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Criptomoedas

Empréstimo de criptomoedas tenta impulsionar lucro de empresas, mas há riscos

Iniciativas mostram novos sinais de reacender um setor moribundo

Empréstimo de criptomoedas tenta impulsionar lucro de empresas, mas há riscos
Ao aumentar o volume de empréstimos, as exchanges também arriscam atrair escrutínio de agências reguladoras. (Foto: Freepik)
  • Empresas de criptomoedas buscando impulsionar lucros estão incrementando concessões de empréstimos, potencialmente semeando novos riscos menos de um ano após a última grande crise do segmento
  • Em certa medida, o relaxamento da bolha de empréstimos de 2022 contribuiu para as dificuldades dos câmbios
  • Em agosto, a Coinbase (C2OI34) começou emprestar suas criptomoedas a clientes institucionais para obter rendimento

Empresas de criptomoedas buscando impulsionar lucros estão incrementando concessões de empréstimos, potencialmente semeando novos riscos menos de um ano após a última grande crise do segmento.

Programas lançados recentemente pela Coinbase Global Inc. e a Binance apresentam-se de diferentes maneiras, de empréstimos com garantias destinados a estimular o comércio à facilitação de crédito por meio de suas plataformas para conceder empréstimos diretos a clientes.

O setor de empréstimos de criptomoedas ainda é pequeno em comparação com a bolha de alavancagem que derrubou grandes fatias do setor quando estourou em 2022, e executivos afirmam que têm se esforçado arduamente para evitar uma repetição. Mas a retomada arrisca criar novos bolsões de alavancagem obscuros nos mercados cripto capazes de exacerbar o impacto de qualquer grande correção nos preços.

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Uma preocupação mais urgente para as exchanges é ver que as iniciativas mostram novos sinais de reacender um setor moribundo.

“Isso certamente poderia lhes sair pela culatra”, afirmou a professora Hilary Allen, da Faculdade de Direito da Universidade Americana, em Washington, que estuda o impacto de novas tecnologias, como criptoativos, sobre a estabilidade financeira. “Cada vez que você pega um ativo e empresta, você cria uma alavancagem, e isso gera fragilidade. Eu acho que o setor cripto em geral está tentando de tudo neste momento, em um tipo de luta existencial.”

Dados agregados sobre empréstimos em câmbios de criptomoedas não estão disponíveis. Contudo, os sete últimos meses testemunharam muitos deles lançarem novas iniciativas.

Competição feroz

Em agosto, a Coinbase (C2OI34) começou emprestar suas criptomoedas a clientes institucionais para obter rendimento. Um mês depois, uma empresa menor, a Bitget, começou a conceder empréstimos de moedas fiduciárias e cripto para usuários que dão como garantia criptoativos próprios.

A gigante do setor Binance, que sofreu uma queda acentuada de participação no mercado, ofereceu empréstimos a juro zero e curtíssimo prazo em várias ocasiões. Outras plataformas, como Bitstamp, também se juntaram ao frenesi.

Esses esforços sublinham a feroz competição por participação no mercado conforme os volumes negociados permanecem aproximadamente 90% mais baixos do que eram quando a FTX, de Sam Bankman-Fried, faliu, em novembro.

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Os volumes de negociações spot da Coinbase no terceiro trimestre deste ano caíram mais de 50% em comparação ao ano anterior, para o nível mais baixo desde antes de sua oferta pública inicial, em abril de 2021, de acordo com estimativas da CCData. A Binance teve um declínio estimado ainda maior, de 64%.

Em certa medida, o relaxamento da bolha de empréstimos de 2022 contribuiu para as dificuldades das  exchanges. Credores como Celsius Network, BlockFi Inc. e Genesis, que estimulavam atividade destinando bilhões de dólares a negociadores, colapsaram quando os preços em queda evidenciaram falhas em seu gerenciamento de risco.

As empresas de criptomoedas afirmam que aprenderam lições com a carnificina do ano passado. Algumas firmas, como Coinbase, só facilitam empréstimos totalmente garantidos por depósitos. Outros só aceitam criptomoedas estáveis e os principais tokens, como bitcoin, como garantia, evitando moedas menores e mais voláteis.

Outro método é trabalhar com credores terceirizados, o que permite às plataformas evitar risco direto. Algumas empresas afirmam que coletam informações sobre os potenciais devedores antes de conceder o crédito, e credores têm o direito de recusar empréstimos a clientes com os quais não se sintam confortáveis.

O diretor-executivo da Bitstamp, Jean-Baptiste Graftieaux, afirmou que o setor está acrescentando mais salvaguardas conforme apresenta as novas iniciativas de crédito.

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A Bitstamp trabalha com a Tesseract, de cinco anos, com base na Finlândia, para facilitar de empréstimos a clientes como formadores de mercados. A Tesseract afirma que só aceita garantias em bitcoin, ether e criptomoedas estáveis — tokens indexados a ativos ou moedas como o dólar americano — e as guarda com depositários terceirizados.

Mesmo com as salvaguardas, os empréstimos adicionais acrescentam uma camada de opacidade a um mercado propenso a uma volatilidade extrema, afirmam alguns observadores do setor. Já que as empresas que negociam criptos normalmente não revelam publicamente o quanto emprestam, é difícil aferir o impacto sobre a alavancagem geral no sistema.

“Quanto mais temos posições complexas amarrando o mercado, maior o risco e menor o entendimento sobre riscos que as pessoas podem ter”, afirmou Toby Lewis, CEO da firma de análise do setor cripto Novum Insights. “Minha sensação (é) que provavelmente ainda é muito cedo, e na realidade o fato das pessoas estarem começando a assumir mais riscos no curto prazo é algo positivo, mas isso precisa ser administrado apropriadamente e não da mesma maneira que no passado.”

No mercado de obrigações, há câmaras de compensação centralizadas e regras de margens padronizadas que governam desfechos caso devedores deem calotes. O setor cripto não tem câmaras de compensação centrais e depende de padrões de garantias-caução que variam entre os câmbios, tornando difícil julgar quem ficará em maus lençóis se a margem de uma posição explodir, afirmou Larry Tabb, diretor de pesquisa em estrutura de mercado da Bloomberg Intelligence.

Ao aumentar o volume de empréstimos, as exchanges também arriscam atrair escrutínio de agências reguladoras. A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), por exemplo, sinalizou a intenção de que eles tenham menos funções.

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Um aspecto em que os criptoativos se diferenciam das obrigações é que plataformas como Binance lidam com uma variedade muito maior de tarefas do que bolsas de valores — como manter ativos em custódia e oferecer empréstimos garantidos por ativos dos clientes. Isso lhes dá vetores de lucro adicionais, mas também pode servir para concentrar riscos.

Em última instância, paira sobre o setor a dúvida sobre o alvoroço dos empréstimos compensar potenciais dores de cabeça. A competição está esquentando, enquanto operadores da Swan Bitcoin para um projeto apoiado pela Wintermute planejam entrar no mercado, o que poderia pressionar as margens.

Quanto ao impacto sobre os negócios, os dados não parecem promissores. O total de negociações spot nas cinco maiores empresas de criptomoedas declinou cerca de 22% entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, de acordo com a CCData.

“Se o mercado permanecer em baixa, esses incentivos promocionais poderão não fazer realmente muita diferença”, afirmou Anatoly Crachilov, CEO da gestora de investimentos alternativos Nickel Digital, de Londres.

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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