Juros remuneram não só pelo tempo, mas também pelos riscos envolvidos. Foto: AdobeStock
Quando títulos com vencimento de curto prazo passam a pagar mais do que os de longo prazo, algo está fora do lugar. Afinal, os juros remuneram pelo tempo e, quanto maior o prazo, maior costuma ser o risco. Por isso, no jargão do mercado financeiro, esse fenômeno é conhecido como curva invertida, que apareceu nos papéis do Tesouro IPCA+em 2024 e 2025.
“Em condições normais, quanto maior o prazo do título, mais elevada a taxa exigida, como compensação pelo tempo e risco. Quando essa lógica se inverte, com prazos mais curtos pagando mais que os longos, o mercado está sinalizando que espera uma desaceleração da economia e de necessidade de cortes de juros à frente”, explica Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank. É a forma como o mercado expressa sua desconfiança em relação ao cenário econômico adiante.
No caso de 2024 e 2025 , a inversão da curva se deu pelo cenário de inflação fora de controle causada pela falta de disciplina fiscal do governo, o que pressionou o banco central a manter as taxas de juros mais altas. O aperto monetário mais forte aumentou a expectativa de uma desaceleração econômica. Por isso, os investidores passaram a exigir retornos menores nos títulos de médio e longo prazo, ao prever uma queda nos juros e no crescimento da economia nos próximos anos.
O Brasil tem um nível de endividamento alto para um país emergente. Segundo dados do Banco Central, a dívida bruta do setor público alcançou 76,2% do PIB em fevereiro de 2025, um aumento em relação aos 75,7% registrados em janeiro. O nível de endividamento do País é uma preocupação crescente, especialmente devido à sua composição e sensibilidade às taxas de juros. Quase metade da dívida é corrigida pela Selic, sendo que quase 20% dela vai vencer no curto prazo, em até 12 meses.
Mas, quando a curva aponta para uma conversão, os sinais são outros. A partir dos primeiros meses de 2025, houve uma divergência entre as taxas do Tesouro IPCA+ 2029, que passaram a cair e as de 2040, que passaram a subir. “Isso aponta para preocupações específicas com o médio prazo (5 a 10 anos)”, explica Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos.
Segundo ele, o mercado reage a riscos relacionados à sustentabilidade da dívida pública ou à incerteza sobre políticas econômicas nesse horizonte, o que aumenta os prêmios de vencimentos intermediários como os de 2040. “Outro ponto também é o fluxo de capital para a parte intermediária da curva: com demanda mais baixa, o preço do título cai e a taxa sobe”, completa.