Educação Financeira

Pequenas ações para juntar R$ 10 mil de reserva de emergência

Educadores financeiros dão lições de como juntar dinheiro para eventos inesperados da vida sem tanto sacrifício

Pedidos de falência podem ser feitos por credores ou devedores. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
  • Para Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, essas ferramentas são “uma opção de quando nós estamos num momento de juros baixos, nunca de juros altos”
  • A melhor forma de conseguir criar essa reserva, mesmo que leve tempo, é fazer um balanço de contas e cortar gastos que não sejam necessários
  • Outra forma de aumentar esses valores é por meio de recursos extraordinários, como a restituição do Imposto de Renda, bônus, décimo-terceiro ou até mesmo o saque do Fundo de Garantida do Tempo de Serviço (FGTS)

Todas as pessoas passarão por um imprevisto em algum momento da vida de alto custo financeiro, seja ele médico, profissional ou patrimonial, e em todos os casos contar com uma reserva de emergência se torna essencial – às vezes determinante para a resolução do problema. No entanto, se o imprevisto custar pelo menos R$ 10 mil, então 84% dos trabalhadores brasileiros não terão recursos disponíveis de forma imediata para arcar com a situação. O dado consta em pesquisa realizada pela fintech Zetra.

Lições básicas de educação financeira levam em consideração eventos imprevisíveis que exigem a necessidade imediata de dinheiro. Por isso, a primeira tarefa financeira do cidadão consiste em juntar uma reserva de emergência, que pode evitar que os problemas inesperados se arrastem por muitos anos à frente.

A tarefa de criar uma reserva, no entanto, pode parecer absurda no contexto da realidade socioeconômica do País. Cerca de 70% da população brasileira vivia com apenas dois salários mínimos no segundo semestre de 2022, de acordo com outra pesquisa, essa da LCA Consultores – atualmente o salário mínimo é de R$ 1.302. Numa situação emergencial, então, a grande maioria dos brasileiros fica à mercê de linhas de crédito, que, no fim, podem levá-los a se perder em dívidas.

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Linhas de crédito como o cheque especial (juros de 150,56% ao ano), rotativo do cartão de crédito (juros de 411,5% ao ano) e parcelamento de compras no crédito (182,1% ao ano), por exemplo, podem fazer com que as dívidas virem uma bola de neve caso não sejam pagas rapidamente. Para Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, essas alternativas funcionam “em momentos de juros baixos, nunca de juros altos”. Atualmente, a txa básica de juros da economia, a Selic, está em 13,75% ao ano, patamar considerado alto na história recente do País.

O cuidado vale até para o crédito consignado, que está com uma taxa de juros anual de 25,07%. “A contratação do crédito consignado exige responsabilidade. Planejar e priorizar os gastos é muito importante. Então, o recurso precisa ter destino certo e o menor juto possível. Assim, as contas poderão ser restabelecidas prontamente”, pontua a educadora financeira da Zetra, Andreza Stanoski.

Diante de tais taxas, a reserva de emergência se sobressai como a melhor forma para lidar com imprevistos, como explica Benedito: “A reserva de emergência é a primeira caixinha de investimento dentro do planejamento financeiro. Se acontecer alguma coisa, o trabalhador precisa ter recursos para se financiar ao invés de tomar linhas de crédito danosas à situação financeira”.

O E-Investidor consultou três educadores financeiros para ajudar o trabalhador a criar uma reserva de emergência.

Como criar uma reserva financeira?

De acordo com Rejane Tamoto, planejadora financeira CFP, o primeiro passo para a criação da reserva de emergência, mesmo que leve tempo, consiste em fazer um balanço das contas do orçamento pessoal ou familiar e cortar itens que não essenciais.

“Despesas fixas com assinaturas e serviços podem ser trocados por os de outra empresa com preços melhores. São os cortes que costumam doer menos, pois o serviço continua sendo prestado. O importante é que a família reavalie cada um deles e efetue mudanças de marcas, pois no final várias reduções pequenas podem se transformar em um número expressivo de 5% a 10% do gasto total”, destacou.

Benedito também aconselha começar a reserva sem imensos cortes e sacrifícios. “A formação de poupança começa dos pequenos detalhes, nos pequenos montantes. Ao economizar uma pizza ou uma atividade de lazer fora de casa no mês, o trabalhador já consegue formar a reserva de emergência e, ao longo do tempo, ela vai crescer”, disse.

Outra forma de aumentar esses valores está na busca de recursos extraordinários, como a restituição do Imposto de Renda (IR), bônus profissional, o 13º salário ou até mesmo o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Como a reserva de emergência pode auxiliar nos investimentos?

A reserva de emergência dá tranquilidade para usar o orçamento mensal em compras de rotina e viagens, mas também em investimentos. Com um colchão financeiro confortável, o investidor pode se aventurar em ativos mais voláteis que podem gerar mais rentabilidade no futuro. “A finalidade da reserva é proteger o investidor, dar proteção para se manter nas aplicações e garantir que o trabalhador tenha recursos para se financiar em casos de imprevistos na vida”, disse Benedito.

“Quando o investidor aplica em investimentos mais voláteis e não tem reservas, se ele precisar tirar o investimento antes da hora e perder mais do que investiu inicialmente”, completou. A reserva de emergência dá tranquilidade para “operar com as perdas” até o investimento resultar em ganhos.