Até poucos anos, eram poucas as empresas da Bolsa que anunciavam pagamentos mensais e trimestrais ao acionistas. Somente um grupo restrito de companhias, a maioria bancos ou holdings financeiras, conseguia entregar essa estratégia. Seguradoras até proporcionavam dividendos com alguma frequência, fazendo pagamentos semestrais. As empresas listadas na Bolsa acabaram notando, nos últimos anos, que a prática era uma boa maneira de fidelizar investidores. Oferecer um programa de dividendos recorrentes favorece o investidor, que consegue saber quando será remunerado, com pagamentos mensais ou trimestrais.
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A Caixa Seguridade (CXSE3) exemplifica perfeitamente esta situação. Antes, a seguradora pagava dividendos semestralmente, em maio e novembro. Mas, a partir de maio de 2024, começou a pagar dividendos trimestralmente. O efeito foi o aumento de investidores.
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Os desafios de 2025 na economia vão colocar à prova as companhias que pretendem pagar dividendos recorrentes. O E-investidor conversou com algumas empresas. Foram levados em conta nessa lista apenas companhias que assumiram o compromisso de remunerações regulares desde 2023 e não as que já tinham com esta periodicidade no passado.
Caixa Seguridade (CXSE3)
Desde o 1° trimestre de 2024, a Caixa Seguridade avalia trimestralmente a situação do caixa da empresa e envia uma proposta de distribuição de dividendos ao Conselho de Administração, que faz a aprovação final dos pagamentos.
Segundo informado pela área de Relações com Investidores da seguradora ao E-investidor, a Caixa Seguridade pretende dar continuidade ao pagamento de dividendos trimestrais em 2025, seguindo a mesma dinâmica de 2024 -e desde que conte com a aprovação do seu conselho.
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No caso da Caixa, não se trata de apenas uma prática: na sua política de dividendos há um trecho que contempla que a companhia poderá levantar balanços trimestrais ou semestrais, podendo declarar mediante reserva de lucros existentes dividendos intermediários ou intercalares.
A Caixa Seguridade manifestou ainda que pretende continuar praticando o mesmo payout (parcela do lucro destinada a proventos) de 90% em 2025. Alegou que a robustez da estrutura de capital das participações em outras empresas, assim como o fluxo de corretagem, favorece essa distribuição elevada.
“O cenário de juros elevados favorece a elevação do resultado financeiro da Caixa Seguridade, e o efeito estoque de nossa carteira permite a sustentabilidade dos nossos resultados, de modo que a distribuição trimestral de dividendos se torna possível”, afirmou a empresa.
Banco do Brasil (BBAS3)
Desde o ano de 2023, sempre nos meses de janeiro ou fevereiro, o Banco do Brasil (BBAS3) adotou como prática divulgar um fato relevante, contendo um calendário anual com oito fluxos de pagamento de dividendos, sendo quatro pagamentos antecipados e quatro complementares.
Além de divulgar as datas de anúncio, data de corte para garantir o provento, data ex (sem direito ao dividendo) e data de pagamento, o banco estatal anunciava também o payout (parcela do lucro destinada a proventos) com o qual trabalharia naquele ano. Não eram divulgados apenas os valores dos dividendos, que viriam a ser anunciados periodicamente no decorrer do ano.
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Procurado pelo E-investidor, o Banco do Brasil apontou que o fluxo de oito pagamentos em 2025, assim como o percentual de payout, datas de corte e pagamento e a modalidade dos proventos (dividendos ou juros sobre capital próprio), serão deliberados em reunião do Conselho de Administração no começo do ano.
- Saiba mais: Banco do Brasil (BBAS3): após a queda de 6,5% em 2024, como ficam ações e dividendos neste ano?
A companhia também manifestou que, como feito nos últimos anos, divulgará após essa reunião um fato relevante contendo o cronograma de pagamentos e informações relacionadas. Mas não quis revelar ao E-investidor qual seria a data de divulgação deste fato relevante.
O Banco do Brasil comentou ainda que está focado na entrega consistente de resultados em 2025. E que busca que estes resultados sejam sustentáveis e condizentes com a relevância do banco para o mercado e o país.
A alternativa de deliberar o pagamento de dividendos intermediários cada ano faz parte da Política de remuneração aos acionistas do Banco do Brasil. A análise de cada ciclo levam em conta perspectivas de resultados futuros, condição financeira, necessidade de caixa, metas e projeções de capital e cenário dos mercados de atuação.
Taurus (TASA4)
O que permitiu que a fabricante de armas Taurus pagasse dividendos trimestrais em 2023 foi a criação de uma reserva estatutária de R$ 304,7 milhões, assim como alteração do Estatuto Social.
Contudo, essa é uma prática de remuneração e não uma política definitiva. O Conselho de Administração é quem observa as condições de caixa da companhia e decide se naquele ano os dividendos serão pagos em parcela única ou trimestralmente.
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Sergio Sgrillo, CFO e diretor de Relações com Investidores da Taurus, destaca que a remuneração mínima que consta no estatuto da Taurus é de 35% do lucro líquido ajustado. Ou seja, caso haja pagamentos trimestrais estes seriam uma antecipação do dividendo do exercício em curso, sem necessidade de alterar o total pago.
Em 2024, a companhia pagou dividendos apenas uma vez ao ano, em função do cenário econômico desafiador e as enchentes em Rio Grande do Sul, que chegaram a paralisar as atividades.
Para 2025, Sgrillo apontou que apenas está garantido o payout de 35% do lucro líquido ajustado da empresa, mas ainda não é possível saber se o pagamento de dividendos da Taurus será trimestral ou uma vez ao ano, porque depende da decisão do Conselho.
“A Taurus dentro do seu orçamento já se preparou para viabilizar o pagamento de dividendos em 2025, mesmo diante de um cenário adverso. Temos o recurso em caixa”, afirmou o CFO. Olhando para o balanço no 3° trimestre de 2024, a Taurus contava até setembro com R$ 32,957 milhões em caixa e R$ 1,197 bilhão em reserva de capital.
M.Dias Branco (MDIA3)
A fabricante de alimentos M. Dias Branco começou a pagar dividendos trimestrais em 2022 e continuou com essa política nos anos seguintes, alterando apenas o valor por ação e o payout (parcela do lucro) a ser distribuído.
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Segundo Fábio Cefaly, diretor executivo de Relações com Investidores e Novos Negócios da M. Dias Branco, atualmente a companhia tem como política pagar 80% do lucro líquido distribuível em proventos.
São 5 pagamentos por ano, sendo 4 fixos e um variável. A distribuição é trimestral, com antecipações de R$ 0,06 por ação.
Para 2025, a continuidade dessa política está condicionada a aprovação durante assembleia de acionistas. “As decisões sobre distribuição, assim como outras iniciativas da companhia, buscam extrair valor do nosso direcionamento estratégico, pautado pelo crescimento com rentabilidade”, diz Cefaly.
Aura Minerals (AURA33)
A mineradora de ouro Aura Minerals (AURA33) anunciou em novembro de 2024 uma nova política de dividendos, que visa o pagamento trimestral. A expectativa é de anunciar dividendos sempre nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro, após a divulgação dos balanços trimestrais.
Segundo Kleber Cardoso, CFO da companhia, os pagamentos devem ocorrer logo em seguida aos anúncios, podendo coincidir nos mesmos meses.
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Além do pagamento trimestral, a companhia pretende distribuir pelo menos 20% do seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em dividendos, descontando os investimentos em manutenção e exploração.
Com essa política, a Aura Minerals quer retornar capital aos atuais investidores de forma mais frequente. Há expectativa de aumentar a liquidez de negociação dos BDRs (recibos de ações) com os quais a empresa é listada na bolsa brasileira.
Cardoso defende que a Aura está preparada para garantir os dividendos trimestrais em 2025, porque possui um endividamento muito baixo, de apenas 0,6 vezes a relação dívida líquida sobre Ebitda.
O CFO destaca que a geração de caixa e Ebitda bateram recorde histórico até setembro. Além disso, em 2025, o novo projeto Borborema – que está em construção e fica em Currais Novos, Minas Gerais – deve entrar em operação no primeiro semestre contribuindo com os ganhos da empresa. “Borborema, aliado a um cenário favorável ao preço do ouro e o dólar (porque somos exportadores), vai acelerar a geração de caixa da Aura em 2025”, afirma Cardoso.
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Ele também cita que a dívida da companhia é dolarizada e os custos são prefixados – portanto a empresa tende a sofrer menos com juros altos. “80% do nosso endividamento vencem no longo prazo”, reforça.
Log (LOGG3)
A Log, que trabalha com desenvolvimento e comercialização de galpões logísticos, anunciou no começo de dezembro que pretende adotar uma prática de dividendos trimestrais em 2025. A empresa também estabeleceu que vai distribuir 50% do lucro líquido anual aos acionistas no próximo ano.
André Vitória, CFO da Log, explicou ao E-investidor que a prática de remuneração será reavaliada anualmente. A empresa não quis se comprometer de cara com uma nova política de dividendos porque prefere enxergar como o caixa da empresa vai se comportar diante de um cenário econômico adverso. Mas não descarta repetir o formato em 2026 ou anos futuros.
Os anúncios das distribuições devem ocorrer após os balanços trimestrais, entre os meses de abril ou começo de maio para o primeiro dividendo da Log, em julho ou começo de agosto para o segundo provento e outubro ou começo de novembro para o terceiro valor. A distância entre o anúncio e o respectivo pagamento do dividendo será “questão de dias”, explica Vitória.
O CFO também afirmou que o valor dos dividendos a serem distribuídos em 2025 será maior do que o registrado em 2024, quando a empresa chegou a pagar R$ 2,41 por ação.
Entre as projeções da empresa está alcançar um lucro líquido entre R$ 350 milhões e R$ 450 milhões para 2025.
Vitória destaca que a escolha de pagar dividendos trimestrais foi para privilegiar a base atual de investidores da companhia. Há ainda a expectativa de melhorar a liquidez de negociação dos papéis e diminuir o desconto atual das ações. Em relação a liquidez ele explica que esta praticamente dobrou nas últimas três semanas.
A Log diz que o cenário de juros elevados para 2025 é de cautela: o CFO garante que a companhia se preparou para chegar à fase de pagar dividendos trimestrais. Além disso, lembra que o Brasil possui baixa infraestrutura logística e que há muitas empresas boas operando em galpões de má qualidade, o que representa uma oportunidade de crescimento para Log.
Segundo Vitória, muitas pessoas ou empresas que operam atualmente em galpões de baixa qualidade vão acabar migrando para os galpões da Log em busca de melhorias. A Log diz que conta ainda com boa capacidade de diversificação regional e de clientes.
Outra vantagem que favorece a geração de caixa, segundo Vitória, é que a maioria dos galpões já estão pré-locados durante a fase de construção. “Atualmente, 70% dos espaços que vamos lançar, no primeiro semestre de 2025, já estão ocupados”, comenta.
Para o CFO da Log, 2025 representa um marco importante para a companhia conseguir se posicionar no mercado como uma boa pagadora de dividendos.
Eletrobras (ELET3; ELET5; ELET6)
No dia 19 de dezembro, a empresa elétrica Eletrobras anunciou por meio de fato relevante que iniciou um estudo de metodologia de alocação e estrutura de capital que tem por objetivo avaliar um possível pagamento de proventos intercalares de forma trimestral. O mercado espera que isso possa ser implementado em 2025.
Procurada para dar mais detalhes desta remuneração trimestral de dividendos, a Eletrobras optou por não se manifestar.