse tempo.
O medo de ficar preso com um ativo que não pode ser vendido é um motivo pelo qual alguns gerentes não tocam em nada que não atenda às métricas ESG. “Uma das questões cruciais que enfrentamos é: quem vai comprar este negócio daqui a cinco anos?”, disse Philippe Poletti, chefe da equipe de aquisições da firma de private equity Ardian. “Se não encontrarmos players estratégicos que possam estar interessados em comprá-lo, não faremos um acordo”.
Esta é apenas uma das lições aprendidas com os consecutivos colapsos do petróleo. “As empresas de energia perderam muito dinheiro, têm sido péssimas administradoras de capital”, disse Wil VanLoh, fundador e diretor executivo da Quantum Energy Partners, que tem sede em Houston.
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A Quantum está levantando um novo fundo que vai dedicar até 30% de seus investimentos à transição energética e à descarbonização, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto.
VanLoh se recusou a comentar sobre a arrecadação de fundos da empresa, mas disse que muitos investidores “torceram o nariz” para o setor dos combustíveis fósseis não apenas por preocupação com o futuro, mas também por causa de seu passado conturbado. “Falando francamente”, disse ele, “eles o deixaram para trás”.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU