- Pelo segundo encontro seguido, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano
- Um patamar de juros alto que leva muita gente para a renda fixa, mas que não precisa significar um adeus aos investimentos em bolsa
- As melhores opções são bancos, seguradoras e empresas de commodities; uma preferência dos especialistas por valor ante crescimento enquanto os juros continuarem altos
A penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, realizada nesta quarta-feira (26), não trouxe surpresas para o investidor. Pelo segundo encontro seguido, a taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano. O patamar de juros ainda alto tem criado um movimento de miagração para a renda fixa, mas que não significa necessariamente um adeus aos investimentos em bolsa.
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As sinalizações do Banco Central indicam que este pode ser o fim do ciclo de alta dos juros iniciado em março de 2021. De lá para cá, o aperto monetário penalizou muitos papéis na B3, mas agora é possível vislumbrar o início de uma recuperação.
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“Apesar dos juros ainda estarem altos, o Brasil é um dos poucos países do mundo que chegou a uma pausa no ciclo de alta”, destaca Jennie Li, estrategista de Ações da XP. “Isso é muito bem visto por investidores estrangeiros e é um dos fatores que nos fazem acreditar que o País está bem posicionado se comparado com o resto do mundo.”
Para o investidor que quiser aproveitar o momento de destaque do Brasil para voltar para a bolsa de valores, alguns setores podem ser opções mais seguras até que o BC comece a reduzir a taxa; movimento que só deve ocorrer em meados de 2023. Veja a projeção.
As grandes beneficiadas da alta dos juros costumam ser as ações dos grandes bancos e as seguradoras, afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos. “Bancos, principalmente, por poder fazer empréstimo e cobrar spread mais alto. O mesmo com as seguradoras em que o dinheiro pago pelos clientes nos seguros rende em CDI”, explica.
Mas o momento também pode ser positivo para empresas de commodities, que além de descorrelacionadas com a economia doméstica estão surfando no alto nível de preço dos insumos no exterior. “Um exemplo é a Petrobras (PETR4), mas empresas mineradoras e ligadas à siderurgia também são totalmente descorrelacionadas de juros”, diz Cohen.
Tanto o setor financeiro quanto o de commodities são apostas já estão na mesa dos especialistas há algum tempo por se tratarem de alguns dos nomes mais sólidos dentre as empresas da B3. Em agosto, quando a Selic atingiu os 13,75%, mostramos nesta reportagem algumas destas recomendações: “Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e os principais bancos, como Bradesco (BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) são algumas das ações que estão pagando bons dividendos, mas que seguem com preços depreciados”, ressaltou à época Henrique Castiglione, sócio de diretor comercial da EWZ Capital.
Olhando além dos setores
Na hora de selecionar em quais ações alocar, o cenário atual também exige que o investidor preste atenção na saúde das empresas. Nesse contexto, a temporada de resultados do terceiro trimestre de 2022, iniciada na última semana, pode dar bons indicativos.
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“Os investidores devem ficar de olho, além do crescimento de receita e lucro, à margem das empresas, tentando entender quais estão conseguindo repassar os custos maiores adiante e navegar esse cenário mais difícil”, destaca Li, da XP.
Juros altos prejudicam o desempenho de companhias mais endividadas, aquelas que ainda estão financiando seu crescimento, como as techs. O mesmo ocorre com os papéis de empresas ligadas ao consumo, como as do setor de varejo, por terem uma forte correlação com o desempenho da economia.
Naquele famoso dilema entre valor e crescimento, a Selic em 13,75% acaba pesando para os investimentos em valor, diz Pedro Henrique Ricco, CEO da Delta Investor. “Empresas menos endividadas conseguem uma fluidez de caixa maior e acabam virando boas pagadoras de dividendos. O momento conturbado pede teses de valor”, afirma.
Outra boa forma de analisar se as ações dessas empresas de valor estão atrativas no momento é por meio do múltiplo P/L, ou preço sobre lucro. Um indicador formado pela relação entre o preço de uma ação dividido pelo lucro desse ativo. “A bolsa brasileira sempre gravitou ali em torno de 10, 12 vezes P/L, mas hoje esse múltiplo está em torno de 7 a 8 vezes. Nesse sentido, a bolsa está barata mesmo aos redores 110, 115 mil pontos”, diz Ricco.