Pix Parcelado pode representar uma alternativa ao cartão de crédito. (Foto: Adobe Stock)
No final de setembro, o Banco Central (BC) dará mais um passo em sua agenda de inovação ao lançar oficialmente o chamado Pix Parcelado, modalidade que permite o parcelamento de compras por parte dos consumidores, enquanto os lojistas recebem o dinheiro instantaneamente. Função muito semelhante à do cartão de crédito.
Diferentes instituições já trabalham com o Pix Parcelado, mas ainda não existe uma regulamentação pelo BC. Agora o objetivo, segundo o órgão, é divulgar regras para “padronizar o produto, uniformizar a experiência do usuário, facilitar o acesso da população, garantir transparência e estimular o uso consciente desse crédito”.
Atualmente, cada instituição segue suas próprias diretrizes ao oferecer o Pix Parcelado, com taxas de juros e até nomes distintos para ele. Com as novas normas do BC, esse cenário deve mudar: é esperada uma padronização dos critérios de concessão de crédito, assim como das regras e taxas específicas para a modalidade.
Pedro Pinho, sócio na QI Tech, empresa de tecnologia para serviços financeiros, vê a medida com bons olhos. “As regras devem trazer mais segurança para o consumidor final e uma confiabilidade maior do próprio mercado em relação ao produto”, destaca.
O Pix Parcelado ameaça o cartão de crédito?
Para o consumidor, o funcionamento do Pix Parcelado será semelhante ao do cartão de crédito: ele terá a opção de parcelar a compra ao escolher o Pix como forma de pagamento e não precisará ter o valor total disponível na conta no momento da aquisição de um produto ou serviço.
O BC espera que a ferramenta impulsione o uso do Pix no varejo para compras de maior valor, além de beneficiar consumidores que não têm acesso ao cartão de crédito. A modalidade também pode favorecer a concessão de descontos, já que os lojistas receberão o dinheiro de forma instantânea, diferentemente do que ocorre com o cartão.
Integrantes do setor de pagamentos avaliam que a novidade pode aumentar a concorrência, mas não a ponto de ameaçar a sobrevivência do cartão de crédito.
“Acho que existe no Brasil bastante espaço para multicanais de pagamento. O mercado é grande o suficiente para comportar tanto o volume que existe de cartão quanto o crescimento do Pix Parcelado”, diz Pinho, da QI Tech.
Luiz Landgraff, presidente da 99 Pay, observa que a maior concorrência no setor beneficia o usuário. “O cartão de crédito vai acabar? Acredito que não. Mas o Pix Parcelado vai entrar para competir? Sim. E como estamos em um mercado regulado, essa competição se torna saudável”, afirma.
Existem ainda vantagens exclusivas do cartão, como a possibilidade de acumular pontos (milhas), ganhar cashbacke ter acesso a programas de fidelidade e salas VIP em aeroportos. Separamos nesta reportagem as opções mais bem avaliadas para 2025 com milhas e anuidade zero.
Na visão de Ricardo Rocha, professor e coordenador do Programa Avançado em Finanças do Insper, esse “glamour” do cartão não deve ser perdido. “Eu não vejo o Pix substituindo o cartão. Eu acho que, pelo contrário, ele é mais uma diversificação das formas como o consumidor pode pagar”, pondera.
Taxas de juros podem definir a aceitação do Pix Parcelado
O sucesso da nova modalidade de Pix vai depender das taxas de juros aplicadas nessa operação de crédito, que serão conhecidas em mais detalhes ao final de setembro, com a regulamentação do produto.
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Para Fabiano Jantalia, sócio-fundador do Jantalia Advogados e especialista em Direito Bancário, os efeitos devem variar conforme as diferentes classes sociais. O cartão tende a permanecer como uma alternativa mais vantajosa para a alta renda, por envolver benefícios e recompensas “premium”.
“Por outro lado, o Pix Parcelado pode beneficiar as classes de renda mais baixa, principalmente aquelas pessoas que muitas vezes não têm acesso ao crédito de outra forma”, explica.
Os dados confirmam isso. Uma pesquisa da Quaest, divulgada no começo de 2025, mostrou que enquanto 73% da classe alta têm cartão de crédito, esse número cai para 58% da classe média e 40% da classe baixa. Os números apresentados são baseados em pesquisas domiciliares nacionais de 2024, com 2 mil respondentes e margem de erro geral de 2 pontos porcentuais.
O que dizem Visa e Mastercard?
O E-Investidor também procurou bandeiras de cartões para comentar sobre o assunto. A Visa preferiu não se manifestar. Já a Mastercard disse acreditar que o consumidor final deve ser o principal beneficiário da medida, com a liberdade de escolher como utilizar seu dinheiro no dia a dia.
“À medida que o mercado de pagamentos evolui, o cartão de crédito continua sendo uma solução fundamental e confiável para milhões de pessoas, oferecendo conveniência com o parcelamento sem juros, aceitação internacional, robustez em segurança, além de benefícios como chargeback (solicitação de estorno) e programas de recompensas e fidelidade”, afirmou o Mastercard em nota.
O Pix Parcelado vai repetir o sucesso do Pix à vista?
Operando desde 16 de novembro de 2020, o Pix ultrapassou as transações feitas com Documento de Crédito (DOC) já em seu primeiro mês de funcionamento. O DOC foi, inclusive, descontinuado em 2024, após o sucesso do meio de pagamento instantâneo.
Em janeiro de 2021, o Pix superou as transações com Transferência Eletrônica Disponível (TED) e, em março do mesmo ano, passou à frente dos boletos. Já em relação aos cartões, o Pix ultrapassou as operações de débito em janeiro de 2022 e, no mês de fevereiro, foi a vez de passar na frente das transações com cartões de crédito.
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O levantamento é da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), com base em dados do Banco Central e da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs).
Mas a adoção da versão parcelada pode não ser tão rápida. Segundo Landgraff, da 99Pay, como a modalidade envolve cobrança de juros, muitos consumidores podem ter resistência, já que estão acostumados a parcelar compras no cartão sem juros. “O que muita gente ainda não percebe é que essas opções ‘sem juros’ geralmente têm o custo embutido no preço final do produto”, explica.
A fintech, que já oferece o Pix Parcelado, defende a importância de orientar o cliente. “É preciso mostrar que o usuário pode negociar um desconto no preço ao optar por pagar com Pix. Dependendo do desconto, mesmo com a cobrança de juros, a modalidade pode sair mais vantajosa”, afirma.