- Embora o retorno médio de fundos de previdência esteja quase nulo em 2024, alguns desses produtos têm retorno superior a outros indicadores, como o Ibovespa no ano. O histórico de 2023 também indica que o segmento está competitivo frente a outros investimentos
- Segundo levantamento da Economatica para o E-Investidor, os fundos de previdência privada têm ganhos de 0,02% até o fechamento de janeiro, excluindo fundos exclusivos e com menos de 10 cotistas.
- 2023 foi um ano de crescimento em alguns indicadores da indústria de previdência privada. Segundo a Fenaprevi, o setor atingiu a marca de R$ 170,1 bilhões em captação (bruta) no ano passado, alta de 8,8% sobre 2022
A indústria de previdência privada vem ganhando um maior espaço na carteira de investimentos da população brasileira. Com avanços no último ano em termos de arrecadação de patrimônio e beneficiários, esse segmento ainda tem uma larga fatia de investidores para disputar. Embora o retorno médio de fundos de previdência esteja quase nulo em 2024, alguns desses produtos têm retorno superior a outros indicadores, como o Ibovespa no ano. O histórico de 2023 também indica que o segmento está competitivo frente a outros investimentos.
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Segundo levantamento da Economatica para o E-Investidor, os fundos de previdência privada têm ganhos de 0,02% até o fechamento de janeiro, excluindo fundos exclusivos e com menos de dez cotistas. Neste mesmo período, o Ibovespa tem perdas de 3,8%, e o Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA) cai -0,3%. O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e o IMA-B (índice de renda fixa formado por títulos públicos indexados à inflação) sobem 1,8% e 0,1%, respectivamente.
No acumulado de 2023, todavia, a performance média dos fundos de previdência privada registra uma fotografia mais positiva, com alta anual acumulada de 14,04%. O saldo perde para o Ibovespa e IMA-B, que avançaram 22,3% e 16,1%, respectivamente, mas supera o CDI (13%) e o IHFA (9,3%).
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Quais fundos de previdência vão melhor em 2024?
Entre os 211 fundos considerados no levantamento da Economatica, que geraram a média citada acima, alguns têm desempenhos animadores. O Bradesco Master Previdência FIM Bolsa Americana, por exemplo, tem a maior alta em 2024, de 7,6%. Em 2023, ficou com a terceira melhor marca, com retorno de 33,9%.
O segundo e terceiro colocados deste ano, o Brasilprev Top Mult IE FI e o Brasilprev Top ESG Mult IE FI, sobem 5% e 3,9% no ano, respectivamente, recuperando parte das perdas acumuladas em 2023, de -9,8% e -44%.
Os fundos campeões de 2023, por sua vez, devolvem parte dos ganhos. O Real Investor 100 Prev Master FIA, que subiu 39,5% no passado, recua 0,7% nos dois primeiros meses de 2024. O Squadra Fof Prev FC Ações IQ, que subiu 38,4% em 2023, agora cede 1% no período entre janeiro e fevereiro deste ano.
Previdência privada é a melhor opção para a aposentadoria?
Quando o assunto é investimento, nem sempre há consensos sobre o melhor caminho para se chegar ao destino pretendido. Apesar de haver diversas opções de fundos de previdência privada no mercado, há quem opte por outras estratégias de longo prazo, como compra de ações ou títulos de renda fixa. Independentemente da escolha por A ou B, especialistas advertem que existem boas opções em diferentes classes, mas que é essencial, antes, entender qual é o perfil de risco do investidor.
“Apontar a melhor alternativa é temerário, pois devemos considerar o perfil e os objetivos do investidor. Porém, existem várias vantagens que jogam a favor dos planos de previdência privada”, afirma Guilherme Dias, especialista em educação financeira na Suno Research.
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Uma das principais vantagens de fundos de previdência privada está em benefícios tributários que outras classes não oferecem, como as deduções do Imposto de Renda (IR). Na ponta, optar por algum fundo desse tipo pode reduzir a carga tributária do investidor durante a fase de acumulação de patrimônio.
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“Se o investidor faz a declaração completa do IR, ele pode optar por um Plano de Previdência no estilo Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL). A principal vantagem é deduzir até 12% do valor total no IR anual [no momento do resgate]”, observa Dias.
Além do PGBL, o investidor pode optar pela modalidade Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). Neste tipo de plano, ao fazer o resgate, o contribuinte pagará IR apenas em cima da rentabilidade. Contudo, não conta com o benefício fiscal na declaração do IR durante a acumulação do patrimônio.
Na lista de vantagens da previdência, Dias acrescenta a flexibilidade de formas de receber o patrimônio acumulado, benefícios sucessórios aos beneficiários em caso de falecimento do titular, além de um papel educativo de gerar disciplina de poupança a longo prazo.
Quais outras formas de poupar para aposentadoria?
Alguns investidores, todavia, podem criar estratégias diferentes para aposentadoria, investindo em outros tipos de aplicações, como ações da Bolsa ou títulos de renda fixa.
“É possível considerar boas ações pagadoras de dividendos, fundos imobiliários que tem um bom dividend yield e rendas fixas que garantem um ganho real (acima da inflação)”, afirma Sharon Halpern, private banker da Blackbird Investimentos. “Porém, é bom lembrar que diferentemente da previdência, estes ativos são passíveis de inventário (são tributados em caso de morte do investidor) e que devemos sempre considerar um portfólio diversificado”, pondera Halpern.
Entre as vantagens de investir em ações, Dias destaca o potencial de pagar retornos substanciais ao longo do tempo, mas faz uma adendo de que, esses ativos estão sujeitos a volatilidade e riscos de mercado. Ou seja, o interessado precisa ter tolerância a maiores riscos.
É possível também achar alternativas na renda fixa. Embora seja mais conservadora, essa classe de títulos públicos ou privados oferecem retornos mais estáveis e previsíveis em comparação com as ações, ainda que com rentabilidade, em geral, mais baixa. Em alguns casos, há também a vantagem de menores alíquotas no IR para prazos mais longos e, em alguns, até de isenção do tributo. O Tesouro Nacional, por exemplo, lançou o título Renda+, com foco na aposentadoria.
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“Outra alternativa são os fundos de índice (ETFs), que acompanham um índice específico do mercado, como o Ibovespa ou o S&P 500. Esses produtos oferecem diversificação instantânea e são uma opção de investimento de baixo custo, sendo uma maneira eficaz de investir em ações sem a necessidade de selecionar ações individuais”, acrescenta Dias.
Números da previdência privada
2023 foi um ano de crescimento em alguns indicadores da indústria de previdência privada. Segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), o setor atingiu a marca de R$ 170,1 bilhões em captação (bruta) no ano passado, alta de 8,8% sobre 2022. Descontados os resgates (R$ 127,2 bilhões) do total arrecadado, a captação líquida ficou em R$ 42,9 bilhões, crescimento de 28,4% ante o ano anterior, maior resultado desde a pandemia.
O número de participantes de algum plano de previdência privada superou os 11 milhões de pessoas no país. Em 2022, eram 10,8 milhões de pessoas inseridas nesses planos. Dos 11 milhões, 2,3 milhões (20%) estão em planos coletivos e 8,8 milhões (80%) possuem planos individuais, ou seja, a própria pessoa toma a iniciativa de contratar a previdência privada. É neste número que a instituição cria otimismo para crescer em número de participantes.
Para Edson Franco, presidente da Fenaprevi, existe na população um desejo por este tipo de produto, que, junto ao seguro de vida e plano de saúde, formam o “tripé de proteção da renda familiar”. “As pessoas querem estar protegidas contra uma morte prematura, uma doença grave, uma necessidade de saúde, e contra o excesso de sobrevivência. Se você viver de mais, a sua família vai precisar de dinheiro para manter o mesmo nível de qualidade de vida”, analisa Franco.
Dias, da Suno, avalia que existe um mistura de caráter cultural e de educação que resultam na falta de conhecimento e de educação financeira suficientes para que a população compreenda os benefícios e o funcionamento dos planos de previdência privada.
“Além disso, questões relacionadas à confiança também desempenham um papel significativo. Má gestão de fundos e preocupações com taxas e custos associados aos planos de previdência privada podem minar a confiança dos potenciais investidores na indústria”, pontua Dias.
Para Halpern, da Blackbird, em partes, o gap de mercado pode estar relacionada também ao fato de que o mercado de previdência, em sua leitura, era muito concentrado nos grandes bancos e entregavam uma rentabilidade “muito ruim” para as taxas que cobravam. Uma mudança de consciência, para ela, baseia-se em mais educação financeira.
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Embora acredite existir na população consumidora um interesse por esse tipo de produto, o presidente da Fenaprevi argumenta que a expansão da indústria depende também de mudanças conjunturais socioeconômicas no País.
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“Existe um trabalho de conscientização, que depende também do governo e das empresas. Uma das medidas que está no âmbito das resoluções, que é a possibilidade de adesão automática aos planos empresariais, pode ter um efeito muito poderoso nesse esforço de conscientização e de inclusão dos trabalhadores no sistema previdenciário”, defende Franco.