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Aura Minerals: O ouro está imune a qualquer crise no Brasil

Rodrigo Barbosa fala sobre o atual momento de incertezas e as perspectivas para o metal precioso

Aura Minerals: O ouro está imune a qualquer crise no Brasil
Rodrigo Barbosa, CEO da Aura Minerals / Crédito: Aura Minerals
  • Com o IPO no Brasil em 2019, a empresa se tornou a primeira fabricante de ouro na bolsa brasileira. Com valor de mercado de R$ 3,9 bilhões, a Aura levantou R$ 790,1 milhões com o BDR precificado a R$ 820
  • No segundo trimestre deste ano, a companhia reportou lucro líquido de US$ 21 milhões, crescimento 7 vezes maior ao do mesmo período do ano passado, de US$ 3,9 milhões
  • Com as instabilidades ainda crescentes no mundo pelo avanço da variante Delta e com as incertezas políticas locais, o ouro continua a ganhar atratividade dos investidores
  • “Quando o mundo vai mal, o ouro vai bem. Hoje, o investidor corre para a Bolsa e não tem alternativas. A Aura é essa alternativa porque tem 80% das receitas em ouro e é dolarizada, ou seja, é o anticíclico de verdade, sendo a primeira vez que isso é levado ao mercado de capitais no Brasil”, diz o CEO

Quando o executivo Rodrigo Barbosa assumiu o cargo de CEO da Aura Minerals (AURA33), em 2017, o seu principal compromisso era reestruturar a mineradora de ouro e cobre fundada no Canadá em 1946. Ex-CFO da holding de investimentos do Grupo Camargo Corrêa e ex-CEO da Tavex/Santista, Barbosa não carregava nenhuma experiência em mineração. No entanto, seu conhecimento em turnaround (recuperação de empresas, na expressão em inglês) era o que interessava aos acionistas da companhia naquele momento.

A Aura Minerals foi listada na bolsa de Toronto (Toronto Stock Exchange) em 2006. Dois anos depois, começou a ver sua produção e margens de lucro afundarem devido aos efeitos da crise de 2008 e altos investimentos no Projeto Serrote, mina de cobre à céu aberto localizada nas cidades de Craíbas e Arapiraca, em Alagoas. O esforço para concretizar o projeto levou a empresa a desfalcar suas demais operações e o desenvolvimento das minas. Em 2014, com a queda do preço do cobre e o aumento de custos da mina Aranzazu, no México, o valor da Aura na Bolsa depreciou, reduzido em cerca de US$ 30 milhões.

Entre 2014 e 2015, após a forte queda, o fundo de investimento brasileiro Northwestern Enterprises, do empresário e já sócio minoritário Paulo Carlos de Brito, aproveitou para comprar as ações da companhia. Em 2016, o fundo assumiu o controle e voltou a colocar a empresa no eixo de crescimento. Foram dois anos e meio de reestruturação até a dupla listagem: além do Canadá, a abertura de capital na Bolsa de Valores Brasileira veio em 2019.

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Com o re-IPO na B3, a Aura se tornou a primeira fabricante de ouro na bolsa brasileira. Com valor de mercado de R$ 3,9 bilhões, a companhia levantou R$ 790,1 milhões, com o BDR precificado a R$ 820.  Segundo o CEO, quem compra Aura na Bolsa, compra ouro. Hoje, 80% da receita da companhia é ouro e 20% cobre.

O cenário do ano passado, com a queda da taxa básica de juros no Brasil, fomentou bastante capital para a Bolsa e impulsionou a busca pelo ouro. Cotado a mais de US$ 2 mil por onça-troy, a procura beneficiou a estreia da Aura no Brasil. No segundo trimestre deste ano, a companhia reportou lucro líquido de US$ 21 milhões, crescimento sete vezes maior ao do mesmo período do ano passado, de US$ 3,9 milhões.

A expectativa da empresa é dobrar de tamanho e alcançar uma produção de ouro de 480 mil onças-troy até 2024. A empresa opera minas de ouro no Brasil, México e Estados Unidos. Até 2023, a projeção é lançar dois novos projetos em terras brasileiras – Almas e Matupá – e outro na Colômbia.

Com a instabilidades crescente no mundo pelo avanço da variante Delta, e com as incertezas políticas locais, o metal precioso continua no radar dos investidores. Os atritos políticos e os ataques de Jair Bolsonaro (sem partido) ao Poder Judiciário e ao Congresso Nacional também têm gerado bastante volatilidade no mercado. O desgaste institucional ficou ainda evidente após as manifestações lideradas pelo presidente no dia 7 setembro, pesando sobre o mercado de capitais.

Segundo Barbosa, quando o brasileiro está com medo de colapso, ele investe em papéis com receita dolarizada. Porém, essas empresas estão no ciclo do mundo e o investidor pode ganhar por uma eventual desvalorização cambial. Por outro lado, se o mundo parar, como está acontecendo com a covid-19, elas também terão uma redução nas suas ações.

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“Quando o mundo vai mal, o ouro vai bem. Hoje, o investidor corre para a Bolsa e não tem alternativas. Se tudo for mal, o que compor na minha carteira para não perder tanto? A Aura é essa alternativa porque tem 80% das receitas em ouro e é dolarizada, ou seja, é o anticíclico de verdade, sendo a primeira vez que isso é levado ao mercado de capitais no Brasil”, diz.

Confira os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – A Aura decidiu abrir capital no ano passado, se tornando a primeira fabricante de ouro na B3. Quais as motivações para fazer o IPO no Brasil?

Rodrigo Barbosa – Após a reestruturação da empresa, no final de 2019, já estávamos com os pilares de crescimento bastante sólidos. Foi nesse momento que decidimos que era a hora de recontar essa história para o mercado de capitais. No Brasil, tiveram algumas conjunções que motivaram nossa abertura na B3: primeiro a redução da taxa de juros no final de 2019 e começo de 2020, que movimentou bastante capital para a bolsa brasileira

Em segundo porque não existia na bolsa nenhuma empresa que funcionasse como um hedge de proteção, com ativo dolarizado e anticíclico para os investidores aportarem em momentos de turbulência e incertezas locais. Até então, quem quisesse aplicar fora do risco Brasil na B3, estava exposto a empresas dolarizadas, mas que acompanham os ciclos de desenvolvimento mundial.

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E-Investidor – A empresa é listada desde 2006 na bolsa de Toronto (Toronto Stock Exchange). Como anda o mercado por lá? Vocês consideraram outros mercados além do Brasil?

Rodrigo Barbosa – O mercado de Toronto mudou muito nos últimos anos, com mais atratividade para empresas de cannabis e fintechs. Percebemos que Toronto não tem mais uma liquidez alta para o setor de mineração, a exemplo da Nexa Resources, que abriu capital em Toronto em 2017.

Além do Brasil, também analisamos abertura em Nova York e Londres. Os dois são mercados altamente atrativos, mas a Aura não é uma empresa tão grande para disputar a atenção dos investidores nesses mercados.

E-Investidor – O Sr. acredita que o IPO da Aura pode abrir um caminho para que outras empresas do setor sejam atraídas pela B3?

Rodrigo Barbosa – Nosso IPO na B3 chamou atenção e outras empresas já nos procuram para entender esse movimento, tanto as companhias nacionais como as internacionais que estão olhando para o mercado brasileiro. Espero que a Aura tenha sido a primeira, mas não a única nessa iniciativa.

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E-Investidor – O mercado viveu um “boom” das commodites no ano passado, mas agora as projeções não são tão animadoras. Quais as perspectivas para as commodities, em especial o ouro, no pós-pandemia?

Rodrigo Barbosa – O ouro não acompanha as projeções das outras commodities porque ele não está relacionado ao crescimento ou oferta e demanda dos países, assim como acontece com o minério de ferro e o cobre, por exemplo. O ouro está vinculado às expectativas de juros, reais e nominais, e às instabilidades macroeconômicas e geopolíticas.

O que impulsiona o valor do ouro são dois fatores: a expectativa de taxas reais de juros futuro e as instabilidades geopolíticas. Embora estejamos em uma fase final da pandemia, com o avanço da vacinação, as consequências macroeconômicas ainda estão só no começo.

Tivemos, no último ano, emissão de moeda e injeção de capital sem precedentes nas economias para atenuar os efeitos da pandemia. Hoje a relação dívida pública/PIB dos Estados Unidos é uma das mais altas desde a 2ª Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que os democratas que possuem uma política mais expansionista e com menor rigor fiscal estão no poder. Ainda há muitas incertezas no mundo de como esses cenários vão ser resolvidos nos próximos anos.

E-Investidor – Como o cenário político que se desenhou no 7 de setembro pode afetar os mercados e o seu setor?

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Rodrigo Barbosa – Difícil prever os desdobramentos do que aconteceu na última semana. No entanto, o portfólio com ações de ouro atenua a volatilidade. A Aura é um ativo para ser considerado em momento de stress e alta volatilidade como esse, o aporte não está atrelado ao risco Brasil. Para os que estão inseguros com os desdobramentos e o futuro do Brasil daqui pra frente, considerar o investimento em ouro é bastante interessante. O ouro está imune à qualquer crise no Brasil.

E-Investidor – O Brasil vive um momento de inflação alta, Selic com projeções de 7% a 8% até o final ano e os juros de longo prazo na casa de dois dígitos. Sabemos que o ouro desempenha mal com juros altos, então como o Sr. avalia a atratividade do metal neste cenário?

Rodrigo Barbosa – O ouro é uma commoditie mundial e seu preço não está relacionado à economia brasileira. Por isso, a elevação da taxa de juros no Brasil não impacta o preço do metal ou o seu desempenho local. Pelo contrário, provoca os investidores a observarem que esse movimento de aumento da taxa de juros sinaliza uma redução da atividade econômica, afetando diversos setores. A Aura está imune à taxa de juros ou qualquer crise no Brasil. Neste cenário, a Aura é uma boa alternativa de investimento para o investidor que não quer correr o risco Brasil.

E-Investidor – O ouro é um ativo muito utilizado pelos investidores como forma de proteção. Quais as possibilidades que o investidor encontra na Aura?

Rodrigo Barbosa – Temos projetos de crescimento que vão nos colocar a mais de 400 mil onças-troy em 2024. Encerramos 2020 com 204 mil onças-troy e devemos fechar 2021 em torno de 260 mil a 290 mil onças-troy. Quem compra Aura, compra o ouro: 80% da nossa receita é ouro e 20% cobre. Hoje nós temos uma perspectiva de crescimento e balanço bastante robustos, o que nos possibilita pagar dividendos: esse ano pagamos mais de 8%.

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E-Investidor – Embora o ouro tenha essa característica defensiva, alguns analistas começam colocar as criptomoedas nessa posição. Existe motivo para preocupação nessa disputa?

Rodrigo Barbosa – De fato existe um grande crescimento das criptomoedas e é algo extraordinário, que vai se desenvolver e trilhar caminho de sucesso. Mas não existem dados suficientes e nenhuma estatística que mostre que elas tenham valor parecido com o ouro ou que reduza a volatilidade de um portfólio.

O ouro tende a ir bem quando mercado não está em um momento favorável, e é isso que traz estabilidade para a carteira. A criptomoeda, no entanto, tem mostrado o contrário. Existem grandes valorizações e desvalorizações, independentemente do cenário macroeconômico mundial. Ela é bastante especulativa e traz volatilidade para a carteira.

E-Investidor – Como atrair mais investidores pessoa física para que eles tenham maior exposição em ouro nas carteiras?

Rodrigo Barbosa – Estamos nos dedicando ao “investor education”, para demonstrar ao investidor a importância de ter ouro ou empresas produtoras de ouro na carteira para proteção e para garantir ganhos em momentos anticíclicos, de crise. É um hedge de proteção importante na diversificação das carteiras.

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