Popular na Bolsa brasileira, o pagamento de dividendos ganhou impulso nos últimos três anos. E, mais importante, as companhias notaram que os investidores – que no passado procuravam apenas por altas remunerações – estão em busca agora de pagamentos que tenham regularidade, ao escolher ações de um empresa.
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Se antes pagamentos mensais e trimestrais eram feitos apenas por um grupo limitado de companhias, a maioria bancos ou holdings financeiras – ou seguradoras, que apostam em remunerações semestrais.
- Leia mais: Dividendos recorrentes? As empresas que se comprometem pagar acionistas com frequência em 2025
Hoje as empresas listadas na bolsa procuram atrair novos acionistas ao anunciar programa de dividendos recorrentes. É uma maneira de o investidor saber quando será remunerado, com os pagamentos ocorrendo, de preferência, de forma mensal ou trimestral.
Essa estratégia foi adotada por companhias de setores não tradicionais no pagamento de dividendos. Essas empresas começaram a realizar testes de remuneração mensal. Companhias como shoppings, construtoras e até mesmo de varejo, que não costumavam pagar dividendos, passaram a anunciar dividendos, com pagamentos pingando na conta de acionistas a cada mês. Esse é o caso de companhias como JHSF (JHSF3), Vulcabras (VULC3), Allos (ALOS3) e Mitre (MTRE3), entre outros.
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O ano de 2025 promete desafios para a economia – de juros altos a câmbio elevado, passando pelas incertezas fiscais do governo brasileiro e cenário externo também complexo -, o que vai dificultar a vida das companhias que pretendem pagar dividendos com frequência aos acionistas. O E-investidor conversou com executivos de algumas empresas para entender como isso será feito.
Quem quer pagar dividendos mensais
Vulcabras (VULC3)
A varejista de calçados esportivos Vulcabras (VULC3), dona das marcas Olympikus, Mizuno e Under Armour, começou a implementar o pagamento de dividendos mensais a partir de agosto de 2024. Na época, foi definido o pagamento mensal de R$ 0,125 por ação, equivalente a R$ 1,50 por ação anualmente.
Segundo o CFO da empresa, Wagner Dantas, esse aumento na frequência de pagamentos acabou posicionando a Vulcabras como uma das maiores pagadoras de dividendos da Bolsa em 2024. Até 27 de dezembro, a Vulcabras figurava como a 4° maior pagadora, com dividend yield de 15,64% no acumulado do ano.
Para 2025, Dantas garantiu ao E-investidor que os pagamentos mensais devem continuar ocorrendo até dezembro. Não foi, contudo, esclarecido o valor das distribuições. Até o momento, a Vulcabras já divulgou pagamentos de R$ 0,125 até o mês de abril de 2025.
Ele esclarece ainda que essa é uma prática de remuneração mensal e não uma política formal de dividendos. Desta forma, os pagamentos mensais serão reavaliados ano a ano, a depender do cenário econômico.
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Para Dantas, a decisão de pagar dividendos mensais em 2025 foi tomada com base na resiliência e solidez de geração de caixa da Vulcabras. “Estamos preparados para capturar novas tendências, fortalecer ainda mais nossa liderança e consolidar a relevância no setor esportivo brasileiro em 2025”, defende.
Allos (ALOS3)
A empresa de shoppings Allos, que surgiu da fusão entre Aliansce Sonae e brMalls, começou a implementar o pagamento de dividendos mensais em outubro de 2024, como parte de um compromisso de garantir transparência e mais recorrência no retorno aos acionistas.
Para 2025, a Allos pretende seguir com a prática de distribuição mensal de dividendos até dezembro, afirma Daniella Guanabara, Diretora Financeira e Relações com Investidores da companhia. Até o momento já há pagamentos agendados até março.
Embora a remuneração ocorra mensalmente, a cada trimestre o Conselho de Administração aprova os pagamentos dos três meses seguintes e divulga valores, datas de corte, para garantir o provento, e datas de pagamento. “Assim, o investidor pode se programar. Se quiser receber esse dividendo, ele já sabe qual será a data de corte. Isso ajuda, inclusive, na nossa liquidez, porque trazemos mais volume para o papel”, aponta Guanabara.
Como se trata de uma prática e não uma política de dividendos, a decisão de continuidade destes pagamentos mensais em 2026 ou nos próximos anos dependerá de uma avaliação periódica que leve em conta o caixa da Allos e a geração de valor aos acionistas.
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Para 2025, a empresa garante que tem condições de arcar com estes pagamentos mensais. A Allos colocou como meta pagar dividendos de pelo menos 50% do fluxo de caixa proveniente das operações (FFO), uma espécie de lucro do setor de shoppings.
Segundo Guanabara, a Allos teve crescimento de vendas, aumento de 32% no FFO e inadimplência baixa até o 3° trimestre, mostrando que os lojistas estão conseguindo honrar seus compromissos financeiros, reduzindo risco operacional e elevando a confiança no desempenho dos shoppings geridos pela empresa, com perspectivas de crescimento sustentável.
A Diretora Financeira destaca ainda o foco da Allos em gestão, curadorias de mix de lojas, retenção de clientes e escolha de shoppings em regiões estratégicas, o que contribui para ter uma base de locatários saudável e confiável. Além de garantir aos investidores previsibilidade de geração de caixa.
JHSF (JHSF3)
A incorporadora dos ricos e ultra-ricos começou a testar o pagamento de dividendos mensais em alguns períodos de 2023. Mas passou a adotar oficialmente essa remuneração mensal em 2024, quando publicou um cronograma com 12 parcelas de R$ 20,83 milhões, ou R$ 0,03 por papel, de forma que o investidor tivesse dividendos pingando na conta todo mês.
Para 2025, a JHSF anunciou no dia 20 de dezembro, em fato relevante, o pagamento de dividendos de R$ 62,500 milhões, em três parcelas de R$ 0,03 por ação até março de 2025. Mas não deu sinais se pretende manter o pagamento mensal até dezembro.
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A companhia foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações.
Mitre (MTRE3)
A incorporadora Mitre, voltada para o público de média e alta renda, começou a pagar dividendos mensalmente desde maio de 2024 e tem pagamentos agendados até março de 2025.
A remuneração mensal faz parte de uma prática, tendo em vista que não há menção à frequência de pagamento na sua política de dividendos.
Procurada para entender se os dividendos mensais se estendem até dezembro de 2025, a companhia não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.