Educação Financeira

Olimpíada de educação financeira mobiliza estudantes brasileiros

As inscrições estão abertas para alunos do ensino fundamental ao médio de todo o País. Veja o relato dos jovens

Olimpíada de educação financeira mobiliza estudantes brasileiros
Pedro Negrini, de 8 anos, já participou da edição do ano passado. Foto: Weimer Carvalho/Estadão
  • Além de um brinquedo novo, chocolate ou passeio, uma das maiores alegrias das crianças é receber mesada. Entretanto, para alguns, a relação com o dinheiro é maior que o cofrinho, há dedicação e estudo para participar da Olimpíada Brasileira de Educação Financeira
  • Com inscrições abertas até o fim de agosto, o evento teve mais de 38 mil inscritos em 2019. Apesar das dificuldades da pandemia em 2020, quando alcançou apenas 6 mil inscritos, a Olimpíada chegou a todos os 26 estados e ao Distrito Federal
  • Ao todo, as provas são aplicadas para cinco diferentes níveis de conhecimento. Entre os temas abordados na prova estão Consumo, Planejamento Financeiro, Investimentos, Juros, Capital, Montante, Desconto, Amortização, Cooperativismo de Crédito e Educação Fiscal

Além de um brinquedo novo, chocolate ou passeio, uma das maiores alegrias das crianças é receber mesada. Entretanto, para alguns, a relação com o dinheiro vai além da administração do cofrinho: há dedicação e estudo para participar da Olimpíada Brasileira de Educação Financeira (OBEF), que está com inscrições abertas até o fim de agosto.

Ao abrir a geladeira e olhar para uma caixa de leite, Wenner Lucena, professor do departamento de finanças e contabilidade da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), decidiu fazer um cofre para ensinar os três filhos a economizar. Mas a brincadeira educativa não parou por aí. Em 2017, Lucena levou a ideia para a Universidade e criou a Olimpíada Paraibana de Educação Financeira, que ganhou robustez ao longo dos anos e tornou-se um evento nacional.

Em 2019, a Olimpíada teve mais de 38 mil inscritos em todo o País. Apesar das dificuldades da pandemia em 2020, quando alcançou apenas 6 mil inscritos, o evento chegou a todos os 26 estados e ao Distrito Federal, por meio da digitalização de todo o processo. Além da UFPB, outras 37 universidades e institutos federais contribuem para a realização do projeto.

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Mesmo com um número menor de participantes na edição do ano passado, a organização registrou dois grandes avanços: conseguiu adaptar as provas e o conteúdo disponibilizado para pessoas com deficiência (PCD) e adequar a Olimpíada aos diferentes fusos horários do País. De acordo com Lucena, alguns dos organizadores fizeram longas viagens de barco levando conexões com a internet para que alunos indígenas também pudessem participar.

O público-alvo da Olimpíada são os estudantes do 2º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio de escolas públicas e privadas. Ao todo, as provas são aplicadas para cinco diferentes níveis de conhecimento. Entre os temas abordados estão consumo, planejamento financeiro, investimentos, juros, capital, montante, desconto, amortização, cooperativismo de crédito e educação fiscal.

Aos oito anos, Pedro Henrique Negrini participou da edição de 2020 e se prepara para a prova deste ano. Em casa, jogos de tabuleiro, administração da mesada e brincadeiras fazem com que o menino já entenda conceitos como poupança, juros, rendimento e até Bolsa de Valores.

Érico Negrini, pai de Pedro, conheceu a iniciativa por meio de amigos do mestrado na área de contabilidade. Por discutir finanças em casa, levou a proposta para o filho. Segundo ele, Pedro ficou muito animado, pois já havia participado de outras Olimpíadas no ensino básico. “Já tínhamos o costume de falar sobre dinheiro de forma lúdica em casa, a OBEF uniu esse interesse prévio com a curiosidade de aprofundar certos temas”, afirma.

Assim como Pedro, que mora em Brasília, Stella Bortolocci, que vive em Campo Grande, demonstrou interesse em participar da OBEF pelo gosto pela matemática e para se preparar para o futuro. “Quando ela tinha quatro anos, queria um brinquedo e eu disse que não tinha dinheiro. Para minhas surpresa, ela respondeu: ‘mas mamãe, pode pagar com cartão’. Foi nesse momento que entendi que precisava falar sobre educação financeira. Aos poucos, com uma mesada, fui atribuindo certas responsabilidades à ela”, explica Márcia Bortolocci, mãe de Stella.

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Segundo Ana Paula Hornos, especialista em educação financeira e colunista do E-Investidor, os aprendizados sobre o tema são importantes pelo conteúdo técnico, mas, principalmente, porque eles impactam também no sucesso e nos valores morais, éticos, e na relação emocional do indivíduo com o dinheiro ao longo da vida.

“Dinheiro é assunto de criança, de adolescente e de adulto. Os pais podem ensinar desde cedo sobre prioridades, recursos escassos, flexibilidade e espera. É importante que os pais se envolvam para dar bons conselhos e trabalhar a saúde financeira da própria família”, destaca Hornos.

Sarai Molina, gerente de educação financeira da Ágora Investimentos, reforça que a partir dos sete anos de idade é recomendado começar a conversar sobre finanças já que é uma idade, em geral, na qual a criança já entende o conceito de dinheiro. “A mesada é uma ferramenta muito importante para dar início à criação de responsabilidade para a criança que toda família pode fazer. Seja com R$ 10, R$ 5 ou até R$ 1, os pais já podem usar esse meio para começar a introduzir, de forma lúdica, o tema para os pequenos”, afirma.

Educação financeira para toda a vida

A Olimpíada é uma entre as mais de dez ações do projeto de extensão Educação Financeira para Toda a Vida. Reunindo alunos dos cursos de Economia, Contabilidade, Administração, Relações Internacionais, entre outros, o grupo de estudantes universitários levam a temática para escolas e redes sociais.

Adrielle Macedo, aluna do quinto semestre do curso de Ciências Contábeis, entrou no projeto em 2019 e atua dando suporte à OBEF, além de planejar e executar trabalhos direcionados ao público infantil na Paraíba, que serve como base para outros estados.

“É comum vermos crianças que têm pais analfabetos e levam o conhecimento da leitura e da matemática para o lar. Percebemos que o assunto finanças é muito importante para as famílias, mas falta acesso à informação. O projeto tenta ultrapassar essa barreira”, explica.

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Na mesma seara, o professor Wenner Lucena, idealizador e coordenador da Olimpíada, que adaptou a linguagem de finanças para os filhos, trabalha para encontrar novas metodologias para ensinar crianças e adolescentes. “Já viajei o Brasil falando de finanças para executivos de grandes empresas até perceber que eu precisava adaptar a palestra para atingir um público diferente, mas tão importante quanto: os pequenos”, diz.

Para Lucena, apesar do Projeto de Lei 3145/20, que torna obrigatória a inclusão da educação financeira como tema transversal dos currículos do ensino infantil, do ensino fundamental e do ensino médio, já ter sido implantado, as escolas têm dificuldades para oferecer a disciplina. Por isso, iniciativas como a Educação Financeira para Toda a Vida aliadas às instituições de ensino são fundamentais.

O que as crianças pensam sobre educação financeira

Pedro Negrini, 8, Brasília (DF): “Eu recebo uma mesada quando eu ajudo nas tarefas. No meu aniversário, ganhei R$ 150 da minha dinda e deixo guardado no banco. Sempre que vou ao supermercado, fico comparando os preços e, quando gosto de algo, eu fico pensando se compro ou não. Sei que se eu gastar com besteiras, vai faltar depois para algo que preciso. Foi pensando assim que economizei e ajudei a minha família a comprar armários para a casa. Agora, eu quero economizar para comprar um computador novo até o próximo ano.”

Bianca Bolzani, 10, João Pessoa (PB): “Eu somo o aprendizado de matemática na escola com experiências cotidianas com meus pais, como gerir minha mesada por internet banking, traçar metas, vender itens sem uso, praticar consumo sustentável comprando em brechós. Educação financeira me ajuda a ter mais consciência do esforço necessário para ganhar dinheiro, aprender a fazer escolhas, pensar antes de gastar se aquilo vale mesmo a pena, e entender que coisas paradas sem uso em casa são dinheiro parado que poderia ser usado melhor de outra forma.”

Stella Maris Bortolocci, 8, Campo Grande (MS): “Me preparo olhando as provas anteriores, estudando bastante matemática na escola e aprendendo a lidar com dinheiro com a mesada que meus pais me dão. A educação financeira me ajuda a saber lidar com dinheiro, banco e cartões de crédito. Isso pode me ajudar a ter uma vida mais saudável no meu futuro.”

Maria Luiza Ferreira, 15, Campina Grande (PB): “Eu soube da OBEF pela escola e fiquei muito empolgada porque iria ampliar o meu conhecimento sobre educação financeira, fazendo de mim uma consumidora com consciência no futuro. Meus pais já tiveram problemas com o uso do dinheiro e eu gostaria de ajudá-los com isso. Todos os dias somos expostos ao consumo e, se não soubermos como usá-lo, podemos acabar em um prejuízo muito grande. A educação financeira me ajuda a não consumir de forma exagerada ou gastar com coisas desnecessárias.  O lanche da escola, por exemplo, eu opto por trazer de casa para impactar menos o orçamento.”

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