O atual prêmio dos títulos prefixados sobre o IPCA+ vale o risco? Foto: AdobeStock
Com o Tesouro Direto ainda pagando juros altos, o investidor conservador pode ficar na dúvida. Vale a pena se arriscar nos títulos prefixados ou é melhor ficar na segurança do Tesouro IPCA+, que protege o investimento contra a inflação com retornos reais acima de 7%?
Olhando para frente, essa segurança pode significar uma remuneração menor, com os títulos prefixados com vencimento de três anos pagando até 10% mais no período. A conta considera as atuais projeções de inflação.
Com os prefixados pagando perto de 14% ao ano, isso significa uma rentabilidade bruta de aproximadamente 48% ao final desse tempo. “Se essa diferença compensa, ou não, depende do perfil do investidor e da tolerância ao risco”, diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
Patzlaff explica que o Tesouro Prefixado está mais sujeito à volatilidade de mercado, especialmente em contextos de alta de juros, o que pode afetar quem precisa resgatar o dinheiro antes do vencimento. Se o investidor tiver certeza de que manterá o título até o vencimento, o risco de marcação a mercado é eliminado. “O prêmio pode compensar, mas apenas se o investidor tiver horizonte firme até 2028 e aceitar correr o risco fiscal e inflacionário do período”, diz.
Para Simone Albertoni, especialista em produtos de renda fixa da Ágora, os prefixados hoje oferecem uma oportunidade interessante de ganho, mas faz ressalvas. “Nas condições atuais, considerando as projeções de inflação, as taxas prefixadas podem sim oferecer maior rentabilidade. No entanto, é importante lembrar que o cenário pode mudar e concentrar-se apenas em pré representa um risco, pois não protege o poder de compra”, afirma.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, observa que, se for considerada a inflação projetada de 5%, um título que paga 14% dá um ganho real um pouco abaixo de 9%, um prêmio maior do que os 7,5% do IPCA +. “É um ganho real bem mais alto, mas esse prêmio vem a um custo: os riscos são mais elevados”, observa.
Num cenário de possível deterioração fiscal ou de aceleração da inflação, os prefixados tendem a sofrer mais que os títulos atrelados ao IPCA que possuem uma parte pós-fixada e se ajustam melhor às oscilações de preços. “O ideal é calibrar a carteira com ambos os indexadores, para aproveitar o momento oportuno de juros altos e também estar preparado para uma eventual alta da inflação”, reforça Albertoni da Ágora.
Juros altos refletem riscos
Braian Largura, sócio da VNT Investimentos, lembra que o atual cenário econômico de guerra tarifária no plano internacional e inflação local pressionada aumentam os riscos dos prefixados. Se a inflação persistir, o Banco Central será forçado a manter a Selic elevada por mais tempo. “Se isso acontecer, além da inflação corroer o ganho real, o investidor ainda pode ver o prefixado render menos que o próprio Tesouro Selic, o ativo considerado livre de risco”, afirma.
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Para um prazo mais curto, no entanto, o prefixado pode ser uma boa escolha.”Até porque, as taxas mais altas, como nós temos atualmente, refletem um cenário de riscos mais elevados”, observa Moreira da WMS Capital. Ele lembra que a inflação acima da meta (IPCA-15 foi de 5,49%) e eleições em 2026 são alguns dos fatores que contribuem para o juro maior.
Outro ponto positivo para o Tesouro Prefixado 2028 é a duration mais curta, ou seja, o tempo médio que o investidor leva para receber o retorno do título, ajustado ao valor presente. Esse papel que vence em menos de três anos tem menor volatilidade em relação aos títulos de vencimento mais longo, como os Prefixados 2032 e 2035. “Isso torna o título curto mais interessante para estratégias de ‘carregar até o vencimento”, diz Patzlaff.
IPCA + 2029, oportunidade rara
Em paralelo, os títulos do Tesouro IPCA + 2029 estão pagando juros reais muito acima da média histórica, inclusive acima de papéis de duration mais longa, como o IPCA + 2040 e 2050. Patzlaff lembra que taxas reais acima de 6% já são consideradas atrativas para formação de patrimônio no longo prazo. “Em vários momentos da história, quem alocou acima de IPCA+6% conseguiu performance superior ao CDI e com proteção efetiva contra a inflação”, comenta o sócio da VNT Investimentos.
Para o investidor conservador, que busca previsibilidade e quer preservar o poder de compra, o Tesouro IPCA+ 2029 é visto como uma excelente escolha. “Embora ele abra mão de um possível prêmio no prefixado, ganha em segurança e tranquilidade. Mesmo que a inflação suba, o rendimento real estará protegido, sem surpresas”, afirma o especialista.