Títulos curtos rendem mais hoje, mas trazem incerteza no reinvestimento. Os longos pagam menos, porém garantem taxa por mais tempo. Foto: AdobeStock
As taxas de juros do título Tesouro IPCA + 2029 ultrapassaram a faixa dos 8% de juros acima da inflação esta semana, maior pico do ano. À primeira vista parece um retorno tentador, considerando que este é um dos ativos mais seguros do mercado. Mas essa taxa de retorno real elevadíssima esconde o chamado risco de reinvestimento.
Para os investidores mais experientes, títulos mais longos – e com taxas menores – podem trazer melhor rentabilidade. ““Em renda fixa, o tempo pode ser mais valioso que a taxa”, resume o gestor da Avantgarde Asset Management, Felipe Pontes.
O chamado risco de reinvestimento ocorre no vencimento do título com vencimento mais curto. Se as taxas de juros estiverem mais baixas no momento do resgate, o investidor terá de continuar a aplicar em outro papel com um retorno menor. “Uma NTN-B (Tesouro IPCA +) com vencimento em 2029 paga hoje IPCA + 8%, o que parece excelente. Mas, ao vencer, o investidor terá que aplicar novamente o dinheiro. E se, até lá, a taxa cair para IPCA + 4%? O ganho futuro despenca”, explica Felipe Pontes.
Para ele, um título curto significa retorno alto agora, mas reinvestimento incerto, enquanto um papel mais longo oferece taxa menor, porém ainda muito elevada, e garantida por muito mais tempo. Na tarde desta quarta (15), Tesouro IPCA + 2029 estava pagando 8,06% de juro real, contra 7,38% do IPCA + 2040 e 7,11% do título que vence em 2050. “Isso é pouquíssimo falado, o pessoal gosta de falar apenas das taxas altas.”
O repique das taxas desta semana refletiu a aversão ao risco após novas sanções da China a empresas dos EUA. “O estresse aumentou após o anúncio de novas tarifas dos EUA contra a China, reavivando a guerra comercial e trazendo mais volatilidade para emergentes”, comenta José Áureo Viana, sócio da Blue3 Investimentos.
“Esse foi um aumento do prêmio de risco exigido pelo mercado diante das incertezas fiscais, da dinâmica da dívida pública e do cenário global de juros elevados”, completa Hulisses Dias, mestre em finanças pela Universidade de Sorbonne.
Quando o prazo entra na conta
No mundo das finanças, no entanto, nada é escrito em pedra. O objetivo financeiro do investidor também faz parte da equação. Caso já haja um plano para o valor e a intenção seja resgatar a grana naquele período do vencimento, para a compra de um carro, de uma casa, pagar a faculdade ou resgatar uma aposentadoria parcial, a atual taxa do IPCA + garante proteção contra a inflação e ainda proporciona um belo retorno.
“O investidor sabe exatamente quanto vai receber em poder de compra ao final do período. Essa estratégia pode ser muito eficiente para quem tem um objetivo”, considera Felipe Pontes, salientando que essa tática só faz sentido para quem vai levar o título até o vencimento – caso contrário, há o risco de marcação a mercado. Ou seja, o investidor pode resgatar com perdas se o cenário de juros estive melhor.
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A marcação a mercado, aliás, é o que está por trás da estratégia de longo prazo de Pontes. “Quando optei por títulos longos, não foi para carregá-los até o vencimento, mas para aproveitar um movimento tático de queda nas taxas, o que pode gerar valorização no mercado secundário.”
Ao entrar agora em um IPCA+ 2050, o investidor trava uma taxa de acima de 7% real por mais de 25 anos e ainda pode lucrar com a valorização dos papeis antes, caso haja queda dos juros. Essa estratégia, no entanto, não é para todos. Exige tolerância ao risco e entendimento sobre o comportamento dos títulos longos. “Eles podem ser tão voláteis quanto ações”, adverte.
Levando o longo prazo até o final
O economista Enrico Gazola, sócio-fundador da Nero Consultoria acrescenta que títulos longos, mesmo pagando menos, “costumam ser mais eficientes para quem busca estabilidade patrimonial e proteção intergeracional”.
Na avaliação dele, “travar uma boa taxa real por décadas é uma forma de garantir previsibilidade financeira e proteger o poder de compra das próximas gerações, algo que vai além da simples rentabilidade imediata.”
Hulisses Dias reforça que os títulos longos não são exclusivos de quem aposta na queda dos juros. “Eles fazem sentido para quem tem horizonte compatível e entende que a marcação a mercado é apenas uma variação temporária”, diz.
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Para o investidor que busca essa exposição de forma mais simples, ele recomenda os ETFs que replicam índices do Tesouro IPCA+, como o IMAB11 ou o B5P211. “Esses fundos reinvestem automaticamente os cupons, oferecem diferimento tributário e ajudam a diversificar a carteira sem precisar escolher o momento exato de entrada.”