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JHSF (JHSF3) virou um FII? Companhia atrai investidor com dividendo mensal

Analistas destacam oportunidades que podem auxiliar a "incorporadora dos ricos" a ter uma receita mais regular

JHSF (JHSF3) virou um FII? Companhia atrai investidor com dividendo mensal
Empreendimento da JHSF, o Boa Vista Village, em Porto Feliz, SP
  • A JHSF anunciou calendário de dividendos mensais para 2024
  • A estratégia da JHSF é ousada para uma companhia do seu setor, cujas receitas costumam ser mais voláteis e dependem de ciclos
  • Para ficar menos dependente da receita de incorporação, a JHSF começou a diversificar seu negócio

Conhecida como a incorporadora dos ricos e dos ultra-ricos, a JHSF (JHSF3) chamou a atenção dos investidores recentemente ao anunciar um calendário de dividendos mensais para 2024. A façanha de remunerar os acionistas todo mês até então era restrita apenas a bancos, como Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) e Banestes (BEES4). Mas como uma empresa do segmento de construção pode adotar a mesma estratégia dada a ciclicidade do setor?

Desde o ano passado, a companhia tenta fazer distribuições constantes. Nos 12 meses anteriores, pagou dividendos em 9. A estratégia de dividir os recursos mês a mês, ao invés de fazer um único pagamento, foi planejada pela companhia para fisgar a atenção do investidor pessoa física, avaliam analistas. Veja nesta reportagem a recomendação da JHSF para uma estratégia de dividendos

Se observado 2024 – a companhia já divulgou o calendário de pagamentos do ano –, a JHSF poderia distribuir R$ 250 milhões em dividendos, ou R$ 0,37 por ação, de uma única vez. Mas preferiu pagar 12 parcelas de R$ 20,83 milhões, ou R$ 0,03 por papel, de forma que o investidor tivesse dividendos pingando na conta todo mês.

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“Isso chama a atenção do investidor pessoa física, o público que a JHSF quer aumentar na sua base de acionistas. Pagamentos mensais atrai quem gosta de renda passiva”, afirma Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos. Segundo ele, a medida pode ser também uma forma de aumentar a liquidez das ações JHSF3. Atualmente, a companhia reúne 112.342 investidores pessoa física na sua base acionária.

De certa forma, a estratégia está funcionando. “Já teve assinante falando que a JHSF virou FII (fundo de investimentos imobiliários)”, brinca Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research. O trocadilho faz referência aos fundos imobiliários, que também pagam dividendos todo mês, fruto de receitas advindas de imóveis.

Embora o plano seja interessante e esteja agradando investidores, a estratégia da JHSF é ousada para uma companhia do seu setor, cujas receitas costumam ser mais voláteis e dependem de ciclos. “Ao captar na sua base acionária investidores que possuem como estratégia o recebimento de dividendos, o corte brusco destas distribuições poderia afastar estes acionistas da empresa”, observa Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC.

Desta forma, a JHSF precisará fazer um esforço para manter o pagamento de dividendos de forma recorrente nos próximos anos, mesmo quando o ciclo do setor imobiliário estiver ruim. Mas a maneira como a companhia gera lucro permitiria ter essa constância nas remunerações?

O E-investidor conversou com alguns analistas que acompanham a ação e conta a seguir:

Uma empresa cíclica que quer virar perene

Nigri explica que a companhia tem várias frentes de negócios, sendo a que gera mais valor até o momento é a área de incorporação – em que a JHSF vende loteamentos e imóveis prontos. O público-alvo é de alta renda. E justamente por envolver um público exigente há algumas desvantagens. Assim, a companhia faz poucos lançamentos e depende do sucesso das vendas destes projetos para gerar receita e caixa.

O analista da Dica de Hoje Research comenta que se um lançamento não tem boas vendas, a JHSF fica com ele parado, consumindo caixa até encontrar um ciclo em que as comercializações das unidades aconteçam. “Quando a JHSF lançou a Fazenda Boa Vista em 2007, ficou 6 ou 7 anos sem vender. E retomou apenas em 2018”, lembra Nigri.

Por ser uma marca para o público de alta renda, ele aponta que a imagem da JSHF diante do seu consumidor se torna muito relevante para a empresa. “Se não vender bem, a companhia não vai diminuir o preço para vender mais em detrimento dessa imagem”, aponta o analista.

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O conflito de ter boa parte da receita atrelada à incorporação já custou o lucro e os proventos da JHSF no passado. Levantamento de Einar Rivero, diretor da Elos Ayta Consultoria, mostra que de 2015 a 2018, a companhia não pagou nenhum dividendo, justamente por estar passando por um ciclo ruim.

Veja abaixo os pagamentos de proventos e o dividend yield (rendimento de dividendos) da JHSF ao longo dos últimos anos:

Ano Dividend yield Dividendo por ação
2010 4,88% R$ 0,183
2011 6,70% R$ 0,235
2012 3,41% R$ 0,187
2013 2,15% R$ 0,186
2014 1,36% R$ 0,058
2015 0% R$ 0
2016 0% R$ 0
2017 0% R$ 0
2018 0% R$ 0
2019 10,39% R$ 0,20
2020 2,05% R$ 0,146
2021 5,04% R$ 0,394
2022 3,74% R$ 0,209
2023 8,99% R$ 0,451

Fonte: levantamento Einar Rivero, Elos Ayta Consultoria

Dados até 03/01/24

Dividend yield= retorno em dividendos

Diversificar para ter equilíbrio

Oscilar entre ciclos bons e ruins é uma característica de quase todas as empresas do segmento de construção e incorporação, observam os analistas. Foi por esse motivo e para ficar menos dependente da receita de incorporação que a JHSF começou a diversificar seu negócio.

Além de imóveis e loteamentos, atualmente ela tem shoppings de alto padrão, como o Cidade Jardim e o Catarina Fashion Outlet. A empresa também possui hotéis e restaurantes da marca Fasano. Projetos como a Fazenda Boa Vista e até um aeroporto internacional, o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo, integram o portfólio.

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“Eles não querem apenas criar casas para ricos, buscam criar uma experiência para o público de alta renda”, observa Reis, da DVInvest. Segundo o analista, quando a JHSF lança um condomínio, geralmente atrela ao projeto outras experiências, como um restaurante Fasano, um shopping, um campo de golf ou um aeroporto. “Eles fazem isso porque estes negócios possuem uma receita recorrente, ajudando a tirar a volatilidade dos resultados”, defende Reis.

Para Nigri, a estratégia da diversificação da JHSF funciona como uma tentativa de transformar uma empresa cíclica em perene. Mas a transformação não ocorre do dia para a noite. “A receita está ficando mais previsível, mas é um processo que deve ocorrer até 2030”, pontua.

Segundo o analista da Dica de Hoje Research, a JHSF quer deixar a incorporação com cerca de 40% das receitas, enquanto os 60% restantes são supridos pelas outras linhas de negócio, mais perenes. No entanto, pela fotografia atual da companhia, Nigri explica que ainda se trata de uma empresa cíclica.

Procurada pelo E-Investidor, a JHSF comentou que a decisão de pagar dividendos mensais foi feita levando em conta o perfil dos investidores da empresa.

“Esse é o segundo ano em que a companhia optou por pagar os dividendos de forma mensal, assim como fazem algumas outras empresas no mercado brasileiro. Tendo em vista o perfil de acionistas que temos na companhia, acreditamos que essa forma de pagamento é interessante e nossos negócios foram organizados para tal.”, afirma Mara Boaventura Dias, diretora de Relações com Investidores da JHSF.

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