Investimentos

Gestores comparam renda fixa nos EUA e no Brasil. Qual eles escolhem?

Rendimento dos Treasuries americanos está no maior patamar desde 2011; mas há quem prefira a cautela

Gestores comparam renda fixa nos EUA e no Brasil. Qual eles escolhem?
Taxas de títulos americanos bateram patamares não vistos desde 2011. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
  • Na última semana, o rendimento dos títulos do Tesouro americano, as treasuries, de longo prazo bateu o maior patamar desde 2011
  • O alto retorno do investimento considerado por muitos o ativo mais seguro do mundo está, desde então, no centro das conversas de analistas, economistas e gestores sobre oportunidades de alocação
  • Conversamos com gestores e especialistas para entender se o momento é ou não uma oportunidade; e como o investidor pessoa física poderia aproveitá-lo

O mercado internacional iniciou 2023 esperando uma recessão nos Estados Unidos, um cenário que, se confirmado, poderia abrir espaço para o corte de juros por lá. Oito meses depois, as previsões não se concretizaram e a principal economia do mundo se mantém resiliente ao maior patamar de juros em 20 anos, com taxas básicas na faixa dos 5,5% ao ano.

Na última semana, o rendimento dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, de longo prazo bateu o maior patamar desde 2011. O alto retorno do investimento considerado por muitos o ativo mais seguro do mundo está, desde então, no centro das conversas de analistas, economistas e gestores sobre oportunidades de alocação.

Leia também: Como investir na renda fixa americana e aproveitar a alta de juros nos EUA

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

A abertura da curva de juros americana se deve principalmente a dois fatores. De um lado, a resiliência do mercado de trabalho do país somados a uma inflação que desacelera timidamente mostram que a economia dos EUA ainda não sentiu todo o impacto do aperto monetário iniciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em 2021.

“Acaba-se percebendo que será necessário uma taxa de juros maior e por mais tempo para fazer frente à desaceleração da atividade”, diz Damont Carvalho, gestor macro da Principal Claritas.

Um outro ponto que também contribuiu para a abertura dos prêmios de risco foi a decisão da agência de classificação de risco Fitch em rebaixar a nota da dívida dos EUA de “AAA” (melhor avaliação de crédito da escala) para “AA+” (qualidade de crédito muito alta). O “downgrade” é um sinal de como a maior economia do mundo também está enfrentando problemas fiscais.

No país, o déficit fiscal atingiu um patamar que não era visto a anos, obrigando o Tesouro Nacional a emitir mais dívidas para financiar a expansão. “Se há uma expansão na oferta de títulos, a curva de juros sobe mais”, explica Carvalho.

A volatilidade nas taxas de títulos americanos puxou para cima os juros em diversos outros países, incluindo no Brasil. Por alguns, o cenário é visto como uma oportunidade de surfar a rentabilidade na renda fixa que há muito não era vista nos EUA. Mas há também quem prefira maior cautela.

Publicidade

Leia também: Dólar: conheça 5 maneiras de investir na moeda segundo especialistas

Entre gestores, visões diferentes

A abertura da curva de juros americana fez a Principal Claritas voltar parte das atenções, que antes estavam bem mais focadas no mercado de renda fixa brasileiro, para a renda fixa dos EUA. O entendimento é que houve um aumento nos prêmios de risco, sobretudo nos títulos de 2 a 5 anos, com a elevação dos juros reais. “Agora, já começo a achar que vale a pena pensar em posições de juros aplicadas nos EUA”, diz Damont Carvalho, gestor macro da Principal Claritas.

Isso não significa, no entanto, que a gestora está abrindo mão de suas posições em Brasil. O movimento na curva de juros americana se juntou ao aumento marginal das incertezas fiscais no País, com a demora para a votação e aprovação do novo arcabouço, o que levou a uma recente abertura de taxas no mercado brasileiro – abrindo uma nova janela para montar posições.

“No Brasil, continuo a apostar em posições de juros real, principalmente de médio prazo, porque acredito que o prêmio de risco vai continuar diminuindo. Discussão de reforma tributária, a possibilidade de uma reforma administrativa, mais a China tentando estimular a economia, vejo como um ambiente favorável a países emergentes”, explica Carvalho.

A aposta do gestor não é na dicotomia – ou juros americanos ou juros brasileiros – mas, sim, em uma carteira que permita as duas exposições. “Aqui no Brasil, juro real de médio e longo prazo, e juro nominal querendo apostar nessa aceleração do ritmo de quedas da Selic. Lá fora, mais posições de médio prazo na curva de juros nominal”, destaca.

Enquanto uns veem como oportunidade, a abertura de curva nos EUA também pode ser entendida como um sinal de cautela. É isso que mantém Gustavo Menezes, gestor de macro da AZ Quest, com um pé atrás com as posições em juros americanos.

Menezes explica que ainda é cedo para dizer se a taxa de juros americanas já chegou ao ponto de inflexão, dado que o mercado de trabalho e a inflação do país seguem mostrando certa resiliência. Por causa disso, a AZ Quest mantém a exposição apenas aos juros de curto prazo – e, ao menos por hora, não tem intenção de aumentar as posições.

Publicidade

“Desde 2021, quando os EUA começaram a subir juros, as taxas não pararam de abrir. É preciso ter reunido bastante evidência para afirmar com convicção de que este é o ponto de inflexão dos juros. E até vemos evidências, mas não o suficiente para agir de maneira oportunista, preferimos a cautela”, explica o gestor da AZ Quest.

A preferência, portanto, ainda fica com o mercado de juros brasileiro, onde o aperto monetário já está avançado e o ciclo de cortes na Selic parece ter menos chances de ser interrompido. “A renda fixa brasileira ainda é um mercado com melhores perspectivas”, diz Menezes.

Para o investidor pessoa física

A opiniões se dividem também em relação ao investidor pessoa física. “Faz muito sentido surfar a onda de renda fixa nos EUA. Existem ótimos ativos com perfil de risco excelente que pagam acima de 8%”, diz Felipe Monteiro da Oriz US, braço offshore da Oriz Partners em Miami. “Estou falando em investimento em empresas high yield (pagadoras de rendimentos altos) que não significa crédito ruim, apenas não são investment grade (grau de investimento).”

Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG pondera que são outros os motivos que levam um cidadão a tomar a decisão de investir nos EUA. O principal seria fugir da volatilidade do Brasil.

Fenólio enxerga pouca vantagem pensar nos juros americanos, pois quando as taxas de lá se movimentam influenciam as daqui. “Quando os juros nos EUA abrem, dificilmente os do Brasil fecham”. Segundo ele, a diferença é pequena entre o nível de juro real (descontando inflação e impostos) entre o Brasil e os EUA, na casa dos 3 pontos porcentuais. No Brasil é 5% e nos EUA é 2%. Na pandemia a diferença foi maior”.

A expectativa é que os juros voltem a cair nos EUA, mas se mantenham ainda numa faixa elevada, com o mercado esperando cortes ao longo dos próximos 18 meses, mas mantendo-se numa faixa de 4,70% ao ano. Enquanto isso, o melhor dos juros no Brasil já ficaram para trás. “Quem prefixou a carteira terá um ganho melhor na queda”, diz Ronaldo Queiroz, sócio Prime Investimentos, empresa credenciada à XP Corretora.

Queiroz avalia como uma boa oportunidade para o investidor pessoa física pensar em aproveitar os juros americanos com produtos já conhecidos. “Brasileiro quer investir em coisas que ele conhece”, diz. Ele se refere a títulos considerados de primeira linha, a exemplo dos bonds emitidos pelo Banco Itaú, com taxas de 5% atreladas ao dolar.

Publicidade

O agente de investimentos pondera que as melhores taxas estão em títulos de países emergentes e suas empresas privadas. Por isso, emissões de empresas como Itaú (ITUB4), Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3; PETR4) aparecem como opções atraentes. “A alternativa é comprar título de empresa americana, que vai pagar menos”. Títulos públicos pagam na faixa de 4,5%.

O câmbio também abre a possibilidade de ganhos, no longo prazo. O dólar, moeda forte, tende a ganhar do real. “Em dez anos o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) em dólar gerou um rendimento acumulado de 13%”, diz Felipe Monteiro. “O mesmo investimento em Treasuries e empresas high grade teria gerado 28%.”

Caminhos para se chegar

Atualmente é mais fácil para o investidor brasileiro acessar o mercado americano. Empresas como a Oris, gestoras e corretoras a exemplo da Avenue e da XP e de bancos como C6 oferecem possibilidades de contas internacionais. A desvantagem nestes casos está no fato do cliente ficar atrelado ao câmbio das empresas.

Há a possibilidade de abrir contas em corretoras internacionais também. “Remessas via aplicativos, We Transfer, por exemplo, são mais baratas. Me parece um caminho sem volta, ter parte do patrimônio em moeda forte. É prudente e está cada vez mais fácil”, diz Leandro Petrokas, diretor de Research da Quantzed.

Existe uma extensa gama de produtos de renda fixa no mercado norte americano, desde títulos do governo até os bonds de empresas de primeira linha, com boa remuneração. É possível acessar ainda o mercado de fundos de índice (ETFs) tanto de renda fixa quanto de crédito privado.

As contas abertas pelos brasileiros são registradas como de não residente e os impostos são pagos sobre o ganho de capital quando o investidor traz o dinheiro para o Brasil. A alíquota de 15% também vale para ganhos cambiais.

Publicidade

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos