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- Ao todo, 31 estabelecimentos em Jeri aceitam a moeda digital como forma de pagamento
- Felipe Motolose foi o responsável por incentivar o uso da tecnologia aos empresários e moradores da região
A valorização do bitcoin (BTC) no acumulado de 2023 superior a 100% e as perspectivas de novas altas nos próximos meses não abrem apenas oportunidades de investimento para os adeptos à criptomoedas. Os investidores também podem utilizar o saldo que mantêm nas suas de carteiras para economizar na compra de produtos e serviços em lojas nas cidades brasileiras.
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Por enquanto, a adesão do bitcoin pelos estabelecimentos ainda é baixa, mas há regiões do País em que a forma de pagamento já se tornou realidade. É o caso de Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos do Ceará. Na pequena vila com cerca de 3 mil habitantes, onde se concentram os hotéis e restaurantes da região, os turistas e moradores conseguem comprar desde alimentos até serviços com a moeda digital dos 31 estabelecimentos que aceitam a forma de pagamento.
A iniciativa chegou até as areias de Jeri em setembro de 2021 por meio de Fernando Motolose, idealizador do projeto e CEO da Bitcoinize.com, empresa responsável pelas maquininhas de pagamento em BTC. A ideia surgiu logo após o bitcoin ter se tornado a moeda oficial de El Salvador, país da América Central. “Descobri como o sistema de pagamento estava funcionando por lá e decidi replicar em Jericoacoara”, afirma.
Mas para que o projeto se tornasse factível, ele precisou explicar aos moradores da região a dinâmica do bitcoin como moeda de troca e também como investimento. A partir desses ensinamentos, as vendas realizadas em BTC passaram ser armazenadas nas carteiras de investimentos dos comerciantes e os saques só ocorrem em períodos de alta da moeda digital. “Os comerciantes foram educados para armazenar os bitcoins para o futuro”, ressaltou.
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Com essa dinâmica, o comércio local encontrou na moeda uma forma de ter ganhos ainda maiores com os serviços turísticos. Wando Prado, sócio da VPXTravel, conseguiu equilibrar as contas do negócio, que oferta serviços de transfer, passeios e até reservas em hospedagem, no período de baixa estação, que corresponde entre os meses de fevereiro a junho. “Uso o BTC como uma poupança e foi essa reserva de bitcoin que salvou o mês”, diz Prado. A decisão de vender os ativos da carteira aconteceu em julho quando o bitcoin estava a R$ 140 mil.
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O empresário preferiu não relevar quanto conseguiu faturar com a conversão da receita que havia acumulado de BTC em real. No entanto, informou que conseguiu um acréscimo em torno de 25% no seu retorno devido à valorização recente da maior criptomoeda em valor de mercado. “Eu tive lucro, recentemente. O meu serviço custou R$ 100 para o cliente que pagou em BTC. Quando converti o meu saldo para o real, eu recebi R$ 125 reais pelo mesmo serviço”, afirma Prado.
O empresário Matheus Serpa também incluiu a moeda digital como forma de pagamento na sua loja de roupas e artigos de artesanato. A primeira transação aconteceu em outubro de 2021 no valor de R$ 40, mas a popularização do bitcoin na região fez com que as receitas em criptomoedas crescessem e hoje representam cerca de 1% do faturamento do negócio. “Na alta estação, conseguimos faturar R$ 15 mil em bitcoin. Os turistas brasileiros são os que mais recorrem ao BTC para fazer compras em jeri”, diz Serpa.
Quanto custam os serviços em BTC?
A vantagem do bitcoin como forma de pagamento não se limita apenas aos empresários. Os investidores que já possuem criptos em suas carteiras conseguem economizar ao utilizar os seus saldos na compra de produtos e serviços na região. Segundo informações da VPXTravel.com, um pacote de viagem com direito à transfer ida e volta de Fortaleza (CE) até a Vila de Jericoacoara, hospedagem com duas diárias para um casal mais passeios de buggys custaria um total de R$ 3.176.
Ao converter esse valor em BTC, o investidor precisaria desembolsar cerca de 0,01476778 BTC. O preço levou em consideração a cotação do dia 6 de dezembro de 2023, quando o ativo estava a R$ 215 mil. Já os cálculos do Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, mostram que, se o turista tivesse pago pelo mesmo serviço há um ano, o débito feito na carteira ao pagar o pacote em bitcoin seria de 0,03522BTC. Ou seja, mais do que o dobro do custo atual. A razão para essa diferença se deve à valorização de 140% da criptomoeda no período.
O problema é que, assim como ocorre com os investimentos, os consumidores precisam ficar atentos à volatilidade do ativo. “Se o investidor avaliar que o bitcoin pode se valorizar, não vale a pena porque a tendência é que a moeda custe mais caro no futuro”, diz Medeiros. A mesma lógica vale para os empresários. Se houver perspectiva de altas, o especialista orienta aguardar o movimento de valorização para realizar o lucro. “A decisão deve estar pautada na premissa da volatilidade”, acrescenta.
Veja como funciona
Os estabelecimentos contam com uma maquininha responsável pela conversão dos preços em reais para o bitcoin, semelhante às que aceitam cartão de crédito. As transações financeiras na moeda digital ocorrem na segunda camada do bitcoin na rede blockchain, chamada Lightning
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Segundo Motolose, CEO da Bitcoinize, a infraestrutura oferece menores custos e mais rapidez no processamento dos pagamentos. “Hoje, os custos para fazer uma transação na rede principal são os mais altos do ano. O investidor precisa pagar US$ 35 para cada transferência, portanto, usamos a Lightning”, diz o CEO da Bitcoinize.
Isso significa que os bitcoins precisam estar guardados em uma carteira de investimentos com suporte para a infraestrutura da Lightning. Vinícius Bazan, diretor de criptoativos na Empiricus Research, explica que essa categoria de “wallets” (carteira de investimentos) é considerada específica e nem todas as corretoras possuem acesso a tecnologia.
“A Binance, por exemplo, oferece esse suporte”, cita. As maquininhas, além de otimizar esse processo e garantir mais uma opção de pagamento aos turistas, exercem também a função social de aproxima os moradores da Vila de Jericoacoara, que não conta com bancos e de caixa eletrônicos, à realidade do sistema financeiro atual.