- As tensões entre Israel e o Irã, no Oriente Médio, escalaram, assim como entre a Ucrânia e Rússia; em ambos casos há países produtores de petróleo envolvido na disputa
- A possibilidade de ambas as guerras escalarem ainda mais, com a presença de outros países, deve alimentar a aversão ao risco no mercado financeiro global
- Disparada do petróleo também pode ser oportunidade para investidores mais propensos ao risco
O preço do barril de petróleo disparou 4,5% nas duas últimas semanas, um reflexo do aumento da tensão dos conflitos no Oriente Médio, com o Irã lançando ameaças de um possível ataque a Israel. Se uma guerra já fosse pouco, Ucrânia e Rússia também alimentam esse cenário. Mas o que isso pode influenciar os investidores e o bolso dos brasileiros?
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No Oriente Médio, o recente assassinato do político e líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em território iraniano, levou o país e seus aliados regionais no Líbano, no Iraque e no Iêmen a prometeram uma retaliação a Israel. Mesmo após países ocidentais como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha pedirem que o Irã volte atrás nas ameaças, um porta-voz do governo afirmou nesta terça (13) que o pedido “não tem lógica política”. “É totalmente contrário aos princípios e regras do direito internacional e constitui apoio a Israel”, disse Naser Kanani.
A escalada do preço do petróleo corre sob esse cenário, visto que o Irã é um dos principais produtores da commodity e é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Além disso, a região do Golfo Pérsico, onde esse conflito pode se deflagrar, é rota crucial para o transporte da matéria-prima. O ataque iraniano, no entanto, pode não acontecer se houver um cessar-fogo israelense contra Gaza, na Palestina.
- Mercado financeiro: quais setores são mais afetados nos cenários de guerras?
“É improvável que Israel aceite, o que pode levar a uma retomada do conflito em breve”, afirma Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus. Segundo ele, enquanto a hostilidade entre os países permanecer, as cotações do petróleo e do dólar devem oscilar, mas nada ainda que gere grandes impactos. “Se outros atores internacionais, como os EUA, se envolverem diretamente, então sim, poderemos observar um impacto mais substancial.”
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Vale lembrar que, no domingo (11), os EUA ordenaram o envio de um submarino para o Oriente Médio para defender Israel, caso de fato ocorra uma retaliação. Como o Estadão mostrou nesta reportagem, o anúncio foi visto como incomum e indica a gravidade da crise, já que o Pentágono não costuma informar os movimentos de submarino. Por outro lado, a China declarou apoio ao Irã.
Enquanto isso, a guerra entre Rússia e Ucrânia, que se estende desde 2022, ganhou novos capítulos nas últimas semanas. O exército de Kiev avançou sobre o território russo de Kursk desde 6 de agosto e forneceu mais fagulha para tensão geopolítica mundial. Na terça-feira (13), o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que autoridades americanas estavam em contato constante com os ucranianos sobre a incursão, embora a Casa Branca tenha dito que Washington não havia recebido aviso prévio e não estava ciente da ação.
Como ganhar dinheiro com a alta do petróleo?
A guerra entre Israel e o Hamas, juntamente com o conflito na Ucrânia e a deterioração das relações entre os EUA e a China, estão provocando uma volatilidade elevada nos mercados. Ainda assim, Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice e colunista do E-Investidor, aponta que é possível para o investidor ter rentabilidade diante desse cenário incerto. Segundo ele, empresas que produzem equipamentos militares ou prestam serviços relacionados à defesa frequentemente veem um aumento no valor de suas ações durante os períodos de guerra. “E tendem a se beneficiar da maior demanda por seus produtos. A AeroVironment (AVAV), por exemplo, viu suas ações crescerem quase 30% recentemente”, diz.
Aos investidores mais conservadores, Volnei Eyng, CEO da Multiplike, aponta os ativos de proteção contra inflação, como títulos indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e investimentos em setores menos vulneráveis à volatilidade global. “Nesse caso, os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) multicedentes e multissacados são opções bem atrativas que pulverizam os ativos em diferentes setores, pagando um bom prêmio”, afirma Eyng.
Enquanto isso, Paulo Martins, CEO da Anova Research, observa por meio de modelos de análise preditiva que o barril do petróleo deve subir ainda mais nos próximos meses. Essa pode ser uma oportunidade para investidores mais propensos ao risco. Segundo ele, o atual momento é de “ciclo de acumulação” por parte de grandes instituições financeiras do mercado global, que estão comprando contratos futuros de petróleo gradativamente. “Eles estão se antecipando a esse cenário ainda não-concebido nos próximos anos. Apostam que o petróleo vai disparar”, afirma.
Entre as suas indicações para quem deseja aproveitar a alta do petróleo para investir no setor, Martins destaca oportunidades em empresas estrangeiras com forte exposição ao dólar. Entre elas estão duas argentinas: a Vista Energy (VISTAA), que pode ser investida por meio de ADR em Nova York, e a YPF (Y2PF34), negociadas como BDRs no Brasil. “São duas petrolíferas que também estão em ciclo de acumulação e devem disparar em breve”, ressalta. Entre as listadas internamente, Martins indicou cenário parecido com a PetroRecôncavo (RECV3) e a 3R Petroleum (RRRP3).
Como a alta do petróleo afeta os investimentos e o bolso do brasileiro?
O século passado foi marcado por tensões geopolíticos que mexeram diretamente com o petróleo. Entre o final da década de 1950 até meados de 1970, Israel esteve envolvido em confrontos com países árabes, contrários à instalação do estado no então território da Palestina. Na Guerra do Yom Kippur (1973), a cotação do Brent disparou 400% em três meses, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
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A commodity continuou tendo a sua cotação impactada por conflitos seguintes, desde a Revolução Iraniana (1979), passando pelas Guerras Irã-Iraque (1980-1988) e do Golfo (1990), e sendo afetada até mesmo pelo ataque terrorista do 11 de setembro de 2001, em Nova York. Por outro lado, o petróleo apresentou uma queda expressiva com o início da pandemia da Covid-19, com forte recuperação justamente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia (fevereiro de 2022).
Acontece que os reflexos desses cenários não estão restritos às fronteiras das guerras. Baseado no que foi observado nos últimos anos, Eyng, da Multiplike, explica que a alta do preço do petróleo pode elevar os custos de energia e transporte, pressionando a inflação no Brasil. “Além disso, a volatilidade nos mercados financeiros globais pode resultar em fuga de capital de países emergentes, afetando negativamente o real e aumentando o custo do crédito”, diz.
Eyng aponta que a aversão ao risco entre os investidores internacionais vai levar a uma fuga de capitais das Bolsas de Valores emergentes para ativos considerados mais seguros, como o dólar americano e títulos do Tesouro dos EUA (treasuries). Segundo ele, o Brasil pode enfrentar desafios diante dessas guerras ao tentar equilibrar suas relações com grandes potências envolvidas no conflito. “É importante que o presidente [Lula] tenha cautela e sabedoria ao se manifestar sobre o assunto. Para investidores, o cenário exige cautela”, afirma.
Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, a escalada das guerras (seja no Oriente Médio ou no Leste Europeu) pode desvalorizar ainda mais o real, além de impactar negativamente o Ibovespa e aumentar a pressão sobre a inflação interna. No pior dos cenários, isso poderia forçar o Banco Central a manter ou até elevar a taxa básica de juros (Selic) para conter os efeitos inflacionários.