Disparada recente da Oracle na bolsa lembra ao investidor que, como já ocorreu com a Nvidia, é praticamente impossível adivinhar a próxima empresa “queridinha” de inteligência artificial (IA) do mercado. (Imagem: InfiniteFlow em Adobe Stock)
A corrida pelo domínio da inteligência artificial (IA) produz campeãs relâmpago. A disparada recente da Oracle (ORCL34) lembra ao investidor que, como já ocorreu com a Nvidia (NVDC34), é praticamente impossível adivinhar a próxima empresa “queridinha”. Assim, neste cenário assimétrico e volátil, os Exchange Traded Funds (ETFs, fundos de índice negociados em bolsa de valores) surgem como porta de entrada para o tema, com a vantagem da diversificação e do amortecedor de risco.
ETFs são fundos passivos que replicam um índice criado por um provedor, como a S&P e a Dow Jones nos EUA e a B3 no Brasil. Assim, uma gestora compra o direito de seguir um índice – como o Ibovespa, o IFIX (dividendos), o IBrX (100 ativos de maior representatividade na Bolsa) – e monta a carteira espelhada.
“O ETF é um veículo muito interessante. E lá fora existe uma abundância de ETFs diferentes que permitem acessar não apenas uma empresa específica, mas todo o tema, todo o setor, todo o país”, explica Maria Irene Jordão, estrategista global da XP.
Ao investir no tema de IA via ETF, o investidor “segue mais o sentimento do mercado e tira o risco específico da ação”, diz a profissional. A consequência prática é que o investidor terá menor dependência de um único resultado trimestral.
Renato Eid, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset destaca outro ponto importante. “Há gestão profissional do ETF e também governança e disciplina de rebalanceamento do índice — algo difícil de replicar na carteira pessoa física.”
Três fases da tese de investimentos em IA: chips, infraestrutura e otimização
Hoje, quando se fala em investimento em IA, a atenção do mercado ainda está fortemente concentrada nas empresas de tecnologia, como as fabricantes de chips, as gigantes de computação em nuvem e as companhias que desenvolvem produtos e serviços diretamente ligados ao tema, a exemplo dassete magníficasque lideram a bolsa dos EUA: Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Nvidia, Amazon (AMZO34), Meta (M1TA34), Alphabet (GOGL34) e Tesla (TSLA34).
Maria Jordão, da XP, descreve a atuação do mercado em IA em três etapas, a começar pelo rali dos semicondutores, quando brilha Nvidia e nomes como AMD, Supermicro (SMCI, Nasdaq), Arm Holdings (A1RM34) e TSMC (TSMC34).
A segunda fase, a atual, envolve a infraestrutura, onde se encaixa a Oracle na temática de data centers (centros de processamento de dados) e outras empresas que já não têm uma relação com IA à primeira vista – a exemplo de companhias de energia elétrica, que vão alimentar o parque de data centers necessários para rodar a tecnologia. Inclui aqui o setor de utilitiescomo um todo e também de energia nuclear, que firmam contratos exclusivos com provedores de nuvem.
A terceira fase será a de otimização de negócios, ainda incipiente, com empresas usando IA para cortar custos e criar novas receitas. “Como a geladeira que potencializou a venda da Coca-Cola ou a internet militar que virou base de Uber e influenciadores digitais, há aplicações que ainda nem imaginamos”, diz a especialista.
O certo é que a aplicação da inteligência artificial vai se expandir para todos setores e vai transformar todos os negócios. “A gente vai começar a ver empresas de saúde, por exemplo, utilizando a IA para melhorar seus processos”, reforça Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research.
Temáticas diversas para investir em IA
Nvidia enfrenta incertezas geopolíticas que adicionam volatilidade ao papel da fabricante de chips de IA. (Foto: gguy / Adobe Stock)
Neste sentido, é possível investir em ETFs seguindo as temáticas mais diversas. O Artificial Intelligence & Technology ETF (AIQ) da Global X (ou BAIQ39, na B3) traz no seu portfólio empresas desenvolvedoras e usuárias de IA, numa visão ampla do tema.
O VanEck Semiconductor ETF (SMH), como o nome diz, foca no insumo básico da IA, buscando replicar o Listed Semiconductor 25 Index (MVSMHTR), acompanhando o desempenho geral de empresas envolvidas na produção e equipamentos de semicondutores.
O Utilities Select Sector SPDR Fund (XLU) persegue a tese de infraestrutura e energia. O iShares Future AI & Tech ETF (ARTY), da BlackRock, também foca em empresas que podem contribuir com novas tecnologias de IA e a Global X Robotics and Artificial Intelligence ETF (BOTZ ou BOTZ39 na B3), acompanha o braço físico da IA por meio de empresas de robótica e automação, buscando a variação do índice Indxx Global Robotics & Artificial Intelligence Thematic.
“Essa é a beleza do ETF. Você não precisa escolher uma empresa, você pode ir por um tema, por um setor, por uma partezinha da cadeia”, resume Maria Jordão, da XP.
Pacheco, por outro lado, destaca que alguns ETFs são bem diversificados, com muitas empresas diluindo o risco, enquanto outros têm maior peso em poucas companhias, o que aumenta a volatilidade e a exposição a eventos específicos dessas companhias líderes.
“É importante o investidor ter ciência dessas posições. Se você entrar no site dos ETFs, eles mostram quais são todas as posições que têm, quais os pesos de cada companhia. É importante saber para não ter uma aposta tão concentrada, mas vai de cada um”, diz.
ETF de IA amortece, mas não elimina alta volatilidade
O analista da Empiricus Research ressalta que o setor de tecnologia é muito volátil. Ele comenta que a Oracle, por exemplo, saltou mais de 30% com a surpresa do backlog (receitas futuras contratadas) – muito acima do esperado pelo mercado –, mas no dia seguinte ajustou. Já a Nvidia enfrenta a fricção regulatória com a China, restrições de vendas e incertezas geopolíticas que afetam projeções e “temperam” o humor do mercado em relação ao papel.
Em outras palavras, os ETFs são a forma mais segura de se entrar no tema megavolátil da IA. Isso, no entanto, não isola o investimento de riscos. “Os ETFs terminam replicando a alta volatilidade. Por outro lado, como tem uma composição, amortecem um pouco essa variação de preços“, pondera Pacheco.
O AIQ, por exemplo, rendeu cerca de 174% em cinco anos mas, no meio do caminho, registrou duas quedas de dois dígitos, sendo uma durante a pandemia e a outra com o tarifaço de Donald Trump, presidente dos EUA, este ano. “O índice é uma média. Alguns papéis que os compõem caem 60% ou 80%, outros seguram”, reforça.
Comece pelo amplo, ajuste pelo específico
Uma cesta ampla (ex.: AIQ) dá exposição geral ao tema; quem quiser afinar a tese pode combinar com SMH (chips), XLU (energia/utilities), BOTZ (robótica) ou ARTY (beneficiárias).
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Vigilância sobre concentração
Veja as posições e pesos: alguns ETFs são bem diversificados; outros concentram mais em poucas líderes.
Aceite a volatilidade – e gerencie o tamanho
“O ponto crítico é o peso na carteira”, afirma Pacheco, da Empiricus Research. A euforia faz uma posição sair de 10% para 30% “sem perceber”. Tenha visão de construção patrimonial de longo prazo e faça rebalanceamentos, “realizando na alta” quando o peso foge do planejado.
BDR ou exterior?
Se optar por BDR (título que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior), dê preferência a gestoras conhecidas e tickers (códigos do ativo na bolsa) com liquidez. Para quem pode, o mercado americano tende a oferecer experiência melhor.
Custo importa
Com taxas menores, ETFs são eficientes para “entrar no tema megavolátil” preservando custos, reforça Maria Jordão, da XP.