Guilherme Gomes, CEO da OranjeBTC, empresa que quer estrear na B3 com reserva de bitcoin. Foto: Divulgação/OranjeBTC
A OranjeBTC tem um propósito claro: tornar-se uma empresa listada na Bolsa de Valores com estratégia 100% focada em bitcoin. Para isso, prepara sua estreia na terça-feira (7) por meio de um IPO reverso — processo em que uma companhia de capital fechado adquire o controle de outra já listada na B3.
Nesse caso, o alvo da aquisição foi a Integraus, uma rede de cursinhos fundada em 1980 em São Paulo. A empresa já teve 100% de suas ações compradas pela OranjeBTC, em negócio concluído em 9 de setembro. A proposta de IPO reverso também foi aprovada pelos acionistas em Assembleia Geral Extraordinária (AGE). Com o aval, as ações passarão a ser negociadas na B3 amanhã.
A união com a Intergraus vem da vontade de utilizar a plataforma de educação da companhia para disseminar conteúdos sobre bitcoin. A proposta é aproveitar a solidez de uma instituição com 45 anos de história para oferecer cursos, publicar pesquisas, organizar eventos e criar materiais sobre o universo cripto.
Em entrevista ao E-Investidor, durante a Digital Assets Conference (DAC), organizada pelo Mercado Bitcoin (MB), Guilherme Gomes, fundador e CEO da OranjeBTC, revelou detalhes sobre o projeto.
“Queremos mergulhar muito a fundo nessa nova indústria. Falar sobre bitcoin e sobre vários temas que são críticos, ao nosso ver, para o próximo século. A plataforma, nesse sentido, pode ser uma boa ferramenta para educar o investidor”, afirmou.
Gomes tem uma longa carreira no mercado financeiro. Entre 2018 e 2022, trabalhou na Bridgewater Associates, gestora fundada pelo megainvestidor Ray Dalio. Na época em que o bilionário discutia as ameaças ao domínio global do dólar — em seu livro A Ordem Mundial em Transformação —, Gomes já se dedicava a estudar uma moeda que poderia entrar nessa disputa: o bitcoin.
“Eu mudei todo o meu portfólio essencialmente para BTC e me questionei, em 2022, se existiria alguma forma de colocar a criptomoeda na Bridgewater. Mas a gestora não estava neste momento ainda”, disse.
Gomes deixou a empresa para ingressar na Swan Bitcoin, onde a estratégia era incentivar a compra recorrente de bitcoin. O executivo tinha a missão de levar essa alternativa, inicialmente voltada ao varejo, para o mercado de consultoria patrimonial, por meio de um produto de aposentadoria, além de estruturar uma mesa dedicada a family offices e investidores de alta renda.
Em meados de 2024, munido da vontade de voltar a empreender, Gomes saiu da Swan e fundou a OranjeBTC. Com o apoio de investidores, a companhia ganhou forma ao longo de 2025 e agora está perto de “dar a largada” na B3.
A empresa conta com um time de entusiastas de longa data do mercado cripto. Entre eles, o economista Fernando Ulrich, que compõe o conselho de administração e acumula mais de 800 mil inscritos em seu canal no YouTube.
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Também integra o conselho o investidor Eric Weiss, responsável por introduzir o CEO da Strategy, Michael Saylor, ao universo cripto. Entre os outros conselheiros da OranjeBTC, está Josh Levine, que já teve passagens por empresas como Bridgewater e BlackRock.
Uma “Bitcoin Treasury Company”
Com mais de 3.650 bitcoins em tesouraria — o equivalente a mais de R$ 2,3 bilhões considerando a cotação atual da criptomoeda — a OranjeBTC quer ser uma “Bitcoin Treasury Company”, isto é, uma empresa que decide manter bitcoins em suas reservas.
A companhia planeja ampliar ainda mais essa posição ao longo do tempo, mas adianta que o foco está no BTC e não há planos de diversificar para outros criptoativos. “Acho que esta é uma nova corrida pelo ouro. Queremos trazer o Brasil para dentro desta corrida e já começar com um balanço grande, mas aumentar e continuar acumulando bitcoins nos próximos anos”, destaca Gomes.
A OranjeBTC se inspira em outras companhias que já adotaram estratégias semelhantes. Um caso de destaque é o da Strategy, antes MicroStrategy, que passou de uma empresa de software para uma compradora consistente de bitcoins.
No Japão, a Metaplanet foi outra que mudou o foco de seus negócios. A rede de hotéis agora concentra atenção no investimento cripto e pretende transformar o Royal Oak Gotanda, em Tóquio, em um “Hotel do Bitcoin”, com um lounge onde acionistas poderão se reunir e trocar ideias.
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No Brasil, a Méliuz (CASH3), então especializada em cashbacks, também começou, neste ano, a realizar investimentos em bitcoin oficialmente como parte da estratégia de negócios. No início de setembro, a empresa comunicou que passou a ter 604,69 bitcoins, depois de adquirir 9,01 novos BTCs por aproximadamente US$ 1,01 milhão (R$ 5,51 milhões).
Gomes, da OranjeBTC, caracteriza o movimento da Méliuz como “genial” e afirma que essa tendência deve se consolidar tanto no mercado aberto brasileiro quanto no mercado fechado.
Antes, segundo o executivo, existia um certo preconceito com a ideia de ter exposição ao bitcoin dentro de bancos, gestoras ou empresas. Agora esse estigma vem sendo quebrado, conforme novas formas de acesso ao produto ganham espaço e o conhecimento sobre o BTC se propaga. “Viveremos um capítulo de adoção do bitcoin por instituições”, disse.
Gomes explicou que buscava formas de proteger os acionistas no longo prazo e encontrou no bitcoin a solução dentro da OranjeBTC. “Acredito que não seja um modelo apenas para a minha companhia, mas para a minha vida.”