Planejar a aposentadoria figura entre as decisões mais importantes da vida financeira. Embora o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) forneça uma renda básica, dificilmente cobre o mesmo padrão da vida ativa. Por isso, especialistas recomendam que cada pessoa trace seu próprio plano, considerando objetivos, horizonte de tempo e o valor necessário para manter o conforto desejado.
Veja os três pilares fundamentais desse cálculo, e como se preparar melhor para o futuro, além de possíveis cálculos que demonstram quanto juntar para ter uma aposentadoria confortável.
Defina o objetivo da aposentadoria
Antes de pensar em números, reflita sobre como quer viver após encerrar a vida profissional. A aposentadoria envolve mais do que deixar o trabalho: significa decidir qual estilo de vida manter, os gastos virão com essa escolha e que realizações se deseja colocar em prática.
A planejadora financeira Nathalia Arcuri, e CEO da Meu Poupe, reforça que o ponto de partida é entender quem você pretende ser nessa fase. “A aposentadoria não tem um número único, porque depende do estilo de vida”, afirma.
Ela recomenda listar o custo atual de vida e incluir despesas que provavelmente ganharão peso no futuro, principalmente saúde. “Você precisa olhar para a vida futura com a mesma honestidade com que olha para o extrato bancário. Saúde, moradia, alimentação e também os prazeres que você não quer abandonar. Isso constrói a fotografia financeira da vida que você deseja levar sem depender de ninguém”, explica.
O aposentado José Cesário, de 68 anos, já vive essa realidade. Funcionário na área de segurança da Universidade de São Paulo (USP), aposentou-se há 15 anos, mas decidiu continuar trabalhando em ritmo leve. “Aposentei, mas não parei nem um segundo. Quero me preparar para parar de vez, de forma tranquila, com o valor que preciso para continuar com meu padrão de vida”, conta.
Estime quanto tempo a aposentadoria deve durar
O passo seguinte consiste em estimar o período que essa aposentadoria deve cobrir. Com a expectativa de vida na casa dos 76 anos, e em constante avanço, especialistas sugerem considerar pelo menos 20 a 30 anos de renda após o fim da carreira.
O economista e educador financeiro Gean Duarte lembra que ninguém sabe até quando vai viver, e justamente por isso é necessário planejar com folga. “O ideal é acumular um patrimônio que gere renda mensal e mantenha uma parte aplicada para continuar rendendo acima da inflação. Quem se aposenta aos 60 precisa pensar em pelo menos vinte ou trinta anos de renda”, orienta.
Nathalia Arcuri reforça que viver muito é ótimo, mas exige estrutura. “Viver muito sem dinheiro vira um pesadelo financeiro. O cenário mais confortável é ter um patrimônio capaz de produzir a renda desejada só com os rendimentos, sem tocar no principal”, afirma.
As projeções também ajudam a dimensionar reservas extras. “A gente com a idade pensa mais na saúde, em médico, remédio… por isso é importante ter reserva”, comenta Cesário, lembrando que sua estabilidade no serviço público não é a realidade da maioria. “Quem trabalha em uma empresa privada precisa se preparar ainda mais”.
Calcule o valor total necessário
Com objetivos definidos e o horizonte de tempo claro, chega a hora de calcular o patrimônio ideal. Uma das metodologias mais conhecidas é a regra dos 4%, que indica a possibilidade de sacar anualmente 4% do patrimônio acumulado sem correr alto risco de esgotamento rápido. Assim, para garantir renda mensal de R$5 mil, seria preciso acumular cerca de R$1,5 milhão.
Nathalia Arcuri explica essa lógica de forma direta: “A regra dos quatro funciona assim: se a meta é ter três mil reais por mês, o ideal seria algo em torno de novecentos mil reais. Você retira 4% no primeiro ano e ajusta pela inflação nos seguintes. Não é uma fórmula perfeita, mas serve como ótimo ponto de referência.”
Gean Duarte acrescenta que simuladores públicos ajudam a tornar o cálculo mais preciso. “Cada caso é um caso. Por isso, o simulador do Tesouro Renda+ facilita muito: você coloca sua idade, quando quer se aposentar e qual renda mensal deseja. Se sabe que vai receber dois mil do INSS e precisa de mais três mil, o simulador mostra quanto investir por mês e qual título escolher”, explica.
Ainda segundo ele, o Tesouro Renda+ ganha destaque por preservar o poder de compra: “O título rende IPCA mais uma taxa prefixada. Isso garante que a renda da aposentadoria acompanha a inflação.”
Simulações para ilustrar quanto investir até a aposentadoria
Uma simulação simples ajuda a visualizar o esforço necessário. Considerando alguém que hoje tem 35 anos, deseja se aposentar aos 65 e quer complementar a renda do INSS com R$3 mil mensais, o simulador do Tesouro Renda+ indica aportes próximos de R$420 por mês em um título com vencimento compatível.
Com 30 anos de contribuição e o rendimento real (acima da inflação) típico desses títulos, essa pessoa consegue garantir a renda desejada por duas décadas de aposentadoria. Se ela começar cinco anos mais tarde, aos 40, o valor mensal sobe para cerca de R$ 620, mostrando o peso do tempo no planejamento.
Outro exemplo mostra como metas maiores exigem mais disciplina. Um profissional de 45 anos que pretende se aposentar aos 65 e deseja complementar sua renda com R$ 5 mil mensais precisará investir por volta de R$ 1.050 mensais em um título indexado ao IPCA, segundo projeções do Tesouro Direto.
Se esse mesmo investidor quiser reduzir o aporte mensal, uma alternativa é ampliar o prazo ou diversificar a carteira com fundos imobiliários e previdência privada — estratégias que podem aumentar a renda futura, embora envolvam mais volatilidade. As simulações reforçam que, quanto antes o planejamento começa, mais leve fica o esforço mensal e maior a segurança na aposentadoria.
Acompanhe as simulações na tabela:
|
Idade atual |
Idade ao aposentar |
Renda mensal desejada |
Aporte mensal estimado (Tesouro Renda+) |
| Investidor 1 |
35 anos |
65 anos |
R$3.000,00 |
R$420,00 |
| Investidor 2 |
45 anos |
65 anos |
R$5.000,00 |
R$1.050,00 |
O papel dos investimentos e de começar cedo
Após fazer as contas, o plano precisa se materializar em aportes constantes ao longo dos anos. “Investir é fundamental. Comprei um apartamento e outro para alugar, para garantir uma renda extra”, conta Cesário. Ele também faz questão de se manter ativo: cursos, hobbies e estudos entraram na rotina,um componente importante para o equilíbrio entre finanças e propósito.
Duarte reforça que, independentemente da estratégia, o tempo é o maior aliado: “Quanto mais tempo o dinheiro tem para render, menor precisa ser o esforço mensal. Simulações personalizadas ajudam muito a entender o tamanho do patrimônio necessário.”
No fim, construir uma aposentadoria confortável não significa seguir uma fórmula fixa, mas elaborar um plano que respeite quem você é e quem quer ser no futuro. Começar cedo, revisar o plano periodicamente e manter disciplina podem transformar pequenos aportes em uma vida tranquila, segura e com liberdade de escolha.