- No primeiro semestre do ano, o ouro teve uma valorização de 53%, mais alta que a do dólar (35,86%) e do euro (35,83%) no Brasil
- Marcelo Boneri, gerente da mesa de Mercados Futuros, da Ágora Investimentos, explica que o cenário de juros baixos nos Estados Unidos e os fatores de acirramento geopolíticos impulsionam a procura pelo ouro
- O metal não traz retornos financeiros, mas sim ganho ou perda de valor, explica Mauro Calil, professor e fundador da Academia do Dinheiro
O ano de 2020 tem sido promissor nos negócios em ouro. O metal precioso vem renovando sua máxima histórica e a cotação da onça troy, unidade usada para sua comercialização, está próxima dos R$ 2 mil. Apesar dos holofotes, é preciso que os investidores tenham cautela antes de se expor ao ativo. Analistas lembram que as posições em períodos de alta devem ser bem estudadas para evitar que se caia em um possível efeito manada. Nesta quarta-feira (29), a onça-troy do ouro com entrega para agosto encerrou com ganho de 0,45%, a US$ 1.953,4 a onça-troy, novo recorde histórico de fechamento.
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No primeiro semestre do ano, o ouro foi o investimento com a melhor valorização no Brasil: 53%. O metal ficou acima do dólar (35,86%) e do euro (35,83%). Essa forte procura pelo metal permanece e acontece por um bom motivo: proteção. Em um ano de pandemia, acirramento político entre Estados Unidos e China, e juros baixos no mundo, os investidores buscam alternativas seguras para os seus recursos, como o ouro.
Com tamanha valorização, os investidores se questionam se é o melhor momento para investir no metal. Para isso, é preciso analisar o contexto. Marcelo Boneri, gerente da mesa de Mercados Futuros da Ágora Investimentos, explica que o cenário de juros baixos nos Estados Unidos e os fatores de acirramento geopolíticos impulsionam a demanda.
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“Essa alta da última semana foi muito pela mudança do Banco Central norte-americano, que está olhando mais para inflação e baixando a taxa de juros. Isso está refletindo positivamente no ouro”, afirma Boneri.
Para ele, é possível que o metal se valorize ainda mais. “Alguns bancos estrangeiros estão falando que a onça-troy lá fora pode atingir, em 12 meses, R$ 2,3 mil”, comenta.
Com a forte demanda, é normal que o preço se eleve, mas seria então uma boa hora de entrar neste segmento? Boneri recomenda que a entrada no metal seja escalonada, uma vez que períodos de alta podem significar períodos de baixa na sequência.
“Você pode entrar devagar no ativo. Se ele subir, você continua comprando, se cair, você puxa o seu valor médio mais para baixo”, aconselha o especialista da Ágora.
Além disso, para quem pensa em liquidez é preciso se atentar porque ela depende da estratégia que se escolhe. Em alguns casos, dependendo do volume de uma aplicação, por exemplo, em contratos futuros na bolsa ou mesmo as barras de ouro, pode-se levar algum tempo para que se consiga vender o metal. Os fundos passivos podem ser uma opção mais atrativa neste sentido.
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O ouro dá um bom retorno aos investidores?
O ouro é visto como um ativo estratégico para proteção dos recursos. Logo, é preciso tomar cuidado quanto às expectativas de rentabilidade. Na verdade, o metal não traz retornos financeiros, mas sim ganho ou perda de valor, explica Mauro Calil, professor e fundador da Academia do Dinheiro.
“Ouro, moeda estrangeira, qualquer tipo de ativo que não tenha uma atividade por trás, que sirva somente de lastro ou de reserva de valor, na verdade ele se valoriza ou desvaloriza”, esclarece Calil.
É a busca por segurança que torna o metal precioso muito procurado em períodos econômicos conturbados, assim como moedas estrangeiras consolidadas. Tanto é que Calil prefere definir o ouro mais como um comércio do que um investimento propriamente.
“Em tempos de crise, é natural os investidores saírem de ativos incertos para algo que você sabe que vai existir. Então, o ouro está dentro desta cesta, como o dólar e o euro, classicamente”, acrescenta o professor.
Qual a melhor opção para quem quer investir em ouro?
Os investidores brasileiros dispõem de alguns caminhos para se posicionar no metal amarelo. Rodrigo Marcatti, sócio-fundador da Veedha Investimentos, aconselha os fundos passivos e os Certificados de Operações Estruturadas, os COEs.
No caso dos fundos, as opções são variadas e de fácil acesso, com entrada a partir de R$ 100 e, caso queria sair da aplicação, o dinheiro é resgatado no sexto dia. É preciso se atentar à taxa de administração.
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Os fundos também podem ter exposição ao dólar. Neste caso, a escolha depende da carteira do investidor. Se ele já tiver investimentos atrelados à moeda norte-americana, talvez um fundo com hedge, ou seja, protegido da variação do câmbio, seja mais atrativo.
“Se você já tem recursos fora, outra posição em dólar na carteira, e não quer ter mais alocação no câmbio, então o fundo ‘hediado’ faz mais sentido porque você está comprando de fato a tese do ouro e não está apostando no câmbio”, explica Rodrigo.
Diversas tesourarias também oferecem produtos estruturados, os COEs. São considerados mais seguros, porém o tempo de exposição é maior, de três a cinco anos, normalmente. “Essas operações costumam te dar uma alavancagem. Quando sobem 10%, entregam 15%, 20%, dependendo da alavancagem do produto”, acrescenta Rodrigo.
Os investidores também podem recorrer aos contratos futuros negociados na bolsa, com base no peso do metal: 0,225 grama (OZ3D), 10 gramas (OZ2D) e 250 gramas (OZ1D). Essa opção, contudo, requer um nível de conhecimento maior, já que os contratos têm algumas complexidades. Apesar de se negociar apenas o contrato, o cliente paga também uma taxa de custódia do metal. Para evitar erros, a recomendável é buscar a assessoria de uma corretora.
“Eu sugiro os fundos porque são mais fáceis de fazer o aporte, a retirada, enxergar a valorização. Você sabe quanto custa e não vai ter surpresa. Tem um gestor profissional fazendo aquilo para você. E o contrato não é simples de entender. Não é para qualquer investidor”, frisa Rodrigo.
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