- Foi um choque para Brooks e sua família quando ele de repente se tornou uma sensação nas redes sociais no Brasil
- Para seus seguidores do Twitter no Brasil, onde observar as taxas de câmbio é uma espécie de obsessão nacional, Brooks, 51 anos, é simplesmente “o careca”
- A família de Brooks, diz ele, está pasma com seu novo estrelato. “Meus filhos dizem ‘Que diabos? Esse aí é o idiota do nosso pai!”
(Ye Xie e Aline Oyamada, WP Bloomberg) – Robin Brooks fala com o tom sóbrio de um Ph.D. em economia que dedicou grande parte da carreira a calibrar modelos de valor justo para taxas de câmbio.
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Então, foi um choque para Brooks e sua família quando ele de repente se tornou uma sensação nas redes sociais no Brasil. Mas Brooks é uma raridade nos círculos financeiros dos EUA: aposta na valorização do real brasileiro no longo prazo. E foi esse otimismo inabalável, mesmo nos piores momentos do colapso pandêmico da moeda, que fez dele o rosto público do rali vertiginoso que transformou o real na principal moeda de melhor desempenho do mundo este ano.
Para seus seguidores do Twitter no Brasil, onde observar as taxas de câmbio é uma espécie de obsessão nacional, Brooks, 51 anos, é simplesmente “o careca”. Ou, às vezes, “o careca do Goldman”. Na verdade, ele já não trabalha no Goldman Sachs há cinco anos, mas o nome soa muito melhor do que o “careca do Institute of International Finance”, onde trabalha atualmente como economista-chefe, em Washington.
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Cada tweet com viés de alta do real que ele publica é imediatamente recebido com milhares de curtidas e dezenas de respostas dizendo “no careca nós confiamos”, as quais se tornaram uma espécie de marca registrada de seus seguidores.
Os mais fervorosos twittam fotos tratadas com photoshop que o retratam como um boxeador ou GIFs louvando-o como “o homem, o mito, a lenda”.
A família de Brooks, diz ele, está pasma com seu novo estrelato. “Meus filhos dizem ‘Que diabos? Esse aí é o idiota do nosso pai!”.
Alguns de seus críticos, que são muitos, também usam uma linguagem semelhante para descrever suas análises. Eles riem de como sua previsão de valor justo para o real – 4,5 por dólar – não mudou em mais de dois anos, apesar de todos os tipos de reviravoltas na economia local e nos mercados globais.
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E eles dizem que sua aposta de alta teve a sorte de pegar duas grandes forças que impulsionam os ganhos da moeda: uma onda de aumentos agressivos nas taxas de juros pelo Banco Central e um boom repentino na demanda global pelas exportações brasileiras de soja, petróleo, minério de ferro e café.
Para Brooks, porém, esses desenvolvimentos refletem apenas sua crença de longa data de que os fundamentos econômicos e de comércio exterior do país estão melhorando e que a moeda continua mais fraca do que deveria, mesmo depois de subir 19% este ano. Ainda é uma visão polêmica. A maioria dos analistas consultados pela Bloomberg prevê que o real vai enfraquecer a partir daqui.
“Continuo falando sobre subvalorização, subvalorização, subvalorização”, diz Brooks. Logo depois que ele divulgou sua análise de alta, a pandemia chegou e os investidores começaram a tirar dinheiro do Brasil a um ritmo tão alarmantemente acelerado que ele diz ter pensado que “o feed do computador estava quebrado”. Essas saídas, diz Brooks, juntamente com as críticas mordazes que ele estava vendo os brasileiros despejarem sobre seus líderes políticos no Twitter, o encorajaram. “Para mim, isso normalmente é sinal de que, ok, as coisas estão meio exageradas. Talvez a moeda tenha valor e o real brasileiro esteja muito barato”.
Isso também explica por que alguns dos fãs mais vocais de Brooks no Twitter brasileiro são apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Para eles, a valorização do real frente ao dólar é um sinal de que Bolsonaro está administrando bem a economia em um momento em que ele se prepara para uma dura campanha de reeleição.
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A moeda em geral recebe atenção exagerada na sociedade brasileira, resultado de décadas de inflação descontrolada que até hoje leva as pessoas a converter parte de seu dinheiro em dólares americanos. O status de figura cult de Brooks na Twittersfera local é uma prova disso. Muitos de seus seguidores parecem genuínos na crença de que ele é um gênio. Para outros, não é uma coisa muito séria.
Na verdade, Brooks hoje em dia twitta principalmente sobre a guerra na Ucrânia e sobre como as sanções estão fracassando na tarefa de estrangular as finanças da Rússia. Esses tweets, no entanto, geralmente atraem muito menos atenção do que quando ele se gaba de suas análises sobre o Brasil.
Nascido e criado na Alemanha, Brooks estudou na London School of Economics e na Universidade de Yale antes de trabalhar no Fundo Monetário Internacional, Brevan Howard e no Goldman Sachs, onde foi o principal estrategista de câmbio da empresa.
Foi durante seu tempo no FMI que ele ajudou a criar um modelo de valor justo para moedas que ele usa até hoje. Brooks apenas mexeu um pouco no modelo para carregar alguns dados de alta frequência.
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O modelo faz estimativas em quase todas as principais moedas de mercados emergentes. Nem todas funcionam bem. A lira turca, por exemplo, foi uma aposta polêmica que deu muito errado. E ele reconhece que sua postura de baixa em relação ao Rand sul-africano parece irrealista neste momento.
“Não quero dizer que consigo prever o futuro”, diz Brooks. “Mas estou feliz por ter acertado no Brasil”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU