Para Reinaldo Rabelo, CEO da exchange Mercado Bitcoin, as criptomoedas estão apenas em seus primeiros dias no mercado financeiro. Com a aprovação dos ETFs (títulos de índices) de criptoativos nos Estados Unidos, o bitcoin teve a sua maior alta em dois anos neste começo de 2024.
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No ano passado, o bitcoin foi de US$ 16.625 em janeiro para US$ 42.280 em dezembro, um salto de mais de 150%. Neste ano, o bitcoin atingiu um novo pico de US$ 70.000, mas Rabelo acredita que ainda exista espaço para o valor subir mais nos próximos meses. Para ele, o mercado financeiro ainda criará outros tipos de investimentos ligados às criptomoedas, aumentando assim os aportes de investidores institucionais. Fora isso, há elementos que ainda não estão no preço da criptomoeda.
“Quando houver queda do juro nos EUA, o investidor vai sair da renda fixa em busca de retornos melhores em renda variável, e as criptomoedas estão dentro dessa classe de ativos, como um ativo mais volátil. Além disso, o varejo ainda não entrou no mercado de criptomoedas como em 2021”, diz.
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A empresa, que tem quase 4 milhões de clientes cadastrados, aproveitou o “inverno cripto” para internacionalização da operação, começando por Portugal e Espanha. A expectativa é de que o negócio esteja agora mais bem posicionado para atender a demanda dos consumidores de diferentes países, especialmente com a aguardada aprovação da operação da empresa em toda a Europa. A América Latina, no entanto, não está fora do radar da companhia, mas será o foco em uma segunda etapa de expansão global.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista com Rabelo.
O bitcoin atingiu a máxima de preço após dois anos. Como o sr. avalia o momento atual da criptomoeda?
Estamos em um bom período, após um bear market de quase dois anos. O conceito do bitcoin acaba sendo representado pelo preço, mas, no fundo, ele é sobre a tecnologia. Acreditamos nos fundamentos do blockchain para influenciar as novas gerações de internet e mecanismos digitais. O momento de alta vem da aprovação do ETF, que trouxe investidores institucionais dos Estados Unidos ao bitcoin. Teremos também o halving em abril deste ano, que cortará pela metade a mineração de novos bitcoins, aumentando a escassez do ativo no mercado.
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Desde 2017, vemos grandes picos de valorização do bitcoin, seguidos de quedas, o que pode se repetir com a volta à máxima de preço. Como o investidor deve encarar o bitcoin para não se frustrar na queda?
Estamos falando de um ativo instável, baseado em uma tecnologia que ainda não está pronta e que está se provando ao longo do tempo. De largada, é preciso entender que o preço se deve à tecnologia, que ainda não está aplicada a todos os elementos digitais que usamos hoje. Muitas pessoas entram em qualquer ativo por medo de ficar de fora. Como no mercado de ações, a empolgação dos investidores também eleva preços, e não só os fundamentos do ativo. Vemos isso hoje com ações de empresas de inteligência artificial e veremos momentos especulativos levando a uma quebra, que leva os ativos até a um patamar abaixo do normal. O investidor que sabe que o ativo é de longo prazo consegue assimilar essa perda ao saber que haverá um novo momento de alta. Hoje, temos quase 4 milhões de usuários cadastrados na nossa plataforma e vemos que o investidor realiza parte do ganho quando há uma alta ou ele volta a negociar. Tudo se resume a educação financeira e planejamento de portfólio.
Ainda estamos no começo da adoção do bitcoin pelo mercado financeiro?
Sim. O bitcoin pode ganhar relevância em outras classes de ativos. Nas últimas altas, a capitalização do bitcoin superou a de todas as empresas abertas na B3. Mas ainda não temos representatividade relevante de investidores institucionais no bitcoin. Com o ETF nos Estados Unidos, isso foi viabilizado. Fundos de pensão e grandes fundos passam a poder investir nesse ativo de acordo com seus perfis de investimento. Certamente, veremos o mercado aumentando o investimento em bitcoin para diversificar o portfólio, compondo, ao menos, 1% da carteira de um alocador de recursos de grande porte. No Brasil, os fundos multimercados ainda não investem em bitcoin, por exemplo, e isso acontece no mundo todo. Quando isso acontecer, naturalmente teremos aumento da capitalização do bitcoin e de outros criptoativos.
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No Brasil, estamos em fase de redução da taxa de juros e a expectativa é de que o mercado americano também inicie essa trajetória de queda. O bitcoin deve ser afetado por isso?
Há alguns elementos que ainda não aparecem no preço do bitcoin. O Fed está mais cauteloso com o controle da inflação e ainda não reduziu o juro, ou seja, não há uma liquidez nova no mercado. Quando houver queda do juro nos EUA, o investidor vai sair da renda fixa em busca de retornos melhores em renda variável, e as criptomoedas estão dentro dessa classe de ativos, como um ativo mais volátil. Além disso, o varejo ainda não entrou no mercado de criptomoedas como em 2021. Podemos ver isso por tendências de buscas e de download de aplicativos de exchanges.
Então, o halving é um elemento secundário da alta mais recente do bitcoin?
Não chega a ser secundário, mas é previsível e vem sendo precificado aos poucos. Há uma tendência de valorização porque o halving provoca uma escassez de ativos no mercado. Mas tivemos compras de 1.300 bitcoins pelos ETFs, com uma média de 900 bitcoins gerados por dia pela mineração. Isso gera uma pressão de demanda, provocando a necessidade de tirar bitcoin da mão de quem tem, levando a um aumento de preço. Com o halving, a mineração cairá à metade, em vez de 900, serão 450. Naturalmente, há uma pressão maior na balança de oferta e demanda de criptoativos, ainda que o mercado tenha se antecipado e diluído esse processo de aumento de preços.
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O halving tem sido efetivo em gerar a sensação de escassez de bitcoin no mercado?
Sim. O que o halving provoca de mais crítico é o equilíbrio de contas para o minerador. Ele precisa avaliar se vale a pena continuar a fazer a mineração. Esse balanço tem se mantido favorável à mineração. A precificação mais alta do bitcoin vem por conta disso. É preciso incentivar os mineradores a continuar a minerar. A rede depende da mineração e o minerador depende do preço do bitcoin. Principalmente depois do halving, temos uma normalização de um patamar de preço mais alto do bitcoin.
O halving também reduz a poluição emitida pela mineração do bitcoin?
Os mineradores têm trocado a fonte de energia usada para manter as fábricas de mineração. Já tivemos um período com muito consumo de energia fóssil na China e na Rússia. Isso gerava um desequilíbrio entre o benefício e o custo ao planeta. Hoje, temos muito mais energia limpa sendo usada na mineração. Não necessariamente existe uma redução do número de mineradores. A redução de prêmio por bloco minerado provoca uma maior eficiência da atividade. É preciso buscar energia mais barata e estável.
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O Mercado Bitcoin está melhor posicionado no mercado do que nos últimos anos para aproveitar o novo ciclo de alta do bitcoin?
Sim. Hoje estamos não só no Brasil, mas também em Portugal. Em breve, poderemos atuar na Europa toda. Fizemos investimento em uma empresa no México para iniciar operações no país, mas seguramos o lançamento para focar no mercado europeu. Queremos ser uma empresa brasileira que aproveita a capacidade de investimento de países com mais dinheiro. Depois de bem-sucedidos na Europa, voltaremos à América Latina para focar em países como México, Argentina e Chile.