- Valorização do petróleo deixa o transporte mais caro e, portanto, qualquer atividade econômica que necessite de movimentação de pessoas ou cargas
- Guerras, como a do Iraque, e instabilidade política em importantes países produtores, como Venezuela e Irã, também têm um impacto direto na cotação do petróleo
- Com a alta do valor da commodity, as ações de grandes petrolíferas, como Petrobras (PETR3, PETR4) e OGX Petróleo (OGXP3), seguem a tendência positiva
(Aléxis Cerqueira Góis, especial para o E-Investidor) – As ações da Petrobras preferenciais (PETR4) tiveram uma queda de 3,47% no último dia 17 de junho, acompanhando uma pequena interrupção do ciclo de três anos de alta do petróleo. O principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), o Ibovespa, seguiu o movimento e teve desvalorização de 0,93% no dia.
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O preço futuro do barril do Brent, que chegou a ser cotado a US$ 75, recuou para US$ 72 em menos de 24 horas, influenciado pela sinalização de um maior aperto monetário nos Estados Unidos, um dos principais consumidores do produto.
Situações inversas também podem ser observadas. No início do ano, em 5 de janeiro, o Ibovespa caminhava para o fechamento negativo. Entretanto, uma disparada de 5% no preço do petróleo Brent no final da tarde reverteu a tendência da bolsa de valores: as ações da Petrobras PETR4 subiram 4% e puxaram uma leve alta de 0,43%.
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Mas por que as oscilações na valorização do petróleo têm esse forte impacto na bolsa de valores?
A importância econômica do petróleo
O petróleo ainda é uma das principais matérias-primas negociadas no mundo. Os derivados do produto são as principais fontes de energia para o transporte, por exemplo. Dessa forma, uma valorização da commodity deixa o transporte mais caro e, portanto, qualquer atividade econômica que necessite de movimentação de pessoas ou cargas. Estima-se que o setor tenha movimentado 3,8% do PIB global, em 2019, o equivalente a US$ 3,26 trilhão.
Além disso, o petróleo é utilizado para produzir gás, óleos lubrificantes, produtos asfálticos e até plásticos. Assim, quando o preço do barril sobe, até as embalagens da maioria dos produtos utilizados cotidianamente ficam mais caras.
A commodity deve continuar se valorizando na próxima década. Isso porque é prevista uma lacuna entre oferta e demanda do produto entre 2025 e 2030, causada pela alta demanda do desenvolvimento dos países. Em 2040, porém, o petróleo deve perder o posto de principal matriz energética do mundo.
O que determina o preço do petróleo?
A cotação do barril do petróleo é estabelecida pelo mercado internacional em dólar. A oferta e a procura são os principais fatores que influenciam no preço do produto. Dessa forma, a disponibilidade de reservas espalhadas pelo mundo tem um impacto direto na valorização da commodity.
Quando novas áreas de exploração são descobertas, é normal que a cotação se estabilize ou recue. Por outro lado, quando uma reserva chega ao seu fim ou a extração é paralisada, espera-se que o mercado reaja antes que a economia sinta a escassez do produto, com uma alta de preços.
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Guerras, como a do Iraque, e instabilidade política em importantes países produtores, como Venezuela e Irã, também têm um impacto direto na cotação do petróleo, pois qualquer incerteza na extração dele faz os preços subirem repentinamente.
Fatores ambientais e catástrofes também podem influenciar na cotação do produto. Por exemplo, furacões no Golfo do México, importante região produtora dos Estados Unidos, podem alterar a rotina das plataformas.
As oscilações do consumo também têm impacto nos preços. Um inverno mais frio no Hemisfério Norte aumenta o consumo de combustíveis, que são utilizados no aquecimento de casas e estabelecimentos comerciais e industriais, e leva a uma valorização da commodity. Entretanto, crises econômicas e recessões afetam o consumo do petróleo e, consequentemente, derrubam o seu preço.
Além de todos estes fatores, existe um grupo que tem bastante influência sobre o preço do petróleo: os grandes países produtores, representados na maior parte pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Como a OPEP influencia no mercado de petróleo?
A OPEP é um bloco comercial, criado em 1960, com o objetivo de tentar regular e estabilizar as cotações de petróleo. O grupo, que conta com a participação de 15 países, entre eles Arábia Saudita, Iraque e Venezuela, realiza reuniões semanais para definir uma estratégia conjunta de aumento ou redução da produção.
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Apesar de não reunir todos os países produtores, o grupo consegue exercer uma pressão muito grande sobre o preço da commodity, pois representa aproximadamente um terço de toda a produção mundial e reúne os maiores exportadores do mundo.
Isso dá um grande poder de manipulação à OPEP na geopolítica mundial. Uma desvalorização do petróleo, por exemplo, traz problemas para economias exportadoras da matéria-prima, como o Brasil e a Venezuela. A situação, porém, favorece os importadores, como a China e os Estados Unidos.
Entretanto, as decisões da OPEP não são absolutas. Em 2020, o grupo decidiu reduzir a produção diária para provocar uma valorização do petróleo. Porém, o mundo ainda estava fortemente impactado pela pandemia e os preços da commodity caíram devido à redução de consumo do produto.
Como o preço do petróleo impacta nas bolsas de valores?
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O aumento no valor do barril de petróleo geralmente reduz a estimativa de crescimento econômico global e aumenta as expectativas de inflação. Isso diminui a projeção dos lucros das empresas, resultando em um efeito de recuo sobre os preços das ações. Com o petróleo mais barato, em termos gerais, o custo de produção e transação é minimizado, reduzindo a inflação e melhorando as margens de lucro das empresas.
Contudo, isso não ocorre de forma igual em todos os setores. Com a alta do valor da commodity, as ações de grandes petrolíferas, como Petrobras (PETR3, PETR4) e OGX Petróleo (OGXP3), seguem a tendência positiva. Por sua vez, as companhias de outros setores da economia podem ser prejudicadas, como as empresas aéreas, pois o petróleo tem relação com os custos de operações.
Fonte: Universidade de Brasília (UnB), Empresa de Pesquisa Energética (EPE).