- O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2021 em 10,06%, bem acima do teto da meta previsto pelo Banco Central de 5,25%. Especialistas estimam que inflação pode cair para 5,4% ao final de 2022
- Até que o IPCA se estabilize, a dica é colocar atenção em três pontos principais: revisar as contas pessoais, evitar empréstimos e apostar em investimentos conservadores
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2021 em 10,06%, bem acima do teto da meta previsto pelo Banco Central, de 5,25%. Divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na terça-feira (11), este é o maior valor de inflação no Brasil desde 2015.
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O IPCA de dezembro de 2021 registrou alta de 0,73%, acima das expectativas de mercado e da projeção do BTG Pactual, que era de 0,64% para o período. “O resultado foi puxado principalmente pela inflação nos combustíveis”, explica o economista-chefe da casa, Claudio Ferraz. Com o reajuste no preço anunciado pela Petrobras, na terça-feira, o BTG revisou a projeção para o IPCA de janeiro, passando de 0.42% para 0.46% ao mês.
Para João Beck, da BRA, apesar da alta de 2021, a tendência é que a inflação caia ao longo de 2022. A estação de chuvas deve estabilizar os preços de energia no país e o período eleitoral que se aproxima pode ter um rumo mais moderado do que o esperado. “A recessão atual gera menor pressão de preços e salários. Os gargalos de oferta de produtos industriais serão menores que os anos anteriores ao passo que a indústria volte a produzir. Além disso, é esperada também uma magnitude menor na alta das commodities e do próprio dólar”, acrescenta Beck.
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A projeção do BTG Pactual é que o IPCA encerre 2022 em 5,4%. Na visão de Ferraz, o resultado acumulado deve continuar na casa dos dois dígitos em boa parte do primeiro trimestre, recuando abaixo de 9% somente a partir do segundo semestre do ano.
Consumidor precisa economizar
O IPCA acumulado atual em 10,06% reflete a alta dos preços que compõem a cesta média dos consumidores brasileiros no período de 12 meses, mas não significa que os preços de todos os produtos e serviços cresceram nessa proporção, destaca Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA. “Sabemos que a inflação é diferente para cada indivíduo ou família, pois cada um de nós temos estruturas de custos e necessidades diferentes. Um jovem pode ter maiores custos com educação e lazer, enquanto um adulto pode ter maiores dispêndios com saúde e alimentação, afirma.
Para tentar enfrentar o dragão da inflação nesse período, a dica de Myrian Lund, planejadora financeira CFP pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), é colocar atenção em três pontos principais: revisar as contas pessoais, evitar empréstimos e apostar em investimentos conservadores.
A especialista defende que o consumidor deve analisar os hábitos de consumo com o objetivo de criar uma reserva de emergência, que vai protegê-lo da inflação. “Apesar de o IPCA estar em alta agora, a tendência é de queda. É um ano promissor para quem conseguir juntar dinheiro. Vale a pena a gente aproveitar o momento mais difícil para mudar os nossos hábitos”, afirma.
Revise as finanças pessoais
É importante trabalhar mais nas contas pessoais e ficar mais cuidadoso com as despesas. E o início do ano pode ser o momento ideal para fazer essa revisão. Para a especialista da Planejar, o segredo é colocar conta a conta em uma planilha de receitas e despesas, analisando o que pode ser cortado ou negociado.
“Com o tempo a gente acumula gastos desnecessários, às vezes você tem débito mensal de coisas que nem utiliza. Veja o que você pode negociar na conta de telefone, de internet, que são custos que variam muito todo ano”, aponta Lund.
Nishimura, da BRA, acrescenta que este pode ser um momento de procurar substitutos entre os produtos e serviços consumidos. “Não se trata de ter uma qualidade pior, mas se abrir a outros produtos que possam atender às necessidades tanto quanto as marcas preferidas. É necessário pesquisar e negociar”, explica.
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A especialista da Planejar garante que faz diferença: para quem não tem o costume de fazer essa revisão, é possível reduzir até 30% dos gastos. Quem já está acostumado a fazer esse planejamento anualmente, ainda consegue diminuir as contas em até 10%.
Evite empréstimos
“Os empréstimos vão ficar mais caros esse ano, então, se puder, evite”, ressalta Lund. A planejadora explica que, para tentar segurar a alta da inflação, a expectativa é que a taxa básica de juros, a Selic, seja elevada já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Como os bancos utilizam a Selic como parâmetro na cobrança dos serviços prestados, a tendência é que os empréstimos fiquem mais caros, acompanhando o movimento de alta na taxa de juros.
Foco nas aplicações conservadoras
Para quem conseguir guardar pequenas reservas de dinheiro, o conselho de Lund é aplicá-los em investimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Bancário) – ativos de renda fixa como o CDB (Certificado de Depósito Bancário) e LCI (Letras de Crédito Imobiliário).
O CDI é um título emitido pelos bancos, de curtíssimo prazo, cuja taxa acompanha o direcionamento da taxa básica de juros. Como a expectativa é de alta na Selic, à medida em que a inflação for caindo ao longo do ano – conforme previsão do mercado –, o dinheiro investido tende a se valorizar ainda mais.
“É um ganho que até pouco tempo você precisava investir em renda variável para ter. Agora, fazendo aplicações mais conservadoras, você vai ter um ganho que as pessoas cobiçam quando vão para a Bolsa, que é ganhar o valor da inflação mais 5% ou 6% ao ano”, explica a planejadora.
Fuja das parcelas
Outra dica para quem está interessado em organizar melhor as finanças de 2022 é evitar o pagamento em parcelas.
“O parcelamento é o que tem de mais nocivo nas finanças das pessoas. Se você decide pagar em três vezes, você está comprometendo a renda do mês que vem. Se paga à vista, o controle é melhor”, diz Lund.
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A dica da planejadora é parcelar apenas as contas muito importantes, principalmente de compra de bens duradouros. E evitar dividir os gastos rotineiros, como compras de supermercado ou farmácia. Para quem está acostumado ao pagamento parcelado, o conselho da especialista é reduzir aos poucos o número de parcelas, até que seja possível planejar os pagamentos à vista.
Evite desperdícios
Enquanto a inflação estiver pressionando os preços para cima, é preciso tomar cuidado com custos desnecessários ou em excesso. O custo de comer fora de casa, por exemplo, é mais alto e está refletido no próprio IPCA, explica Nishimura.
“Pedir pelo aplicativo só não vai tirar você de casa, mas pode ter custo tão alto quanto, principalmente porque muitas pessoas costumam exagerar nesses pedidos e se acomodarem na facilidade de receber o prato desejado”, aconselha.