Comportamento

Warren Buffett faz 94 anos: como o vendedor de chicletes se tornou o maior investidor do mundo

Bilionário comprou suas primeiras ações aos 11 anos e, desde jovem, mostrou interesse pelo mercado financeiro

Warren Buffett faz 94 anos: como o vendedor de chicletes se tornou o maior investidor do mundo
O megainvestidor Warren Buffett. Foto: Bruno Capelas/Estadão
  • O investidor mais famoso do mundo, Warren Buffett, completa 94 anos nesta sexta-feira (30)
  • Nascido em 1930, em Omaha, no estado de Nebraska nos Estados Unidos, Buffett se interessou desde jovem pelo universo dos investimentos, a partir da influência paterna
  • Com um histórico impressionante de retornos para os investidores, seus conselhos e falas passaram a ser valorizados pelo mercado financeiro ao longo dos anos

Warren Buffet, o maior investidor do mundo, completa 94 anos nesta sexta-feira (30). Com uma fortuna atual estimada em US$ 146,1 bilhões pela Revista Forbes, o empresário ganhou os primeiros centavos de sua vida aos 6 anos de idade, vendendo caixas de chicletes na vizinhança de sua casa. Aos 11 anos, iniciou as compras de ações — prática que se tornaria recorrente ao longo de sua trajetória no mercado financeiro.

  • Leia mais: Berkshire Hathaway, de Buffett, atinge valor de mercado de US$ 1 trilhão

Os primeiros papéis de Buffett foram os da empresa Cities Service Preferred. Ele adquiriu três ações por US$ 114,75. Na biografia A Bola de Neve: Warren Buffett e o negócio da vida, escrita por Alice Schroeder, ele conta que não entendia muito bem sobre a empresa quando comprou o ativo. Sabia apenas que era um dos papéis favoritos de seu pai, Howard Buffett.

No mês em que comprou a ação, sua cotação despencou de US$ 38,25 para US$ 27. Quando os papéis finalmente se recuperaram, Buffett vendeu cada um por US$ 40. A Cities Service, no entanto, logo decolou para US$ 202 por ação. Buffett, então, aprendeu duas lições importantes: não ficar tão concentrado no valor que havia pago pelo papel nem vender impulsivamente para agarrar um lucro pequeno.

Seu interesse precoce por investimentos pode ser explicado pela influência paterna. Por trabalhar como corretor da Bolsa de Valores, Howard Buffett conseguiu mostrar ao filho um pouco do universo de Wall Street desde cedo. Um dos nomes que ficaram na memória do megainvestidor foi o de Sidney Weinberg, então sócio majoritário do Goldman Sachs. Durante o encontro rápido, uma simples pergunta marcou o jovem Warren. “Quando eu estava saindo, ele colocou a mão no meu ombro e me questionou: ‘De que tipo de ação você gosta?’. Ele deve ter esquecido isso no dia seguinte, mas eu me lembrei para sempre”, relata Buffett em sua biografia.

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Com apenas 16 anos, o megainvestidor Buffett iniciou a sua trajetória acadêmica na Universidade da Pensilvânia. Mais tarde, transferiu-se para a Universidade de Nebraska, onde se formou bacharel em Administração. Com a graduação concluída, decidiu se aprofundar ainda mais nos estudos e ingressou no mestrado em Economia na Universidade de Columbia.

Foi lá que teve a chance de conhecer e aprender com Benjamin Graham, seu grande ídolo. Conhecido como o pai do value investing – estratégia de compra de ações que estão abaixo do valor intrínseco da empresa –, Graham desempenhou um papel fundamental na trajetória de Buffett, com grande influência na metodologia de investimentos que ele adotaria nos anos seguintes.

O megainvestidor chegou até a trabalhar para Graham na sua firma de investimentos, a Graham-Newman Corporation, de 1954 a 1956. Após esse período, Buffett decidiu retornar à sua cidade natal, Omaha, em Nebraska, nos Estados Unidos, e iniciar a Buffett Partnership LTD (BPL), sua própria empresa de investimentos que, em apenas seis anos de atuação, superou o patrimônio da companhia de Graham.

Apesar do sucesso da BPL, Buffet dissolveu a empresa em 1969, para focar no desenvolvimento da Berkshire Hathaway – conglomerado que gere um conjunto de companhias subsidiárias de diferentes setores. A história da Berkshire remonta a 1839, quando foi fundada por Oliver Chace, em Rhode Island, nos Estados Unidos, como uma empresa têxtil.

De lá para cá, a companhia mudou o foco dos seus negócios e atingiu, recentemente, uma marca importante: um valor de mercado acima de US$ 1 trilhão, tornando-se a primeira empresa dos Estados Unidos, fora do setor de tecnologia, a alcançar o feito. De acordo com a plataforma Companies Market Cap, a Berkshire é atualmente a oitava companhia mais valiosa do mundo.

Os principais conselhos de Buffett

Com um histórico impressionante de retornos para os investidores, os conselhos e falas de Buffet são extremamente valorizados no mercado financeiro. Nesta reportagem, é possível conferir vinte ensinamentos valiosos do megainvestidor.

Um dos pilares mais conhecidos da estratégia de Buffett é aplicar apenas em empresas que ele compreende totalmente. Por isso, antes de sair comprando ações, ele recomenda que o investidor dedique tempo para entender o modelo de negócios da companhia, conferir os balanços e verificar a reputação da marca no mercado.

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“Buffett costuma buscar empresas com vantagens competitivas difíceis de copiar, protegendo seus negócios da competição. Podem ser vantagens tangíveis, como uma patente exclusiva, ou mais abstratas, como uma marca muito bem construída. Disso vem a máxima de só investir em empresas que ele conhece e compreende”, explica Paula Zogbi, head de conteúdo e research da Nomad.

Para selecionar essas companhias, ele é um grande adepto da análise fundamentalista detalhada, calculando retornos potenciais a partir de métricas dos balanços das empresas. Com os números em mãos, ele busca comprar as ações em momentos em que esse potencial não está precificado – ou seja, quando a empresa está barata na Bolsa.

Vale, no entanto, ter cautela antes de tomar qualquer decisão de compra. Esse foi um dos ensinamentos obtidos por Buffett com o seu amigo e braço-direito na Berkshire Hathaway: Charlie Munger. Uma matéria do Dow Jones Newswires relembra que o megainvestidor apelidou Munger de “abominável homem do não” pela forma como rejeitava potenciais investimentos, inclusive alguns que Buffett, sozinho, poderia ter feito de maneira diferente.

Em 2015, o bilionário escreveu sobre um dos principais ensinamentos que aprendeu na parceria com Munger: “Esqueça o que você sabe sobre comprar negócios justos a preços maravilhosos. Em vez disso, compre negócios maravilhosos a preços justos.”

Outro conselho importante seguido por Buffett é o de manter o pensamento no longo prazo. Ele acredita que o verdadeiro valor de uma empresa se revela ao longo do tempo e os melhores resultados acontecem para quem investe pensando no futuro. “Buffett não se preocupa com as flutuações diárias do mercado. Seu horizonte de investimento é de anos. E, às vezes, décadas. Ele busca empresas com potencial de crescimento a longo prazo e está disposto a esperar pacientemente pelos resultados”, destaca Vicente Guimarães, CEO da VG Research.

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O especialista pontua que esse ensinamento de Buffett denota o seu foco na estratégia conhecida como buy and hold, que em uma tradução literal seria “comprar e esperar”. Quem segue essa linha de investimentos compra ativos e os mantêm por um longo período de tempo, apostando em empresas sólidas e de credibilidade.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, ressalta que o megainvestidor não encara o investimento em ações como uma prática que deve ser permeada por “várias emoções”, mas sim como uma atividade de longo prazo. “O que faz a diferença, na visão de Buffett, é você investir, ser sócio de bons negócios e carregar isso no decorrer do tempo”, diz Alves.

E não se desanime com erros. Mesmo o “oráculo de Omaha” – uma referência aos bons resultados decorrentes de seus investimentos – confessa ter falhado diferentes vezes e não tem problema nenhum em admitir isso. O importante é aprender com as experiências negativas e utilizá-las para aprimorar suas estratégias de investimentos.

Como se inspirar em Buffett para investir?

Na hora de buscar os exemplos de Buffett para investir, é necessário adequar a estratégia ao perfil de cada investidor, seja arrojado, moderado ou conservador. Como o bilionário tem uma meta focada no longuíssimo prazo, perfis menos agressivos ou com objetivos de prazo mais curtos não combinam com a estratégia de investimento em companhias descontadas. Isso porque a aplicação nessas empresas pode demorar para compensar ou sofrer grande volatilidade no curto prazo.

“Você precisa estar disposto, por exemplo, a ver suas ações caírem 50%, porque eventualmente isso pode acontecer. O investidor deve estar confortável com isso. Para quem não tem estômago, essa estratégia pode não ser a melhor. Então, é uma adequação que cada pessoa tem que fazer ao seu perfil”, pondera Alves, da Avenue.

Copiar literalmente a carteira de investimentos de Buffett também tende a ser uma estratégia fadada ao fracasso. Na visão de Zogbi, da Nomad, para se beneficiar da expertise de grandes investidores, é melhor investir em seus fundos ou companhias diretamente. “Digo isso porque investidores como Buffett ou grandes gestores do mercado têm acesso a ferramentas e níveis de liquidez que investidores pessoa física não conseguem replicar, então, tentar copiá-los seria caro e ineficiente”.

Dessa forma, replicar exatamente os investimentos da Berkshire Hathaway pode não ser a melhor opção. Apesar das divulgações abertas da companhia, suas posições também são apresentadas com atraso de pelo menos 45 dias, segundo Alves. Com isso, o investidor pode perder a janela que o megainvestidor considerou ideal para investir.

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A alternativa, nesse caso, é aplicar nas ações da própria Berkshire. É importante lembrar, no entanto, que a empresa tende a ter “desconto de holding” – ou seja, em geral, uma holding não vale o mesmo que a soma das frações detidas de todas as suas investidas.

Outro entrave em comprar as ações da Berkshire são os altos preços dos ativos. Há dois tipos de papéis da empresa: os de classe A (BRK-A) e B (BRK-B). A diferença de preço entre os ativos é chamativa: enquanto os primeiros estão cotados acima dos US$ 700 mil, os segundos são negociados a valores mais baixos, de cerca de US$ 460. “A missão da companhia é gerar valor para o longo ou longuíssimo prazo, então o preço de tela em níveis nominalmente recordes não significa que o potencial de crescimento já foi atingido”, explica Zogbi.

Alves, da Avenue, ressalta que existe uma alternativa para os investidores: comprar frações de ações da Berkshire. No mercado acionário dos Estados Unidos, é possível adquirir metade de um papel, por exemplo. Isso permite que pessoas com menos capital possam diversificar sua carteira com mais eficiência, já que não estão limitadas a comprar um número inteiro de ações. Essa é, portanto, uma facilidade que não existe no mercado nacional.

Há ainda uma outra forma de seguir a filosofia de investimentos de Warren Buffett: via Exchange Traded Funds (ETFs). Em diferentes ocasiões, seja em palestras, entrevistas ou cartas anuais da Berkshire Hathaway, o megainvestidor defendeu que investir nesses ativos era “a melhor coisa a se fazer”, como explicamos nesta reportagem.

Na opinião do bilionário, a grande maioria dos investidores não profissionais têm poucas chances de superar o mercado. Por isso, faz mais sentido investir de forma consistente em um ETF – ativo que acompanha o desempenho de um índice de referência internacional ou nacional. Esses fundos funcionam como uma “cesta” de ações, eliminando a necessidade de escolher individualmente um ativo ou outro.

Dessa forma, os ETFs permitem exposição ampla a diferentes teses de investimentos. O mercado americano tem fundos com as mais diversas estratégias, desde os que replicam índices até os temáticos, como setoriais, de commodities, de empresas pagadoras de dividendos, renda fixa, criptoativos, entre outros.

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Para seguir o conselho de Warren Buffett e aplicar em ETFs, vale tomar certos cuidados. “Justamente por essa ampla variedade, é importante conhecer o produto antes de investir: eles podem ter os mais diversos níveis de risco, então é essencial que sua escolha esteja de acordo com o seu perfil, suas necessidades e objetivos, e seja complementar ao restante da sua carteira de investimentos”, afirma Zogbi, da Nomad.

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