

A profissional de relações públicas Adriane Schultz, de 37 anos, passou 10 anos investindo na poupança antes de dar uma chance ao Tesouro Direto. Os pequenos aportes nos títulos públicos viraram hábito e hoje ela se arrepende de não ter dado o primeiro passo antes. Assim como Schultz, outros 3 milhões de investidores do Tesouro Direto estão mudando a forma como lidam com o dinheiro por meio da renda fixa.
O Tesouro Direto é uma forma de investir em títulos públicos do governo federal, ideal para quem está começando a desbravar o mundo dos investimentos e deseja formar uma reserva financeira. “Os títulos do Tesouro são considerados ‘livres de risco’, porque o governo pode usar diferentes estratégias para pagar a dívida, como emitir moedas, pegar empréstimos com entidades internacionais ou aumentar os impostos, diferentemente de um banco ou empresa”, diz Marília Fontes, co-fundadora da Nord Investimentos.
- “Queremos que todos conheçam o Tesouro Direto como conhecem a poupança”, diz coordenador do programa
Apesar da segurança do Tesouro, o “medo do desconhecido” limitava Schultz. Segundo ela, deixar dinheiro na poupança, prática tão comum entre os brasileiros quando se fala em investir, soava mais adequado ao seu perfil conservador. Pensou assim dos 19 aos 31 anos, quando se deu conta de que estava perdendo dinheiro. Veja seu relato no vídeo a seguir.
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Schultz começou com apenas R$ 500 no Tesouro Selic, já que esse título poderia ser resgatado diariamente (liquidez diária). Ao ganhar confiança, ampliou os aportes mensais para cerca de R$ 2 mil.
Embora exemplos como o de Schultz se multipliquem, muitas pessoas ainda optam por deixar dinheiro na poupança. Segundo dados mais recentes do Banco Central (BC), somente em março brasileiros depositaram R$ 339 bilhões na caderneta – veja.
- Tesouro Direto: vale a pena investir em renda fixa em 2025?
Para Valéria Vanessa Eduardo, professora de Ciências Contábeis da Anhanguera, a falta de educação financeira abre espaço para o medo. “Grande parte da população não tem acesso a informações adequadas sobre investimentos, o que perpetua um ciclo de estagnação e insegurança financeira. Sem esse conhecimento, muitos acabam se mantendo na poupança, enxergando-a como um ‘porto seguro’, mesmo que seus rendimentos sejam significativamente menores”, explica.
A empresária Raquel Banquinho se viu investindo pela primeira vez com mais de 50 anos no Tesouro Direto. A reserva na poupança sempre foi uma aliada, mas ela queria descobrir outras formas de aplicar o dinheiro que sobrava todo mês. No começo, parecia um bicho de sete cabeças: “Era muito número”, diz. Mas hoje, aos 57 anos, consegue desbravar diferentes títulos do Tesouro, estudando sobre finanças junto ao seu filho. Em áudio, ela conta como se vê cada vez mais motivada a investir ao ver seu dinheiro rendendo no Tesouro.
Como investir no Tesouro Direto
Para quem deseja dar um passo além e buscar maior rentabilidade sem aumentar significativamente o risco, o Tesouro Direto surge como uma opção mais segura e vantajosa. Mas, para entender como investir no Tesouro Direto, primeiro é preciso decidir qual título está alinhado ao perfil e aos objetivos do investidor.
O educador financeiro, João Victorino, recomenda começar pelo Tesouro Selic, para formar uma reserva de emergência. “O produto tem funcionamento semelhante ao da poupança, mas tende a render mais e pode ser resgatado a qualquer momento, sem risco de perdas”, diz.
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Já os títulos prefixados e atrelados à inflação ajudam o investidor a entender melhor a dinâmica das taxas de juros e da economia. “O Tesouro Prefixado e o Tesouro IPCA+ são ideais para quem busca rendimentos ajustados pela inflação e deseja entender como a economia impacta seus investimentos”, acrescenta.
Títulos disponíveis no Tesouro Direto
“Todo investimento possui riscos, alguns em maiores e outros em menores proporções”, alerta a educadora financeira Daiane Alves, da Neon. Ela destaca que conhecer o próprio perfil de investidor é essencial para evitar frustrações. “Isso permite optar por investimentos que façam mais sentido com o seu momento financeiro, evitando expectativas irreais em relação a ganhos e perdas.”
Schultz começou a investir com o Tesouro Selic e depois diversificou para outros produtos como Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+. Em áudio, ela explica como usa diferentes títulos públicos para atender seus objetivos financeiros.
Com um título em mente, basta se cadastrar no site oficial do Tesouro Direto ou em uma instituição financeira, informar o título escolhido e o valor do aporte e, por fim, confirmar os dados da compra. Neste link você encontra um guia do E-Investidor respondendo as principais dúvidas do Tesouro.
Tesouro x poupança: qual vale mais a pena?
A poupança e o Tesouro Direto são opções populares de investimento de renda fixa no Brasil, mas possuem diferenças importantes em relação a rendimento, risco, liquidez e tributação. Mas, segundo Marília Fontes, “a poupança não vale a pena nunca”. Veja sua explicação no vídeo a seguir.
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A comparação entre Tesouro Direto e poupança pode ser vista na tabela a seguir:
Aos 18 anos, o estudante de Administração da Universidade de São Paulo (USP) Guilherme Ferreira recebeu um montante vindo da reserva de emergência montada pelos seus avós, que estava aplicada na poupança. Ainda inexperiente nos investimentos, tinha certeza de apenas uma coisa: não queria manter o dinheiro na caderneta. “O pessoal mais jovem entende que a poupança já não rende muito mais e que tem opções melhores e tão seguras quanto ela no mercado”, afirma Ferreira, hoje com 21 anos. Optou, então, por investir o dinheiro em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e no Tesouro.
A diferença de rendimento ressaltada por Ferreira pode ser vista em um exemplo prático feito pelo E-Investidor nesta matéria, em dezembro de 2024: um aporte de R$ 1 mil na poupança geraria um ganho líquido de R$ 69,50 em 12 meses. Já os mesmos R$ 1 mil alocados no Tesouro Selic renderiam R$ 117,07 líquidos no mesmo período.
Os riscos do Tesouro Direto
Apesar dos bons rendimentos, é importante ter cautela. Questões como a marcação a mercado (que determina o preço que um ativo teria caso o investidor decidisse vendê-lo antes do vencimento), precificação do câmbio e movimento dos juros podem impactar as taxas dos títulos públicos.
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Ferreira diz ter se assustado ao ver seu rendimento do Tesouro Direto cair após um tempo. Mas isso se dá pela atualização diária do preço dos ativos pela marcação a mercado. Ou seja, se o título está negativo, significa que você teria prejuízo caso o vendesse naquele momento.
Com o passar do tempo, Ferreira aprendeu a ganhar com a marcação a mercado, comprando, por exemplo, títulos do Tesouro IPCA enquanto eles estão com altas taxas para poder vender esses mesmos títulos, dentro de alguns anos, quando os juros estiverem menores. Entenda mais sobre a estratégia nesta matéria.
Outro recurso para evitar perdas no Tesouro é manter o título até o vencimento. “Nos títulos pós-fixados, você sempre vai resgatar no dia seguinte mais do que tinha no dia anterior. No caso dos prefixados e indexados à inflação, você só recebe a rentabilidade acordada se mantiver o título até o vencimento. Se vender antes, o rendimento será um produto da marcação a mercado”, explica Marília Fontes.
Imposto de Renda nos investimentos do Tesouro
Além disso, quanto mais tempo o dinheiro ficar investido, menor será o desconto de Imposto de Renda aplicado na hora do resgate ou vencimento do título. “A melhor estratégia é pensar como um investidor de longo prazo. A marcação a mercado pode gerar ruído e confusão, especialmente para quem está aprendendo a investir. Se o investidor mantiver o título até o vencimento, o rendimento contratado será garantido”, diz a psicóloga financeira Ana Paula Hornos.
Há também o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que apresenta uma tributação regressiva para aplicações de até 30 dias, e a taxa de custódia da B3 – entenda cada tributação do Tesouro nesta matéria.
Erros comuns ao investir no Tesouro Direto
Especialistas consultados pela reportagem ressaltam os riscos de não ter uma reserva financeira. “Se o investidor precisar do dinheiro para uma despesa inesperada, pode acabar vendendo os títulos em um momento desfavorável, gerando prejuízo e pagando impostos mais altos”, alerta a educadora Alves.
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Além disso, a ilusão de controle pode ser prejudicial. Segundo a educadora, investir bem não significa correr riscos desenfreados, mas equilibrar ousadia e prudência. Diversificar a carteira e não ultrapassar 30% do portfólio em ativos de maior risco são boas práticas para evitar problemas.
É preciso também considerar a liquidez dos investimentos. Enquanto a poupança tem liquidez imediata, o Tesouro Direto pode levar até um dia útil para o dinheiro cair na conta.
A seguir, veja algumas estratégias para minimizar perdas no Tesouro para o investidor brasileiro:
- Conheça o seu perfil de investidor: entender sua tolerância ao risco evita surpresas desagradáveis;
- Invista de forma regular: comprar títulos periodicamente reduz o impacto das variações de preço;
- Diversifique os prazos dos títulos: ter investimentos com vencimentos diferentes dilui os riscos;
- Aproveite oportunidades de compra: quedas no preço dos títulos podem ser boas oportunidades de entrada;
- Evite resgates antecipados: se possível, mantenha o título até o vencimento para garantir o rendimento contratado;
- Acompanhe regularmente seus investimentos.
“Investir é um excelente caminho para conquistar independência financeira ou realizar um sonho a médio e longo prazos. Mas não se iluda achando que em pouco tempo ganhará rendimentos exorbitantes. Comece com passos pequenos, vá evoluindo e busque conhecimento. O Tesouro Direto é uma ótima opção inicial, pois une segurança e rentabilidade, e ‘ver o dinheiro render’ acaba sendo um grande motivador para continuar investindo e aprimorar sua estratégia”, ressalta a educadora Alves.