Criptomoedas

Com ‘inverno do Bitcoin’, corretoras demitem dezenas de funcionários

Exchanges não escaparam do problema que se vê há mais tempo em outras empresas tech

Com ‘inverno do Bitcoin’, corretoras demitem dezenas de funcionários
Mercado de criptomoedas sofre com momento do "inverno cripto. Foto:REUTERS/Edgar Su
  • Uma sequência de desligamentos vem ocorrendo em 2021, inclusive em “unicórnios” (startups avaliadas em US$ 1 bilhão) nacionais, como Vtex, Olist, QuintoAndar, Loft e LivUp
  • O segmento cripto sofre ainda com o que já é chamado de 'inverno do bitcoin' - uma fase de baixa que já dura nove meses e se aprofundou em maio

Por Aramis Merki II – O inovador mundo dos criptoativos ganhou um tom menos promissor nas últimas duas semanas – e não por que o bitcoin, moeda “símbolo” desse universo, perdeu metade do seu valor desde setembro de 2021.

No lugar de manchetes sobre aportes milionários e perspectiva de crescimento, o noticiário mostrou demissões em massa em duas das mais relevantes empresas de negociação de criptoativos da América Latina: o Grupo 2TM, dono do Mercado Bitcoin, e a Bitso.

Os cortes indicam que as corretoras cripto, também chamadas de exchanges, não escaparam do problema que se vê há mais tempo em outras empresas tech. Uma sequência de desligamentos vem ocorrendo em 2021, inclusive em “unicórnios” (startups avaliadas em US$ 1 bilhão) nacionais, como Vtex, Olist, QuintoAndar, Loft e LivUp.

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O segmento cripto sofre ainda com o que já é chamado de ‘inverno do bitcoin’ – uma fase de baixa que já dura nove meses e se aprofundou em maio. A moeda – que virou sinônimo de cripto para muitos – é a porta de entrada para todo este mercado, e as exchanges são o caminho para acessá-lo. “Essas empresas estão sofrendo duplamente. Com o período de queda do bitcoin e o problema para todo o setor de tecnologia“, diz Dan Yamamura, sócio do fundo de investimento de risco Fuse Capital.

As demissões são uma medida das exchanges para readequar a rota diante da conjuntura de inflação e juros altos global, que afasta o dinheiro dos investimentos de risco. Na análise de Yamamura, as startups em geral passam a ter uma preocupação com a preservação de caixa neste momento nebuloso. “A empresa que recebeu um aporte pensa em esticar o caixa o máximo possível. A fase de pegar o dinheiro e fazer o máximo possível com ele acabou”, afirma.

Para o Venture Capital focado no setor cripto, o momento é de atenção, mesmo com a ciência de que a volatilidade no segmento é altíssima. No primeiro trimestre, os investimentos globais em empresas relacionadas à tecnologia blockchain totalizaram US$ 9,2 bilhões, de acordo com a plataforma CB Insights. Foi a sétima alta trimestral consecutiva, “enquanto a maioria dos outros setores do Venture Capital teve declínio”, de acordo com o relatório.

A fase de distribuir dinheiro para startups e aumentar a probabilidade de conseguir grandes êxitos passou. Com o dinheiro mais “contadinho”, os tiros precisam ser certeiros. Isto vale tanto para os fundos como para os projetos dentro das exchanges que passaram a buscar diferentes negócios para se diferenciar. O efeito colateral disso, na visão de Yamamura, é que os projetos que vão receber dinheiro serão os mais preparados e promissores.

Além das dificuldades que se avolumaram para as empresas de crescimento, o nicho das corretoras cripto viu a competição crescer agressivamente. O principal serviço prestado, de comprar e vender ativos digitais, precisa de escala para de fato valer a pena. Por isso, muitas das exchanges foram tentando abrir novas frentes, atrás de melhores margens.

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Um especialista no setor comenta que mesmo segmentos promissores, como tokenização e venda de NFTs, foram agregando complexidade para a gestão dessas empresas. “Muitas vezes, a ideia é muito boa, mas esbarra em um monte de desafios. É difícil escalar rapidamente e inovar sempre”, diz.

Mercado Bitcon e Bitso demitem 170 ao total

Na quarta-feira (1), o grupo 2TM demitiu 90 dos cerca de 750 funcionários. A empresa disse em nota que o cenário econômico exigiu “ajustes que vão além da redução de despesas operacionais”, levando aos desligamentos. “A mudança do panorama financeiro global, alta de juros e da inflação, vem tendo grande impacto nas empresas de base tecnológica. Essa nova realidade exige que a 2TM também busque uma nova equação de crescimento e investimento”, aponta nota da holding.

Uma fonte próxima à empresa diz que o ajuste foi necessário para que os projetos “continuem andando a passos largos”. A companhia captou cerca de US$ 250 milhões entre o meio e o final do ano passado. Dentre os novos lançamentos do grupo, está um time de futebol que será gerenciado no metaverso, com as decisões administrativas tomadas pelos detentores de um token. Ao mesmo tempo, porém, o Mercado Bitcoin retirou seu patrocínio ao Corinthians.

Já a Bitso demitiu 80 pessoas no dia 26 de maio, de um total de 700 funcionários que tinha até então. A empresa mexicana foi o primeiro unicórnio cripto da América Latina após receber aporte de US$ 250 milhões em maio de 2021. Os cortes foram em todas as operações da empresa, que atua no Brasil desde o ano passado e também na Colômbia e na Argentina.

Mesmo com os cortes, a Bitso mantém a divulgação de mais de 40 vagas em seu site, incluindo para o Brasil. Em nota emitida na data das demissões, a companhia afirmou que a decisão foi tomada observando as necessidades de longo prazo do negócio. “Trabalhamos em uma indústria de ritmo acelerado que requer que façamos constantemente um balanço de nossas habilidades, para podermos mover ainda mais rápido para onde nossos clientes querem que estejamos”, afirma a nota.

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