

O tarifaço de Donald Trump, anunciado na última quarta-feira (2), gerou caos nos mercados globais. Nos Estados Unidos, as Bolsas americanas já caíram cerca de 10% desde a apresentação das medidas, enquanto o Ibovespa recuou mais de 4%. Com o cenário de cautela no mercado de ações, a renda fixa pode se tornar uma opção atrativa para investidores na visão de especialistas.
Nesta reportagem, analistas explicam que títulos atrelados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) apresentam maior resiliência, ajustando-se de forma mais eficiente às oscilações e proporcionando menor volatilidade aos investidores. Nesse cenário, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se mostram como uma opção. Os títulos são emitidos por bancos para levantar dinheiro no mercado. Ao emprestar seus recursos a uma instituição, os clientes recebem o valor investido de volta acrescido de juros.
Para Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, ativos de renda fixa pós-fixados representam alternativas interessantes, já que a Selic está em um patamar elevado, a 14,25% ao ano. “O CDB vai oferecer proteção ao patrimônio e servir como uma reserva de valor, pois está associado às taxas de juros, que não devem cair no curto prazo”, avalia.
Em um cenário de alta volatilidade no mercado de ações, como ocorre atualmente, os CDBs escapam das oscilações geradas pelos anúncios mais quentes do noticiário. “O risco internacional não mexe tanto com esses produtos, que são mais impactados pelo cenário bancário local. Dessa forma, eles continuam atrativos para o investidor”, ressalta Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.
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Já Guilherme Almeida, economista da Suno Research, enxerga que o melhor caminho é sempre diversificar a carteira com diferentes classes de ativos. “O cenário atual, no entanto, traz uma dose extra de incerteza, com aumento da volatilidade nos mercados globais, não apenas no Brasil. Nesse contexto, a renda fixa ganha relevância por oferecer maior previsibilidade e ajudar a reduzir os impactos dessa instabilidade nas carteiras”, pondera.
Os retornos elevados oferecidos por CDBs, no entanto, têm despertado a atenção do mercado. Um exemplo que ganhou destaque foram os do Banco Master. Segundo levantamento da Quantum Finance, em 2025, os títulos emitidos pela instituição lideram o ranking de rentabilidade entre os CDBs atrelados ao CDI. Até o final de março, os produtos ofereciam retorno de 120% do CDI.
No começo de abril, a instituição iniciou um movimento de redução nas taxas dos seus CDBs após a proposta de compra pelo Banco de Brasília (BRB). Para os títulos prefixados, a redução foi de pelo menos 0,3 ponto percentual em todos os prazos de vencimento. Já os pós-fixados tiveram redução de até 3 pontos percentuais.
No mercado secundário – ambiente em que investidores negociam os ativos entre si e não mais com a companhia emissora –, o cenário ainda é de altas taxas, conforme mostramos nesta matéria. Na plataforma da Rico, por exemplo, o usuário consegue encontrar um CDB com um rendimento de 160% do CDI.
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Em meio às promessas de alto retorno, o interesse dos investidores por esses ativos tende a aumentar. Especialistas ouvidos pelo E-Investidor, no entanto, recomendam cautela antes de aplicar em produtos com retorno acima da média do mercado – afinal, taxas muito elevadas demonstram necessidade de capital da instituição emissora.
Outro cuidado envolve analisar se o título está protegido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). “É fundamental confirmar se o CDB tem garantia pelo FGC, que cobre até R$ 250 mil por CPF e por instituição. Mas, mesmo com essa proteção, lembre-se que o processo de ressarcimento pode demorar e envolver trâmites burocráticos”, alerta Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.
Abaixo, especialistas reuniram os principais cuidados que o investidor deve seguir antes de investir em CDBs com taxas elevadas:
Entenda que altas taxas andam de mãos dadas com altos riscos
Os títulos emitidos são uma forma de os bancos captarem recursos. Em termos simples, é como se os clientes estivessem emprestando dinheiro para as instituições. “O investidor precisa ter consciência que, quando a taxa de juros paga pelo CDB é muito alta, significa que o risco do banco emissor também é elevado”, diz Rogério Mauad, professor de Finanças do Ibmec São Paulo.
Retornos acima da média podem indicar que a instituição está enfrentando dificuldades para captar recursos e, por isso, precisa oferecer taxas mais altas para atrair investidores. “CDBs de bancos grandes não costumam ter taxas tão altas, porque essas instituições captam dinheiro muito facilmente no mercado. Mas os bancos pequenos não têm essa facilidade”, explica o professor.
Compare as taxas do mercado
Antes de investir em qualquer CDB, vale pesquisar e comparar as taxas e condições que estão sendo oferecidas por outros investimentos. Mauad indica que os investidores verifiquem não só os retornos prometidos por grandes bancos, como também as remunerações previstas por títulos do Tesouro Direto, como o Tesouro Selic.
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“Às vezes, para ganhar 1% ou 2% a mais por ano, não vale a pena passar por um risco tão grande. Comparando taxas, o investidor pode ter uma noção mais exata do que está sendo praticado no mercado”, ressalta o professor.
Verifique se o rendimento do valor investido está dentro da garantia do FGC
Segundo Mauad, ao aplicar em um CDB, o investidor precisa respeitar os limites que são cobertos pelo FGC. Existe, porém, um pequeno detalhe: é necessário considerar também o rendimento que a aplicação vai ter ao longo do tempo.
“As pessoas pensam que se aplicarem até R$ 250 mil por instituição estarão protegidas. Mas não, porque esse CDB provavelmente vai render, se tudo correr bem. Em caso de quebra do banco, o investidor receberia somente até o teto de R$ 250 mil, o restante ficaria de fora”, explica.
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Não olhe só para a garantia do FGC
Mesmo que os rendimentos estipulados para o investimento estejam dentro da cobertura do FGC, não vale escolher um CDB pensando apenas nesse fator. “As pessoas olham só para o retorno e pensam que está tudo garantido pelo FGC, sem ponderar os riscos. De fato, existe essa proteção. Mas se todo mundo se comportar dessa maneira, a gente cria outros casos igual ao Master”, diz Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV EAESP.
Como mostramos nesta reportagem, algumas mudanças no FGC estão sendo discutidas no mercado. Uma das propostas é aumentar a contribuição proporcional de bancos pequenos e médios. A justificativa é de que eles oferecem maior risco ao sistema financeiro, enquanto o modelo atual incentiva o uso do FGC como uma chancela para que o investidor compre ativos arriscados sabendo que estará protegido.
“O fundo sempre conseguiu honrar os seus compromissos nas dezenas de liquidações de bancos que houve nas últimas décadas, porém o investidor não deve se expor a qualquer título pensando apenas na proteção oferecida pelo FGC”, ressalta Milton Rabelo, analista de investimentos da VG Research.
Pesquise sobre a instituição emissora
Para o investidor iniciante, pode ser desafiador avaliar o nível de segurança de uma instituição financeira. Eduardo Dotta, professor do Insper, recomenda buscar a orientação de profissionais do mercado e investigar se o banco em questão está enfrentando dificuldades — o que pode explicar a oferta de taxas tão elevadas.
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Outro ponto importante é olhar para o balanço da instituição. Durante a análise, a recomendação é de comparar o tamanho e a qualidade da carteira de crédito com o patrimônio líquido. “Ao fazer essa comparação, a pessoa consegue entender o grau de comprometimento do patrimônio frente aos compromissos que essa instituição tem de mercado”, destaca Dotta.
Dentro do balanço, também vale ficar atento ao chamado Índice de Basileia (IB). Schiozer, da FGV EAESP, explica que, quanto mais alto for esse índice, maior será a capacidade do banco para absorver perdas. Em 2024, o Master, por exemplo, apresentou um IB de 11,51%. Segundo o Banco Central, para ser considerada saudável, uma instituição financeira deve ter um Índice de Basileia de no mínimo 10,5%. “Outros bancos brasileiros têm IBs de até 15%, o que passa uma segurança muito maior”, avalia Schiozer.
Ao realizar a pesquisa para investir em CDBs, outra dica é checar como as agências de classificação de risco – como Fitch, Moody’s e S&P Global Ratings – avaliam o banco emissor. Isso ajuda o investidor a entender o nível de segurança da instituição. Piellusch, da FIA, faz, no entanto, uma observação. “Nem todos os bancos têm rating das três agências. Bancos pequenos ou médios muitas vezes não contratam esse tipo de avaliação”, conclui.